Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio Vol. 2 (2008)

Coleção completa (edições de nº 21 até nº 74, incluindo as extras)

Gazeta em forma de e-meio 74 (10/12/2008)

Dia curto

Não sei se o leitor tem a mesma impressão, mas no fim do ano os dias parecem que vão se encurtando, sem que a gente note ou faça caso. A impressão é a de que as pessoas, ao verem chegar o fim de mais um ano (ou “menos um”, como dizia Oswald), tentam correr atrás do prejuízo, do “deixa-para-depois”, da negligência e da preguiça em que incorreram ou pensam que incorreram no decorrer dos dias iniciais e dos meados do mesmo ano.

E haja “caixa de entrada”. Uma verdadeira chuva de demandas apressadas, de compromissos profissionais “para ontem”, de notícias muito importantes, de informações de que o mundo precisa tomar conhecimento imediatamente, de trabalhos e coisas que têm de estar prontos no depois de amanhã. Uma loucura! Há também as festinhas de chegadas de parentes que moram fora, as reuniões de bares e outros convescotes. Um ofensa não comparecer.

Ah, e as contas, sempre as contas. Essas chegam religiosamente, mês a mês, mas no fim do ano elas ficam assanhadas, e mais caras. É preciso também comprar e comprar, dar presentes; um grande tempo e esforço criativo se perde em bolar presentes para os que não podem deixar de recebê-los, sem ofender a eles e ao próprio bolso. Nos vemos igualmente envolvidos na bolação das duas grandes festanças, dos passeios e viagens, que devem ser necessariamente originais e criativos, nada deve se repetir. Esses laços pequeno-burgueses em que nos vemos amarrados desde o berço são de amargar! Especialmente quando nos apertam, num fim de ano.

E vamos todos na enxurrada, mesmo querendo ficar de fora, não tem jeito. E quando nos damos conta, o dia já era. E a Gazeta, coitada, vai ficando para depois, fazer o quê?


Uma rádio dos sonhos

Acabo de receber um e-mail de José Guilherme Castro em que me repassa um endereço realmente fantástico: www.lastfm.com.br. Genial! Você escolhe o que quer ouvir, seja pelo compositor, nome da música, gênero musical, etc, isto de qualquer origem cultural ou parte do mundo! Aí, o site faz uma programação, a começar pela dica que você deu e a ela vinculada, e põe para tocar. Uma delícia! Coloquei o índice “Glenn Gould” há cerca de quatro horas e ainda estou ouvindo uma sequência admirável dos melhores pianistas, cravistas e organistas do mundo, sem nenhuma repetição. Começou com Gould tocando Bach para órgão e, no momento, ouço Rubinstein tocando Chopin ao piano. E o site vai exibindo os dados da música, do intérprete e do compositor, a capa do CD, além de outros vínculos e alternativas que você pode escolher à vontade, se quiser mudar de rumo a sua audição. Não tem propaganda nem chateações de intervalos e locuções. É como acionar uma vitrola infinita e muito bem afinada com o próprio gosto musical ou com o que se deseja ouvir naquele momento. Experimente!


Oba Oba Obama

A moda é não cair no oba oba obama, mas que foi bom, foi. Ninguém aguentava mais os George, os Bill, os Dick, os Jim e outros apelidinhos de gringos bichos-de-goiaba. Um Barack Hussein soa um barato para a ocasião, independente dos maus trocadilhos. Não há como contestar, o Império não é mais o mesmo. Agora tem lá um neguinho (não me venham com essa de que é "termo racista", please) com cara de gente boa e esperto como só ele. Se não fosse, não tinha chegado lá. É tão malandro que a esquerda e a direita desconfiam dele, acham que ele mente pros dois lados. E mente mesmo – queriam o quê? Que ele falasse “a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade”, jurando sobre a Bíblia? O Império pode até continuar Império, se bem que sempre mais decadente, mas vai ficar menos chato e menos burro. Já é um adianto, na opinião deste semiólogo gazeteiro.


Só danço samba

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Cidade Jardim recupera a sua quadra e forma nova diretoria. Muita notícia boa promete nos dar. A Gazeta, sempre de olho. Para o dia 12 agora tem festa de arromba no Conjunto Santa Maria, se possível no próprio barracão recuperado. Senão, vai ser na rua mesmo, isso é com a prefeitura. Se ela libera ou não essas chaves logo. Libera, prefeito, libera, não seja bush, ou melhor, burro.


Duas fantasmagorias

Os srs Mario Vargas Llosa e Francisco Weffort já morreram mas não foram avisados. Ambos são do tipo que ainda acha que o diploma universitário tem algum valor para legitimá-los como analistas sociais acreditáveis. Tiveram uma coceira “de esquerda” na juventude mas, como dizia Machado de Assis, “coçaram, e a coceira passou”. A palavra “populismo” está presente repetitivamente em todas as suas “doutas análises”, é uma verdadeira obsessão. Para eles, qualquer líder progressista que goza de popularidade é “populista”. Há quem diga que foi o udenista Pedro Aleixo que cunhou a palavra. É possível. Tal como este o fizera, os dois velhinhos intelectuais latino-americanos satelitizam os poderes mais reacionários da América Latina, aceitam serem usados por eles à la carte e poderiam assinar embaixo do célebre testamento atribuído ao criador da palavra-chave de suas “análises”: “Nada fiz, nada deixo. Assinado: Pedro Aleixo”. Falam, escrevem e subscrevem o que lhes mandam (e lhes pagam, claro, apesar de pagarem mal), mas são um zero à esquerda. Não convencem nem aos seus patrões, nenhum os cita ou demonstra ter lido ou levado a sério o que dizem ou escrevem, mesmo com a boa reserva de espaço de que gozam na mídia pré-paga (e muito bem paga). Não há leitor que sobreviva sem dois bocejos graves e longos a um primeiro parágrafo do que é publicado por eles. Nem escritor que se anime a escrever-lhes o epitáfio. Vagam os dois por aí, como fantasmagorias sem sombra. Você “olha e passa”, nem susto toma.


Sinto, mas o dia está curto mesmo, o gazeteiro tem pouco tempo para gazetear. A cidade, agitada no frenesi do fim de ano, o exige. Por agora, ficamos aqui.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico O Apito no endereço http://www.thetweet.blogspot.com.

Copyleft e copyright totalmente liberados. “Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado em todas as línguas.”

Gazeta em forma de e-meio 73 (24/11/2008)

Eu voltei

A Gazeta não é o Roberto Caurlos mas... voltou. O gazeteiro voltou a poder gazetear. Que delícia é poder gazetear, o leitor não imagina! Este gazeteiro passou quase a vida toda tentando gazetear. Talvez, desde os 16 anos, quando fazia o jornalzinho “A Fumaça”, no mimeógrafo do Diretório Estudantil (DE) do Colégio Estadual de BH. Durou três edições e o diretor do colégio o proibiu: avisou que se saísse a quarta ia tirar o mimeógrafo do DE. Isto foi em 1966. De lá, até o ano passado, quando descobriu o barato de publicar na Internet sem ter ninguém acima dele com poder para dizer “isso não pode”, viveu uma sequência interminável de frustrações editoriais gloriosas.

São tantas as maneiras pelas quais a censura se manifesta que o comum dos mortais acaba aceitando a “realidade” que lhes é imposta e escreve o que ela permite para poder publicar. Mas, nós, os deuses, somos diferentes. Só aceitamos publicar o que de fato acreditamos deva ser escrito, não importando se as pessoas vão ou não gostar do que escrevemos. O único que tem de gostar é o próprio autor (Deus) e ai de alguém se tentar mudar uma vírgula do que ele pôs no papel (ou digitou).

