Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio 73 (24/11/2008)

Eu voltei

A Gazeta não é o Roberto Caurlos mas... voltou. O gazeteiro voltou a poder gazetear. Que delícia é poder gazetear, o leitor não imagina! Este gazeteiro passou quase a vida toda tentando gazetear. Talvez, desde os 16 anos, quando fazia o jornalzinho “A Fumaça”, no mimeógrafo do Diretório Estudantil (DE) do Colégio Estadual de BH. Durou três edições e o diretor do colégio o proibiu: avisou que se saísse a quarta ia tirar o mimeógrafo do DE. Isto foi em 1966. De lá, até o ano passado, quando descobriu o barato de publicar na Internet sem ter ninguém acima dele com poder para dizer “isso não pode”, viveu uma sequência interminável de frustrações editoriais gloriosas.

São tantas as maneiras pelas quais a censura se manifesta que o comum dos mortais acaba aceitando a “realidade” que lhes é imposta e escreve o que ela permite para poder publicar. Mas, nós, os deuses, somos diferentes. Só aceitamos publicar o que de fato acreditamos deva ser escrito, não importando se as pessoas vão ou não gostar do que escrevemos. O único que tem de gostar é o próprio autor (Deus) e ai de alguém se tentar mudar uma vírgula do que ele pôs no papel (ou digitou).

O leitor pode cair na armadilha da “realidade” censurada – que impõe serem os deuses os criadores dos homens - e pensar que o gazeteiro está se jactando, mas é o contrário. Este gazeteiro não sabe de nenhum homem que comprovadamente houvera sido criado por um Deus e conhece centenas de deuses que foram criados pelos homens, aliás, todos os deuses que até hoje chegaram ao seu conhecimento foram, sem sombra de dúvidas, criados por certos homens, sejam eles bem ou mal intencionados. Os deuses são, portanto, criação humana e, por isso, muito mal-criados. É o caso da Gazeta e, consequentemente, deste gazeteiro. Ou vice-versa.

Como ficou vinte dias fora-do-ar, os assuntos da Gazeta – que são aqueles que a mídia hegemônica não quer que a gente saiba – acumularam-se, e vamos ter de ir devagar e por partes.


Audiência pública “volta por cima”

Foi no dia 12 passado, quando a Assembléia Legislativa de Minas foi ocupada pela Escola de Samba Cidade Jardim, a campeã dos nosso carnavais que foi depejada pela prefeitura de BH, para uma audiência pública dedicada exclusivamente ao caso do despejo. Coisa rara de ser ver naquela “casa do povo”, foi o povo dando o seu recado nos microfones da egrégia assembléia, com direito a transmissão de TV pública. E o samba rolou também, possivelmente pela primeira vez naquele recinto, na voz afinada da sambista Dona Elisa. Da prefeitura, com medo das vaias certas que receberia, não foi ninguém, mas o secretário Murilo Valadares mandou uma carta dizendo que vai devolver o barracão para escola. Estamos de olho no senhor, dotô Murilo.


Amaxon em ponto de bala

“O cinema vem do teatro. O vídeo vem do rádio e da televisão.” Com tal postulado o cineasta José Sette abre sua última realização cinematográfica, Amaxon, cujo copião eletrônico nos mostrou há poucos dias. Além de ser uma aula de cinema, valendo-se de recursos da tecnologia de vídeo, o filme revela para o cinema a atriz Vera Barreto, a qual fora há pouco revelada para o teatro por outro José, o Celso (que alguns confundem com excelso) Martinez Correa. Se estivesse entre nós, Rogério Sganzerla diria que Vera “caminha cinematograficamente correto” e ficaria feliz com a sua revelação, tal como ficou com a do ator Ronaldo Brandão que o mesmo José Sette revelou em 1980 no premiadíssimo Um Sorriso por Favor, produzido por este gazeteiro (modéstia à parte). Vera Barreto tem 70 anos e não vamos adiantar mais nada. Amaxon é imperdível e o leitor deve ficar atento para este nome quando pintar de forma acessível a ele, para vê-lo, pois não é coisa que a “realidade” censurada vai permitir ficar dando sopa por aí não.


A bandeira de Bandeira

Rodrigo Leste, recém retornado de Caracas (o assunto Caracas fica para depois), acaba de lançar um novo trabalho de teatro portátil, desta vez sobre Manuel Bandeira e destinado a secundaristas vestibulandos. Vimos a estréia junto com um público jovem que compareceu mais interessado no assunto do que na peça mas foi surpreendente a forma como este mesmo público acabou sendo aplicado de Bandeira e de teatro pelo talento do dramaturgo. Aliás, coisas assim deveriam ser mais frequentes. Foi ótimo passar uma tarde domingueira vendo e ouvindo os poemas de Bandeira intepretados com humor e criatividade num palco de teatro. Melhor programa não poderia haver.


Gazeteiro musical

Fredera começou a fazer Gazeta musical, e da boa. “A fonte e a toiça”. Só vendo (5 minutos de vídeo): http://www.youtube.com/watch?v=XddJv9OwZF8


Nosso correspondente em Iorubá

O linguista, jornalista e editor Beto Viana mudou-se para a Nigéria. Vai dar aulas de linguística na Universidade de lá. Despediu-se logo depois de receber a última Gazeta e já deve estar por lá, exercitando seu iorubá. Ainda não se manifestou mas está comprometido em ser nosso correspondente naquele país africano, berço dos orixás e do qual quase não temos notícias, mais uma vez, devido à nossa “realidade” censurada.


Ausências sentidas

A Gazeta estranha o sumiço dos emeios de Adriano Benayon e Beto Almeida em sua “caixa de entrada”. São duas fontes de informação importantíssimas para o nosso trabalho de resistência. Será a “realidade” censurada?


Há muito mais a comentar, mas a Gazeta não pode ficar muito extensa. Vamos recuperando aos pouquinhos nas próximas. Aguardem.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico O Apito no endereço http://www.thetweet.blogspot.com.

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