O leitor pode cair na armadilha da “realidade” censurada – que impõe serem os deuses os criadores dos homens - e pensar que o gazeteiro está se jactando, mas é o contrário. Este gazeteiro não sabe de nenhum homem que comprovadamente houvera sido criado por um Deus e conhece centenas de deuses que foram criados pelos homens, aliás, todos os deuses que até hoje chegaram ao seu conhecimento foram, sem sombra de dúvidas, criados por certos homens, sejam eles bem ou mal intencionados. Os deuses são, portanto, criação humana e, por isso, muito mal-criados. É o caso da Gazeta e, consequentemente, deste gazeteiro. Ou vice-versa.

Como ficou vinte dias fora-do-ar, os assuntos da Gazeta – que são aqueles que a mídia hegemônica não quer que a gente saiba – acumularam-se, e vamos ter de ir devagar e por partes.


Audiência pública “volta por cima”

Foi no dia 12 passado, quando a Assembléia Legislativa de Minas foi ocupada pela Escola de Samba Cidade Jardim, a campeã dos nosso carnavais que foi depejada pela prefeitura de BH, para uma audiência pública dedicada exclusivamente ao caso do despejo. Coisa rara de ser ver naquela “casa do povo”, foi o povo dando o seu recado nos microfones da egrégia assembléia, com direito a transmissão de TV pública. E o samba rolou também, possivelmente pela primeira vez naquele recinto, na voz afinada da sambista Dona Elisa. Da prefeitura, com medo das vaias certas que receberia, não foi ninguém, mas o secretário Murilo Valadares mandou uma carta dizendo que vai devolver o barracão para escola. Estamos de olho no senhor, dotô Murilo.


Amaxon em ponto de bala

“O cinema vem do teatro. O vídeo vem do rádio e da televisão.” Com tal postulado o cineasta José Sette abre sua última realização cinematográfica, Amaxon, cujo copião eletrônico nos mostrou há poucos dias. Além de ser uma aula de cinema, valendo-se de recursos da tecnologia de vídeo, o filme revela para o cinema a atriz Vera Barreto, a qual fora há pouco revelada para o teatro por outro José, o Celso (que alguns confundem com excelso) Martinez Correa. Se estivesse entre nós, Rogério Sganzerla diria que Vera “caminha cinematograficamente correto” e ficaria feliz com a sua revelação, tal como ficou com a do ator Ronaldo Brandão que o mesmo José Sette revelou em 1980 no premiadíssimo Um Sorriso por Favor, produzido por este gazeteiro (modéstia à parte). Vera Barreto tem 70 anos e não vamos adiantar mais nada. Amaxon é imperdível e o leitor deve ficar atento para este nome quando pintar de forma acessível a ele, para vê-lo, pois não é coisa que a “realidade” censurada vai permitir ficar dando sopa por aí não.


A bandeira de Bandeira

Rodrigo Leste, recém retornado de Caracas (o assunto Caracas fica para depois), acaba de lançar um novo trabalho de teatro portátil, desta vez sobre Manuel Bandeira e destinado a secundaristas vestibulandos. Vimos a estréia junto com um público jovem que compareceu mais interessado no assunto do que na peça mas foi surpreendente a forma como este mesmo público acabou sendo aplicado de Bandeira e de teatro pelo talento do dramaturgo. Aliás, coisas assim deveriam ser mais frequentes. Foi ótimo passar uma tarde domingueira vendo e ouvindo os poemas de Bandeira intepretados com humor e criatividade num palco de teatro. Melhor programa não poderia haver.


Gazeteiro musical

Fredera começou a fazer Gazeta musical, e da boa. “A fonte e a toiça”. Só vendo (5 minutos de vídeo): http://www.youtube.com/watch?v=XddJv9OwZF8


Nosso correspondente em Iorubá

O linguista, jornalista e editor Beto Viana mudou-se para a Nigéria. Vai dar aulas de linguística na Universidade de lá. Despediu-se logo depois de receber a última Gazeta e já deve estar por lá, exercitando seu iorubá. Ainda não se manifestou mas está comprometido em ser nosso correspondente naquele país africano, berço dos orixás e do qual quase não temos notícias, mais uma vez, devido à nossa “realidade” censurada.


Ausências sentidas

A Gazeta estranha o sumiço dos emeios de Adriano Benayon e Beto Almeida em sua “caixa de entrada”. São duas fontes de informação importantíssimas para o nosso trabalho de resistência. Será a “realidade” censurada?


Há muito mais a comentar, mas a Gazeta não pode ficar muito extensa. Vamos recuperando aos pouquinhos nas próximas. Aguardem.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico O Apito no endereço http://www.thetweet.blogspot.com.

Copyleft e copyright totalmente liberados. “Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado em todas as línguas.”

Gazeta em forma de e-meio 72 (5/11/2008)

Abu Ghraib International Dance Festival

"SULREAL – Por uma epistemologia sul (towards a south epistemology)" são os dizeres da capa do livro, que é ilustrada com uma “citação” de um anúncio da famosa ONG Greenpeace: acima da linha do horizonte, um bloco de gelo, um iceberg (o Titanic não aparece, deve estar a caminho ou já afundou; no anúncio da ONG é um deserto com um único toco de árvore motosserrada) e, abaixo, como se enraizada no iceberg e de cabeça para baixo, uma árvore frondosa (no anúncio é uma árvore seca). Não é pouca coisa, trata-se de um livro de 168 páginas, bilíngüe (portuguese and english), denso de textos “investigativos”, herméticos e de alta erudição, ilustrado com muitas fotografias, coloridas e P&B. Pelo menos, desta vez não usaram o famigerado e brilhoso papel couché, como sói acontecer com publicações chiques e bem patrocinadas ultimamente. Incontáveis logomarcas de patrocinadores locais, nacionais e multinacionais, de toda ordem – desde o restaurante da esquina até gigantes como Petrobrás, Usiminas e outras de telefonia, aviação, etc –, populam a última capa e algumas páginas do miolo. Todos os cofres da viúva (erário) foram empenhados: leis de incentivo cultural federal, estadual e municipal chacelam a preciosidade, lado a lado, com respectivas logomarcas.

Surreal! O trocadilho não é nosso; em espanhol seria surreal mesmo. Se a proposta era a da sugestão ao surrealismo, aí não funcionou, a não ser que se entenda por surrealismo qualquer coisa de anormal, inusitado, alienado ou fora de órbita. Mas, estamos falando de arte – arte da dança! – e, neste campo, o surrealismo tem definições bem mais claras e precisas; é preciso ter cuidado com as palavras.

Trata-se, leitor, não fique pasmo, do Fórum Internacional de Dança... de BH, a capital das alterosas, na província de Minas Gerais. Assina-se fid.bh.mg.brasil.20.08, apesar de não ser um endereço na Internet. Aqui na terra, simplesmente FID. Sim, temos também o FIT, o de teatro, sobre o qual a Gazeta já comentou. É tipo uma moda; daqui a pouco vem o FIL, o da literatura, e, finalmente - quem sabe? -, o FIM, o da música.

O pessoal deste FID está exigindo uma “epistemologia sul”! Oh, quão erudito! Que “proposta” inteligente! Que os sábios se atribulem com a demanda dessa epistemologia com coordenadas geográficas, ou vão acabar desnorteados. Podemos depois sugerir uma “sudoeste”, contemplando aqui o nosso cantinho ocidental, não? Epistemologia é palavra danada de complicada e periga provocar trocadilhos não muito agradáveis.

Mas o gazeteiro teve sorte, não viu nenhum dos espetáculos do FID, só o catálogo-livro. Se tivesse visto algum, teria confessado tudo, pois as fotos dos espetáculos ali publicadas (excetuando-se os do FIDinho, os infantis) parecem ter sido obtidas na prisão de Abu Ghraib, no auge da Bagdá invadida. E não pense o leitor, que já viu as de Abu Ghraib, que isto seja figura de retórica ou exagero. Não estou exagerando. Foi uma verdadeira tortura ver aquelas imagens de horror, como registros de um festival de dança, e nem imagino o que deve ter sido para o espectador.

É o vanguardismo tardio se esborrachando e se ralando para encontrar rastros de contemporaneidade no sofrimento euro e egocêntrico da arte burguesa das Martas Grahams e Pinas Bauch da vida: “dançar es sufrir”, traduziu alguém para o espanhol.

Performáticas performances per forma: pura forma e muito formol. Um novo que já nasce velho e nada diz. Eles se pretendem como novidades de “última geração” e não chegam nem a uma versão descontinuada da fórmula decadente de um sofrimento que não é nosso – nunca foi! O sofrimento europeu é o do algoz; o nosso é o do herói. Vai nisso uma brutal diferença, senhores e senhoras epistemólogos: “o problema do europeu desesperado é não sofrer; o nosso é gozar. Ganhamos de longe.” (Oswald, já que o meteram também nessa caçamba)

Sobre os textos, não vamos embarcar nos trocadilhos chulos que seus equívocos provocam (já basta a linguagem chula da maioria das encenações de “dança” do FID, segundo depoimentos de vários espectadores). O que sobra dessa epistemologia toda, se passá-la na peneira, é um cientificismo de araque, sem análise, sem crítica, pseudo-erudito, superficial e irresponsável na relação com a filosofia e com a cultura brasileira. Oportunismo de má fé, tentando disfarçar-se de ousadia “criadora”, produz coisas assim, na introdução do catálogo-livro de um festival de dança:

“A epistemologia ou o pensamento Perspectivado (sic) pressupõe um local privilegiado de um único olhar central em que os outros são periféricos a este. Esta epistemologia é uma construção, não é imanente, universal ou absoluta. E, portanto, não deve ser aceita e praticada como lei universal, universalidade que se dissolve em suor, saliva, bílis, excremento, lágrimas de alegria/tristeza, secreções ambivalentes. (...) Quando você escuta o joão-de-barro, vê sua casa, e considera isso importante, está na epistemologia sul” (Banana, Adriana, catálogo-livro FID 2008, Introdução, páginas 6 e 8)

A pretensão vanguardeira de “bem informados”, a falta de tesão, o lobby gay (nada a ver com homofobia, por favor), os lobbies pessoais e autoritários, e, principalmente, a impunidade pela ausência de debate e de crítica sobre toda e qualquer produção chapa-branca: por aí se vai esvaziando a arte brasileira; nem a Bienal deste ano escapou desse vazio. Um vazio diretamente relacionado com a perda de soberania nacional, como concluiu brilhantemente o compositor Guilherme Vaz num escrito genial que a Gazeta promete comentar em outra oportunidade (melhor não misturar alhos e bugalhos).

Icebergs do norte vêm para cá se exibir como árvores frondosas, e árvores não tão frondosas daqui vão lutando para se tornarem icebergs lá. E nós pagando a conta do naufrágio. Fora o vexame vergonhoso a que fica exposta toda a nacionalidade...

Eis o fid.bh.mg.brasil.20.08, ipsis litteris.

Em troca, tivemos a exibição de grupos de nomes criativos e espirituosos como Balangandança. Fatal Black, Cia Dita e Corpo Cidadão (!!??). Há um espetáculo denominado “F de falso e P de Potente” (F for Fake and P for Powerful, in english), sem que Wells possa fazer nada, só tremer no túmulo, porque ninguém aqui vai mexer uma palha por ele. E alguns achados “luminosos”: “Nem tudo o que reluz é dança” e “A reta é a distancia mais curta entre dois pontos”, etcoétera, estão entre os “espetáculos” com que o FID brindou a população belorizontina.

No próximo, talvez tenhamos algo como “A redondez da roda”.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico O Apito no endereço http://www.thetweet.blogspot.com.

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Gazeta em forma de e-meio 71 (27/10/2008)

“Foi um sonho, minha gente!”

A praga rogada pelos juízes de Tiradentes, ao ordenarem esquartejá-lo, confiscar seus bens, destruir sua casa e salgar o terreno onde ela se erguia, para que “deste solo não mais brotasse qualquer ato de rebeldia contra a coroa”, parece ter dado certo.

Desde então, a nossa almejada liberdade (“ainda que tardia”) é sistematicamente adiada, e a rebeldia só registrou uma exceção histórica em Minas na figura de Teófilo Ottoni, o “senador do povo”, no ano de 1842. A nossa participação na Revolução de 1930 não pode ser registrada como ato de rebeldia: ela não passou de um descontentamento oportunista pela vaidade ferida dos oligarcas provincianos.

Porém, o resultado das urnas no primeiro turno das eleições em BH levou este gazeteiro a sonhar que estávamos a pique de superar a bruxaria dos colonizadores. Íamos, enfim, da capital do estado e pela voz do povo nas urnas do segundo turno, dizer um NÃO maiúsculo, rotundo e rebelde às imposições dos poderosos. E iniciar uma nova era de revitalização da política regional, restauradora da importância do estado nas decisões revolucionárias do povo brasileiro. Em tal condição, independentemente de quem fosse o novo prefeito eleito - ainda que de pior espécie do que o “escolhido” pelo atual poder, se isto fosse possível -, ele não teria outra opção a não ser a de se manter a reboque das massas; do contrário, seria fatalmente expurgado no próximo pleito.

Mas Etelvina me chamou: - acorda, Mario, tá na hora do batente!

“Venceu o Sistema da Babilônia. E o garção de costeletas.”

A paralisis continua. Mais da mesmice e da mediocridade petucana nos assolará na próxima quadra. Há quem diga que Minas é o coração do Brasil. Se isto é verdade, é melhor chamar um cardiologista, com urgência. O país sofre do coração.


O nome da Besta (se nós formos os bestas)

Lá para trás, a Gazeta divulgou o filme Zeitgeist, disponível na Internet, gratuitamente e com legenda em português, no endereço http://video.google.com/videoplay?docid=-1437724226641382024. Foi nele que vimos a primeira referência à nova moeda que os gringos estariam planejando para substituir o falecido dólar: o amero.

Pois bem! Hoje, no site RedVoltaire, o radialista norte-americano Hal Turner publica um vídeo no qual exibe uma moeda de 20 ameros cunhada em Denver, EUA, em 2007. Debaixo de forte perseguição e censura nos EUA, o radialista afirma que o colapso do dólar estaria previsto para fevereiro de 2009, quando será desmonetarizado e substituído pela nova moeda, sem maiores satisfações ao resto do mundo. Ou seja, um calote mundial. Quem tem dólares ou moedas cotadas em dólares vai ficar a ver navios. O radialista afirma também que a China descobriu o segredo e passou a exigir lastro em ameros no pagamento das suas exportações para os EUA, eis porque os EUA já enviaram àquele país cerca de 800 bilhões de ameros. Veja em http://www.voltairenet.org/article158388.html.

Tais informações coincidem com o último boletim GEAB (Global Europe Anticipation Bulletin) nº 28, de 17/10/2008, publicado pelo site LEAP/E2020, que alerta para o fato de o governo dos EUA ficar insolvente “até o verão de 2009”, e, portanto, “não poderá reembolsar seus credores”. E mais: “o período que então se abrirá tornar-se-á propício ao lançamento de um ‘novo dólar’ destinado a remediar brutalmente o problema da cessação de pagamentos e da fuga maciça de capitais para fora dos Estados Unidos.” Ver o alerta em português em http://resistir.info/crise/geab_28.html.

A Gazeta tem acompanhado esses boletins GEAB e pode confirmar a precisão de seus prognósticos. O de nº 22, publicado em fevereiro deste ano, por exemplo, previa para setembro/outubro a bancarrota das bolsas de valores em todas as partes do mundo, tal como está acontecendo.

Na modesta análise desta Gazeta, o que se pode apreender pelas pistas conhecidas é que nem tudo está dando certo para o Império e os planos diabólicos que traçaram para o estelionato em escala global. Se visto com a antecipação em que tais megaprojetos são concebidos nos laboratórios pentagonais, já o nosso Plano Collor, de 1990, poderia ter sido um balão de ensaio do atual “projeto amero”. Um calote de dimensões nacionais num país como o Brasil deve ter servido como excelente tubo de ensaio para avaliar o comportamento da população perante tais descalabros. Em 1990, o sucesso foi total e absoluto. Mas desta feita ocorrerá o mesmo, inclusive dentro dos próprios EUA?

Pelo histórico da política externa norte-americana nas últimas décadas, é possível que tenham almejado um calote no resto do mundo sem, contudo, atingir o público interno, nos EUA e Europa. Isto, com certeza, levava em conta o sucesso do projeto de mudança do mapa político no Oriente Médio, o pleno domínio das reservas de petróleo daquela região e a neutralização da Rússia e da China como potências energéticas e econômicas das quais seriam dependentes os EUA e os países ricos europeus. Como isto não se deu, muito pelo contrário, tudo resultou num fracasso total, eles já devem estar revisando seus planos B, C, D ou E a estas alturas.

Muitas outras premissas daqueles planos diabólicos precisavam acontecer para o seu correto funcionamento, de forma que as coisas dessem certo. Outra delas, importante, é que a data de lançamento do amero ocorresse no ano de 2007 (por isso deve ter sido cunhado neste ano), em pleno auge da especulação bursátil em alta, inclusive os preços do petróleo. Assim, o amero seria trocado com os bancos e as multinacionais em fase de altos lucros e, internamente, de modo a eliminar completamente a “bolha”, evitar a bancarrota imobiliária e os arrestos de propriedades que atualmente infernizam qualquer cidadão dos EUA, até o mais obeso, física e mentalmente, e o mais alienado de todos. Com satisfação interna tudo ficaria mais fácil para os mentores da idéia, mas, com o público interno insatisfeito, a caldo engrossou. As derrotas no Iraque e Afeganistão fragilizaram o poder militar dos EUA e os impediram de realizar a mudança quando desejassem. Agora ela terá de ser feita de qualquer jeito, pois não há outra saída. Eis porque as tropas no Iraque estão retornando: para conter a revolta interna que a mudança, com certeza, vai provocar, uma vez que o calote se dará também contra a própria população dos EUA. O GEAB prevê a falência dos fundos de pensão, das poupanças e dos depósitos bancários, e, mesmo as economias em euros ou dólares mantidas em cofres particulares, perderão completamente seus valores.

Contavam também, evidentemente, com a cordura e a subserviência dos países latino-americanos, historicamente sempre prontos a se fazerem de otários primeiro. Por isso as figuras de Hugo Chávez (que deveria ter sido derrubado em 2002), Evo Morales, Rafael Correa, Daniel Ortega, Fernando Lugo, e, como de sempre, ad aeternum, Fidel Castro, são designadas por eles como integrantes do “eixo do mal” e divulgadas pela mídia hegemônica como “ameaças (terroristas) aos Estados Unidos e à Europa”.

Muitos são os aspectos e os ângulos de análise dessa complexa realidade pré-fabricada para nos fazer de otários, e é preciso que não durmamos no ponto para que não nos tornemos mais uma vez as primeiras vítimas desses Doutores Sartanas que se acham donos do mundo e de todos nós.

Fidel Castro, em sua última reflexão, publicada hoje, assinala que a "pior forma de ignorância em nossa época é o analfabetismo econômico".

O primeiro passo para se livrar dele é ficar atento às informações de maior credibilidade e ter consciência definitiva de que tudo – tudo mesmo! – o que se publica na mídia hegemônica não passa de mentiras destinadas a nos distrair e a nos enganar.


Bush explica a crise econômica mundial

Não perca (vídeo de 1 minuto): http://www3.rebelion.org/noticia.php?id=74946.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico O Apito no endereço http://www.thetweet.blogspot.com.

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Gazeta em forma de e-meio 70 (25/10/2008)

Ufa!!!

Estamos chegando ao fim do tormento petucano, e isto é o mais importante para BH e para Minas agora.

Por mais que eles (PSDB-PT-petucanos e perlicanos) disparem e-mails “politicamente corretos”, recheados de argumentozinhos esquerdóides sobre a necessidade de sermos todos lacerdistas e votarmos no “candidato socialista”; por mais que mandem publicar “pesquisas” coloridas que não passam de expressões gráficas dos desejos deles; por mais que mintam e tentem calar os que não querem mentir... não adianta!

Vai dar Quintão na cabeça neste domingo! (15 – quinzão!).

Aliás, a Gazeta ainda não chegou a uma conclusão sobre essa novidade de “candidato socialista”, o termo utilizado por todas as mídias pré-pagas locais, regionais e nacionais quando se referem ao candidato petucano de BH. Como não explicam o motivo dessa inusitada designação e são veículos radicalmente anti-socialistas, não há como saber se a idéia é a de prejudicar o socialismo enquanto ideologia revolucionária, acoplando-o ao nome de um candidato mala-sem-alça e notoriamente reacionário; se é a de ajudar o candidato, enganando as camadas populares de tendências socialistas; ou se pensam que o termo poderia funcionar nos dois sentidos, isto é, o de prejudicar a ideologia socialista e o de enganar o povo, simultaneamente. Bem, isto é o que tentam fazer na mídia o tempo todo, deixa pra lá; além de inútil, é insosso.

Vamos ao que mais nos delicia neste momento; o que estamos desfrutando agora: o desespero petucano diante da iminente e catastrófica derrota.

Fontes seguras e confiáveis informaram à Gazeta que grupos culturais e artistas escolhidos a dedo entre os que mais gozam do favoritismo oficial tiveram seus rabinhos bem puxados, tanto pela prefeitura como pelo governo do estado, para dar declarações a favor do “candidato socialista”, gostassem ou não dele. Do contrário, seca eterna aos rebeldes, não pegariam mais nem ponta de curta-metragem. Mas, não foi o caso, todos já gaguejaram seus “apoios espontâneos” nas rádios e tevês do horário gratuito. Não se sabe por que esses marqueteiros acham que depoimento de artista dá voto, creio que sabem que não dá; mas, no desespero...

Outra fonte de igual segurança nos informa de que o mesmo se deu com os rabos mais robustos e gordos da imprensa mineira e nacional. Afinal, prefeitura e estado vêm gastando uma baba com ela há mais de oito anos, e, na hora dela cumprir o papel de encabrestar o povo, o povo não obedece!? Ficaram terminantemente proibidas matérias negativas ao ”candidato socialista” ou positivas a Quintão, o Sincero. Do contrário, seca eterna aos rebeldes, nem classificados pegariam mais. Também não foi o caso. Todos entraram na linha, direitinha e direitinho.

É o desespero; que delícia de desespero é o desespero petucano, gente!Agora, saiu a última “pesquisa” do Estrago de Minas, o jornal mais velho do estado; udenista, lacerdista, governista, golpista e agora, outra vez lacerdista - há 80 anos apoiando a situação, seja ela qual for, mediante “módicos” orçamentos a combinar.

Lacerda vai ganhar! Mas só deu naquele jornal. Os outros, nem com os rabos bem presos e pré-pagos arriscaram pôr a mão no fogo desse palpite infeliz. A segunda pesquisa de O Tempo não saiu. Por que será? A última Datafolha deu “empate”. Será? Hoje em Dia, Estadão, JB, Tribuna, etc, nada comentam. Será o Benedito?

Resta-lhes a urna eletrônica. Não duvido de que já tenham posto uns agentezinhos secretos bisbilhotando o TRE-MG a verem se dá para raqueá-la, numa boa, lacerdizando-a na contagem dos votos. Aí mora o perigo, um real perigo para as decisões do povo, não só de BH, mas do Brasil todo. Mas, penso, não vai ser o caso. Deve ser preciso um consenso de alta cúpula, tipo o “Consenso de Washington” em escala nacional ou regional, para essas mutretas funcionarem, e tal consenso por ora no hay.

Mas tal é o desespero que até o papo das “grandes e eficientes administrações públicas muncipais e estaduais” que vêm transformando Minas e BH numa espécie de Suíça brasileira murchou. O índice GINI/UNESCO, que mede a desigualdade nas populações urbanas em todo o mundo, pouco conhecido por ser um trabalho sério e rigoroso de ciência social e por isso mesmo nunca ocorrer de ser publicado na mídia hegemônica, teve recente divulgação dos dados de 2007. Pela primeira vez, algumas grandes cidades latino-americanas, mas só brasileiras e colombianas, entre elas BH, aparecem com um índice de desigualdade superior aos das cidades africanas – todas! Outro levantamento igualmente sério da UNESCO sobre educação pública e privada coloca o Brasil, e especialmente Minas Gerais e BH, num dos últimos lugares do mundo em todos os aspectos qualitativos e quantitativos que expressa. Estão para sair os resultados de trabalhos do tipo sobre saúde e sobre transporte urbano.

Pobre BH! Pobre Minas! Pobre pátria!

Abraços

Mario Drumond

Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico O Apito no endereço http://www.thetweet.blogspot.com.

Copyleft e copyright totalmente liberados. “Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado em todas as línguas.”

Gazeta em forma de e-meio 69 (20/10/2008)

O deplorável “deploma”

Temos acompanhado, pelos emeios de Heitor Reis (Elucubrações Dialéticas), essa velha polêmica que por acá vem novamente nos amolando, em torno da obrigatoriedade do diploma de jornalista. Pensava este gazeteiro que era um equívoco já ultrapassado, mas, não, ele anda por aí: é um fantasma que se disfarça de jovens estudantes de comunicação.

Outro dia vimos um; Heitor e eu estávamos tomando umas num boteco lá pelas bandas do Maleta, e ele apareceu. É pegajoso, insiste, pentelha, chateia, não é fácil de descartar, ainda mais quando difarçado de moça comunicóloga, como foi o caso.

Nossa tática foi a de falar só o mínimo, dentro dos limites da cordialidade, senão estaríamos condenando o nosso papo que ia cabeça e bem levado, já na terceira ou quarta cerveja, quando ele(a) apareceu. Se a nossa paciência estivesse num momento mais flexível, como às vezes fica ou tem de ficar, por exemplo, numa sala de espera de aeroporto, seria o caso de dizermos à moça que o jornalismo, enquanto exercício legítimo de informar e opinar através de veículos de comunicação, antes de ser uma profissão ou um ofício, é um direito, e, em certos casos, até um dever de qualquer cidadão. Nos casos mais bem sucedidos, é, antes, uma vocação.

Vocação de observador com interesse analítico ou crítico, associada à capacidade de transmissão escrita, oral, fotográfica ou audiovisual do que observa, analisa ou critica. Nem todos a possuem, a desejam ou a obtêm. O fato de tê-la não aumenta nem diminui a ninguém, é só tê-la. O mais é consequência, pode ser uma questão de grana ou de caráter, depende de cada um.

Não é como a Medicina, a Engenharia, o Direito, a Aeronáutica e outras profissões e ofícios que, antes de tudo, até da vocação, são ciências e práticas precisas, necessitam conhecimento ministrado e experiência atestada. O sujeito tem de ser certificado como capaz de exercê-las, seja para fazer cirurgia, ponte, julgamento, pilotar um Boeing ou o que mais há. É o do outro que está na reta em primeiro lugar, entendeu, moça? Há uma responsabilidade legal sobre o que se vai fazer no outro, com o outro ou pelo outro. O jornalismo, não. Em primeiro lugar, é o seu próprio que fica na reta. A informação e a opinião não ferem, não maltratam, não prejudicam, não matam por si mesmas. Isto quem pode fazer são as empresas de comunicação, por manhas e malas-artes dos poderes que detêm ou a que servem, não o jornalista nem o jornalismo. Quando o jornalista aceita participar do jogo de interesses dos patrões, ele deixa de ser jornalista e o que está fazendo não é jornalismo.

O jornalista é o que assina embaixo da matéria publicada e, se for mal informado, incompetente, de má fé ou não tiver talento para comunicação, perde a credibilidade, se ferra, se dá mal. Perde o público e o espaço, mas não machuca ninguém. É como o samba; “não se aprende no colégio” (Noel). Ou como a poesia. Pode haver nela até ciência (arte) e ofício (engenho), mas isto vem depois.

Nem todos são poetas; nem todos são jornalistas; os que são mesmo e de verdade primeiro são vocacionados, e, em geral, são autodidatas. Exigir diploma a alguém para ser jornalista é como exigir diploma a um poeta (ou sambista).

É isto aí, menina, sacou? Faça o seu jornalismo, se é capaz, e não amole.


O avesso do tropeço

O artista plástico Gilberto de Abreu está lançando um livro com este nome e não contou pra ninguém. Mas a Gazeta furou o segredo. O livro está rodado e pronto, e o autor anda lá por Montes Claros. Por isso não deu pra saber onde e quando vai batizar a obra. Mas estamos de olho neles (no livro e no autor).


60 cordas em movimento

Viva Viola – 60 cordas em movimento, no Teatro Alterosa, 24, 25 e 26 de outubro, 21h (domingo, 19h). Joaci Ornelas, Chico Lobo, Pereira da Viola, Wilson Dias, Gustavo Guimarães e Bilora. Tudo violeiro da pesada e gente boa. Música da terra! Vou lá.
A Gazeta agradece a Frei Gilvander pelo toque via web.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com).

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Gazeta em forma de e-meio 68 (16/10/2008)

O samba não morreu, mostrou a sua força no primeiro turno aqui em BH, avisa que volta com tudo, e pede passagem a seu soberano – o povo.

O renascimento do samba em Minas Gerais (introdução)

O governador Aécio Cunha (PSDB) e o prefeito Pimentel (PT) fizeram um acordo de manda-chuvas e escolheram o próximo prefeito a ser eleito em BH. Este seria o degrau da escada sobre o qual Pimentel subiria ao governo do estado e, por sua vez, junto com o novo prefeito, se fariam degraus para que Aécio subisse à presidência da República. Tudo era perfeição nos planos que traçaram.

Ambos ostentavam pelo menos 80% de “aprovação” dos eleitores em todas as “pesquisas” que pagavam generosamente a seus amigos marqueteiros. Tinham nas mãos a imprensa toda, inclusive a nacional; a hegemônica mediante portentosas campanhas de propaganda oficial com verbas astronômicas; as alternativas e independentes sob o garrote da censura. Tinham os dois legislativos e o judiciário, de joelhos, a seus pés.

A vitória viria fácil, fácil, já no primeiro turno, garantiam todas as “pesquisas”, todos os marqueteiros, toda a mídia hegemônica pré-paga. Eram os reis da cocada preta, podiam fazer o que quisessem, até pisotear o povo.

E foram adiantando os planos, tinham pressa. Desde logo, urgia encher as “caixinhas” das respectivas e futuras campanhas. Um megaempreendimento imobiliário em região nobre da capital, muito cobiçado pelas maiores empresas do ramo, inclusive do Rio e de SP, não seria mau para começar. Lá estava a bela área urbana, hachurada nos mapas pelos técnicos, prontinha para os “negócios”, com apenas um pequeno empecilho: bem no meio dela fica o barracão da Escola de Samba mais tradicional da cidade.

Mas, o quê? Ainda existem escolas de samba em BH? Isso é coisa só do Rio de Janeiro, pra Marquês de Sapucaí, pra turista rico e pras TVs! Alguém ainda ousa tocar ou dançar samba por aqui? Depois de tudo o que os dois fizeram para acabar com as velharias, essas coisas de preto, de pobre, anti globalizantes, nacionalistas, há quem ainda insista nelas, prejudicando a modernização e o progresso da cidade? De jeito nenhum!

Os amigos do judiciário foram acionados para uma providência rápida e, em 15 dias, a polícia e os oficiais de justiça fizeram o despejo da tradicional Escola de Samba. Os dois legislativos e a mídia hegemônica omitiram-se, obedientes.

Este gazeteiro já viu coisas em inúmeras eleições que acompanhou neste país, mas nunca teve notícias de um despejo de uma entidade reconhecidamente popular como uma escola de samba, por iniciativa de órgãos públicos, em plena campanha eleitoral. “Há erros políticos que enterram o cidadão e não dão direito a ressureição”, dizia uma velha raposa política de tempos idos.

Pois, bem feito! Os internautas cumpriram seus papéis, ainda que sob censura; alguns candidatos, com compromissos reais com o povo, fizeram imagens do despejo e as publicaram em seus programas no horário gratuito; a escola - com seus ritmistas, sambistas, artistas, colaboradores, aficionados e fãs -, foi para as ruas e manifestou o seu protesto. O povo ficou sabendo e sentiu o peso de mais aquele pisoteio sobre o que lhe é caro e verdadeiro. Então: surpresa! O candidato ungido com os óleos oficiais não ganhou no primeiro turno. E vai perder no segundo.

Agora, todos se mexem. Políticos e advogados manifestam-se pela ilegalidade do processo de despejo e o Ministério Público o está investigando. A Prefeitura de BH já está concordando em devolver o barracão à Escola. A Assembléia Legislativa, por requerimento do dep. Carlin Moura (PC do B), vai abrir audiência pública sobre a questão no dia 12 de novembro, e convidará o prefeito atual, o prefeito eleito, autoridades, membros da direção da escola e artistas do samba para a mesa de debates. E o povo estará lá, de olho neles!

Por sua vez, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Cidade Jardim não parou de alavancar seus projetos sociais e culturais, os interrompidos pelo despejo e os novos que estavam em projeto. E promete, não para o próximo ano, pois não há tempo, mas para 2010, a volta do seu carnaval nas avenidas centrais de BH e o renascimento do samba em Minas Gerais.


Boa Notícia

O Novo Jornal voltou, em novo endereço na web: http://www.novojornal.net

Para os que escreveram para a Gazeta cobrando a posição de Sérgio Miranda, ela está bem clara lá, com chamada de capa. Confiram. É preciso não confundir o PDT de BH (diretório municipal, presidido por Sérgio Miranda) com o PDT de Minas (diretório estadual, presidido por Manuel Costa). Este último apoiou o candidato oficial no segundo turno, mas, nada de novo; é um velho vício.

Seu “presidente de honra” e real manda-chuva, José Maria Rabelo, não resiste a um bico de tucano, bem amarelinho. Vai lá e pousa nele, na mesma hora. Isto, desde os tempos do Pimenta da Veiga (alguém se lembra dele)?


Novo e exótico espécimen

Segundo informou à Gazeta o ativo militante das causas sociais José Guilherme de Castro, foi descoberto nos ares de Minas, além dos aviões de carreira, dos tucanos e dos petucanos, um novo espécimen da zoologia política mineira: o perlicano.

Não é do PT, nem do PSDB, mas, ora está com um, ora com o outro. Ou com ambos, mas sempre que estejam no poder, ou em vias de estarem lá.


As pesquisas, as pesquisas...

As do Rio e de São Paulo saíram logo depois dos resultados do primeiro turno, pelo Datafolha. As de BH, não! O governador não deixou. Por que será? É a força do dinheiro público para a desinformação do cidadão

Anteontem (14/10) saiu, enfim, a primeira de BH, a do jornal local O Tempo:

Quintão (PMDB), 64%; o candidato oficial (PSDB, PT e perlicanos), 34%.

Mas ficou só no O Tempo. Nenhum outro jornal, local, regional ou nacional, publicou e sequer comentou. Por que será? É a força do dinheiro público para a desinformação do cidadão.

Ontem, não teve mais jeito, e nem dinheiro público suficiente para impedir. Saiu a do Ibope. Todos os jornais publicaram (sem comentários, ou com comentários ocos):

Quintão (PMDB), 61%; o outro, 33%, coitado.

Nem os votos que teve no primeiro turno ele terá no segundo.

Bem feito! A verdade é que este número, 33%, reflete a real “popularidade” de Aécio, de Pimentel, dos similares nos outros estados e até de Lula (vide Marta em SP). Os tais badaladíssimos 80% atribuídos a todos eles, ficou agora demonstrado, só existem no papel, para agradar o freguês e aumentar a fatura que ele sempre paga (rindo, feliz e muito satisfeito com a “qualidade da pesquisa”), claro, com o dinheiro do povo.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com).

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Gazeta em forma de e-meio 67 (10/10/2008)

Posição da Gazeta

Toda vez que a mídia faz coro de informação e opinião, a Gazeta, automaticamente, não aceita a informação como verdadeira e contesta a opinião enunciada.

Assim, no que diz respeito ao estardalhaço que agora se faz uníssono em todos os veículos da mídia hegemônica global sobre o terror que será a vida na Terra se os bancos e as bolsas quebrarem, opinando a favor da urgente e imediata salvação dos banqueiros em iminente bancarrota, este gazeteiro informa que está pouco se lixando para o destino dessas casas do nada, cheias de gente engravatada e de nariz empinado, gente que não faz nada e se acha merecedora de toda a fortuna do mundo.

Não sei para que servem tantas agências bancárias, repletas de mármores, tapetes espessos, vidros blindex, aço inoxidável e outros horrores de decoração que têm por primeiro critério de escolha o alto preço de “mercado”.

Ali não se cura a dor, nem de dente,
Não se planta flor, nem semente,
Não se fabrica prego ou dormente.

Ali não se faz poesia, nem fantasia,
Não se ouve música, não há alegria,
Ninguém dança, nem por nostalgia.

Ali ninguém reza, nem faz amor,
Ninguém mata a fome, não tem labor,
Ali Deus não entra, nem o favor.

O gazeteiro prefere ser mau poeta de cordel do que banqueiro bem sucedido. Que me perdoem os bancários, mas não conheço maior desdita profissional do que a de servir a um banqueiro. Prefiro o diabo a um banqueiro, foi o meu avô que me ensinou. Mais adiante, o leitor saberá a posição da Gazeta sobre o destino dos banqueiros.

Quão melhor não seria a vida se os bancos desaparecessem e as agências bancárias fossem transformadas em ambulatórios, consultórios odontológicos, bares e restaurantes populares, cinemas, casas teatrais, mercearias, escolas de música, de dança, de arte, de ofícios práticos e demais estabelecimentos úteis à vida e ao cidadão! As faraônicas sedes de bancos abrigariam estabelecimentos públicos como escolas e universidades, centros culturais ou de comércio solidário, grandes hospitais e casas de saúde.

Mas, eis que o leitor pergunta: e o dinheiro, onde guardo? Este é o menor dos problemas, leitor. Ele só existe se se tem o dinheiro. Então, é preciso primeiro que se o tenha. Tem o leitor dinheiro? Se o tem que seja só o suficiente, não mais. E o suficiente não deve nunca ser muito, pois já nos ensinava o sábio Saadi, no século XII: “o pior cheiro é o do dinheiro”. Então, para que tanto banco?

Se todo cidadão tiver dinheiro suficiente para uma vida digna, poderá guardá-lo em casa mesmo, não? A cobiça, o furto e o roubo se reduzirão a quase zero, ninguém vai precisar morar numa caixa forte para guardar a mixaria necessária, se todo mundo tiver ao menos essa mixaria. Hoje temos a internet, e uma agência modesta por bairro de um banco só e do governo, como na China, resolveria as transações mais complexas ou que necessitem contato pessoal. A existência de banqueiros é desnecessária e dispensável.

Por que tantas agências bancárias, uma ao lado da outra, disputando luxo e desperdício, se ninguém tem grana pra nada? Aí é que está o trampo, caros leitores. Ninguém tem grana, mas todos têm dívidas. Dívidas com quem? Com os banqueiros, lógico.

Hipotecas, cartões de crédito, cheque especial, seguros, planos de tudo quanto há, desde os de saúde, do celular, até os da compra da 4x4 zero, contas e mais contas, são as armadilhas que nos pegam a poder de chantagem (cortes de luz, de água, de gás, etc) ou de bobeira fútil, para estar na moda, satisfazer um desejo imbecil ou para “não sair do mercado”.

Ah, o mercado! O Deus Mercado, o novo Molloch devorador de vidas humanas, cada vez mais sedento e insaciável! Pois ofereçamos a ele todos os banqueiros do mundo para que ele morra de indigestão com sua própria merda. O fim do mercado e dos banqueiros nos será uma verdadeira benção, em escala universal. A Humanidade vai poder respirar ar puro e encontrará, enfim, a serenidade de que necessita para fazer as pazes consigo mesma e com o Planeta Terra.

Se este gazeteiro um dia alcançar a glória de ser ditador da República, será seu ministro um economista amigo que defende a seguinte tese, incontestável: “Todo aquele que possui um bilhão de dólares ou mais é, necessariamente, um predador da Humanidade. E todo predador da Humanidade deve ser imediatamente eliminado.”

O primeiro e único decreto ditadorial será: por seus crimes cometidos contra a Humanidade, todo banqueiro ou aquele que possuir (valor a ser estabelecido) em dólares ou mais, ou o correspondente em outras moedas e ativos, terá todos os bens confiscados e será fuzilado.

Depois, que venha a democracia socialista.


Abraços

Mario Drumond


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Gazeta em forma de e-meio 66 (8/10/2008)

“Estão acabando com a nossa alegria.”

É verso da sambista Dona Elisa, de um novo samba que ela compôs em protesto contra o despejo da Escola de Samba Cidade Jardim. É, porém, um protesto que pode ir muito mais além. Desde há muito tempo, os nossos sucessivos governos subalternos às carrancas sofridas do Império vão, aos poucos, desmontando as bases culturais que faziam a alegria do povo brasileiro.

Uma das primeiras vítimas foi o futebol, aquele do saudoso Garrincha, a alegria do povo. Outra foi o Carnaval, hoje reduzido a evento turístico e a macumba pra turista rico; o povo fica vendo pela TV, que tristeza que dá na gente... Parece uma perseguição; na verdade é uma perseguição mesmo: perseguem o cigarro de palha, o caporal honesto, a cachacinha da boa, o samba e até a cervejota no boteco da esquina, na fim da tardinha preguiçosa. Aliás, cadê o boteco da esquina, com a cerveja gelada e o PF no jeito? Acabaram, viraram self-service, fast-food, barzinhos chiques e outras chateações mórbidas e barulhentas.

Em compensação, ninguém liga pras baforadas pretas dos ônibus, dos caminhões, dos automóveis, das 4x4 e das motos estridentes, verdadeiros peidos urbanos metralhados nas narinas indefesas dos pedestres em toda parte o tempo todo. Tudo bem, é puro CO2, veneno de primeira e que mata de verdade, fora o banho de óleo diesel queimado e de graça na nossa pele morena e bronzeada. Liberadíssimas também são as drogas “legais”, desde as mais baratas até as mais caras, vendidas com ou sem receita médica nas boas farmácias e cadeias de drogarias. Os flagelos do crack e da cocaína ficam para a “Seção de Polícia”, coisa de gentinha, drogas de cadeias, não devem nos preocupar e nem são problemas de gente civilizada.

Agora, vão pondo fim na chamada “Festa da Democracia”. Interrompida nos tempos da ditadura, voltou com força total na “anistia” e balançou as roseiras na década de 80. Depois foi murchando, murchando... até o enterro que vimos no domingo passado. Eleitores indo para as urnas como se tivessem indo a um cartório fazer uma cópia autenticada ou reconhecer a firma. Iam, votavam, pegavam o papelinho e voltavam pra casa jururus e de cabeça baixa. Pobre brasileiro, triste Brasil.

Se o leitor acha que é saudosismo, acertou. A alegria dá uma saudade danada na gente.


Edis de quarta geração

Preto do Sacolão, Ratinho da Prefeitura, Cheta da Bicicletaria, Zeca da Locadora, Zézé (com dois acentos mesmo) Secretária do Dr. Boaventura, Guinho, Marcos da Santa Casa, “O Vibrante”, Edinho do Açougue, Paulinho Motorista, Bispo Chambarelle, Balbino da Ambulância, “Sapão”, Itamar do Sindibel, Adão do Samu, Roney da Casa de Apoio, Tôcha, Pracatá da Cemig, Aninha de Fizica, Groselha, Domingos do Inss, Binga, Egnaldinho do Restôrante, Prego, João da Madalena, Roberto Cínico, Zé do Chefe, Ferruge, Tulio Pára Bala, Edinho do Som, Zé Rulinha, Chapisco, Helena da Copasa, Maninho de Dó, Varmi, Doce Veneno, Ana do Padre Frederico, etc e tal, são os nomes de alguns vereadores eleitos colhidos aleatoriamente no site do TRE-MG pela Gazeta. Nada contra esses legítimos representantes do povo nem contra o uso do apelido ou do “nome de guerra” na batalha das urnas (ou da grana pública). Mas, como diz o meu amigo Elyseu Visconti: “Vamos com calma! Vamos com calma!”


Coluna Social (ou de interesse próprio)

Nos jornais a tal “Coluna Social” nunca teve nada a ver com os “movimentos sociais” ou com os interesses da sociedade. O que eles chamam de “sociedade” são os amigo$ do colunista que pagam para divulgar o que lhes é de interesse próprio. A Gazeta é completamente diferente: apesar de manter a tradicional retranca (Coluna Social), nela não há a pecúnia, e a coluna só publica o que é de interesse do próprio gazeteiro. Seguem-se duas notas, para exemplo:

Dia 25 de outubro tem o lançamento do livro Biologia da Libertação: ciência, diversidade e responsabilidade (Organizador: Beto Vianna; Mazza Edições, BH, 2008), no Café da Travessa Livraria (Rua Pernambuco, 1.286, Savassi, BH). O livro reúne 19 autores - biólogos, antropólogos, psicólogos, lingüistas, filósofos, jornalistas, estudantes e artistas - de sete países, discutindo as muitas faces do universo biológico-político. O evento começa às 10h da manhã. Apareça, coma uns quitutes e leve sua Libertação para casa. (A Gazeta informa: um dos 19 autores é o próprio gazeteiro).

Rodrigo Leste está em Caracas para contatos com editores, políticos, artistas e quem mais que tenha a ver com a Revolução Bolivariana. A idéia é fazer uma ponte cultural entre a turma da pesada de lá e a turma da pesada daqui. Vai muito bem indicado pelo escritor e tradutor Eliseo Escobar (venezuelano que mora no Rio e é amigo do nosso querido companheiro Gilberto Felisberto Vasconcellos), que passou a ele dicas e orientações da melhor qualidade. Leva o seu premiado poema A Infernização do Paraíso (divulgado em primeira mão pela Gazeta) para ser traduzido e, se der tudo certo, publicá-lo lá. Com os mesmos objetivos, Rodrigo leva também o inédito Gloria al Bravo Pueblo – A Guerra Midiática na Venezuela, de autoria deste gazeteiro.


Não perdi meu voto

Este gazeteiro ficou muito orgulhoso com os 2.821 votos obtidos por Yé Borges nesta eleição, numa campanha zero-oitocentos de boca-a-boca. É muito voto dado numa boa, por pura fé no candidato e sem interesse pessoal nenhum. Igualmente, o orgulharam os 42.812 votos dados a Sérgio Miranda, apesar da campanha equivocada em que o candidato se meteu. A Gazeta cumpriu o seu papel: criticou e malhou o programa logo no comecinho, e disse na lata o que poderia ser feito. Mas quem seguiu o conselho (tendo ou não lido a Gazeta) foi o candidato Leonardo Quintão. No meio da campanha, ele dispensou o marqueteiro e as mentiradas de vender sabonete, e tratou de falar a verdade de frente e no olho do eleitor. Se deu bem e foi para o segundo turno, coisa que nem ele esperava. Imaginem se fosse o Sérgio Miranda que tivesse feito isso?! Estaria lá, pois tem discurso pra dar com pau três vezes nesse Quintão, que, se ficasse no quintão lugar, para ele ainda seria lucro. O que sobrou de positivo é que o resultado pegou no pé dos caciques locais, Aecinho Cunha e Pimentel, que jogaram todas as fichas na vitória no primeiro turno do candidato que escolheram para enfiar goela abaixo do eleitorado. Assim, este gazeteiro considera que não perdeu seu voto por ter votado em Sérgio Miranda e Yé Borges; quem perdeu foi Belo Horizonte.


Meu voto no segundo turno

Contra Aécio Cunha; contra Pimentel; contra Carlos Lacerda; contra Marcio Lacerda; contra o caciquismo; contra o neocoronelismo de município (nem de província é); contra os pseudo-esquerdismos, os petucanismos e todos os udenismos, os velhos e os neos. E não é branco nem nulo, é Leonardo Quintão! Que se há de fazer?


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com).

Copyleft e copyright totalmente liberados. “Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado em todas as línguas.”

Gazeta em forma de e-meio 65 - Extra (1/10/2008)

Repasso, nesta edição extra, o e-mail que recebi de Gustavo Gazzinelli, cujo conteúdo acho muito bom, além de oportuno, eis porque o subscrevo na íntegra, com as únicas e seguintes alterações:

a) nome e número do candidato a vereador (substitui pelos do meu candidato)

b) nome do governador de Minas, que substitui pelo nome verdadeiro dele: Aécio Cunha, filho homônimo do pai, um prócer udenista e "revolucionário de primeira hora". Além de ser um perfeito herdeiro político do pai e não do célebre avô por linha materna (e de quem não guarda nenhuma semelhança física, intelectual, ideológica ou política), Aécio Cunha (filho) tenta, ao se valer do sobrenome materno e não do paterno (como é de praxe), usurpar o prestígio e o carisma que o falecido avô deixou na memória do eleitorado mineiro.

Vai pela lista da Gazeta e, como não tenho meios de filtrar só os endereços de BH, peço a paciência e a boa vontade dos demais, se é que a mensagem, por seu importante conteúdo ou com as devidas adequações locais, não lhes seja útil também.

Abraços

Mario Drumond


Segue a íntegra do e-mail de Gustavo Gazzinelli (com as alterações acima mencionadas):

Amigos,

Vamos nos dar a oportunidade de um 2º Turno em BH, com condições iguais de apresentação das propostas e de garantias que representem algo mais palpável e cobrável do que este "continuar e melhorar".

Eu voto em Sérgio Miranda para Prefeito – nº 12.
www.sergiomiranda12.can.br

Eu voto em Yé Borges para Vereador – nº 12321.
www.yeborges12321.can.br


Porque não voto na “Aliança”

O que é a Aliança?

É o pacto entre Aécio Cunha e Fernando Pimentel, que visa eleger Márcio Lacerda prefeito, Fernando Pimentel governador e Aécio Cunha presidente da República. Você já notou que os programas do Márcio Lacerda falam mais do Pimentel e do Aécio do que do próprio Lacerda? E que esqueceram do terreno e das políticas realizadas por outras gestões, para "Pimentel" ser ou posar de o "grande realizador" da nossa cidade?!!?!

Esta aliança não é programática - é pessoal, é para reunir algumas "famílias" em torno e no cerne do poder.

Agora, antes de passar às razôes por que não apóio os projetos político-pessoais de Aécio e Pimentel, confira os abusos desta eleição na ação do Ministério Público Eleitoral, no link para a íntegra da ação, veiculada pelo jornal O Tempo:
http://www.otempo.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=15930.


Por que não apóio o Programa Pimentel

1] Pimentel joga contra a democracia participativa, uma das formas mais eficazes de fiscalizar, acompanhar e participar de uma administração complexa como a de uma grande cidade.

Pimentel trabalhou duro para minimizar a independência dos conselhos municipais, especialmente aqueles que põem limites à pretensão dos grandes proprietários de terras urbanas, os conselhos de Meio Ambiente e do Patrimônio Cultural. A representação da "sociedade civil" nestes conselhos é agora definida pelo Chefe do Poder Executivo Municipal, como se coubesse a ele ser simultânea e teocraticamente representante legítimo do Poder Executivo e dos interesses da Sociedade Civil.

2] Pimentel acabou com o espírito plural e multisetorial da governança da Capital de Minas, com a Reforma Administrativa que amarrou os representantes de áreas técnicas que passaram a dever obediência hierárquica a super-secretários, que colocam regularmente as "parcerias" político-econômicas, acima da dignidade técnica de diferentes áreas/secretarias de governo.

3] Pimentel, depois de dura conquista de 10% do capital da COPASA (quando da renovação da concessão, por mais 25 anos, em 2000/2001) pela administração anterior da Prefeitura de Belo Horizonte, leiloou (em junho de 2008) estas ações, para fazer algumas "obras sociais" e viárias, pavimentar as ruas na época eleitoral, reduzindo o poder de barganha da cidade na gestão do recurso natural mais estratégico que possui: a água.

4] Pimentel, em "aliança" com Aécio, abriu a porteira para a MBR/Vale minerar Capão Xavier, em cima de quatro mananciais de abastecimento público de Belo Horizonte: Fechos, Mutuca, Catarina e Barreiro – responsáveis pelo abastecimento da Zona Sul e de boa parte do Barreiro, há mais de 50 anos.

5] Auxiliar direto de Pimentel foi pego com a mão na cumbuca do Mensalão, assim como o candidato da Aliança também foi.


Por que não apóio o Programa Aécio Cunha

1] O governador de Minas é o maior representante do setor da mineração na política brasileira – setor este que prepara e executa a destruição das paisagens e dos mananciais de água de excelente qualidade na região do Quadrilátero Ferrífero e Aqüífero de Minas Gerais (Eixos/Vetores Sul e Leste da Região Metropolitana de BH) - em plena era do Aquecimento Global. (Aécio teve 40% de sua última eleição patrocinada pelo setor minerador. Imaginem, para presidente...)

2] Aécio Cunha colocou a área de Meio Ambiente do governo estadual para funcionar como cartório dos interesses econômicos incompatíveis com a preservação ambiental.

3] Aécio e seu então secretário, Márcio Lacerda, assinaram o Decreto "sem número", de 05/03/2008, que autoriza o grupo MMX (atual Anglo Ferrous), a realizar o Mineroduto Minas-Rio, antes que o licenciamento ambiental da Mina, em Conceição do Mato Dentro, tenha sido aprovado - e ainda não foi. Foram, assim, criadores de fatos consumados, pela autorização de empreendimentos sabidamente incompatíveis com a preservação de uma das regiões mais preservadas do Estado, além de autorizarem, sem consultar as populações atingidas, uma transposição de águas proporcionalmente muito superior à do Rio São Francisco. Aguardem o mineroduto da Vale na região do Serro e o da Ferrous na Serra Azul, aqui pertinho de BH...

4] Aécio Cunha fez a linha verde, sem a menor garantia legal do uso e ocupação do solo no vetor Norte da RMBH. Está aberta a porteira para a grande especulação imobiliária e a transformação de Belo Horizonte numa nova São Paulo. A via dupla e os viadutos que hoje impressionam serão, em poucos anos, cenário pavoroso que acabará com a qualidade de vida da Região Metropolitana. A linha Verde será o grande legado da desastrosa carreira de Aécio Cunha – que transformará o vetor Norte da RMBH numa Grande Ribeirão das Neves.

Pensemos nisso.
Vamos nos dar a oportunidade do 2º Turno em BH, com condições iguais de apresentação das propostas e garantias que representem algo mais palpável e cobrável do que este "continuar e melhorar".

Gazeta em forma de e-meio 65 (30/9/2008)

Global aluxinasion

Começaram em 11/9/2001, derrubando torres gêmeas e bolsas de valores, num trailler do espetáculo macabro pré-roteirizado em oficinas pentagonais. No elenco, todos os medíocres do mundo teriam chances, de preferência os quadros psicopatológicos mais assanhados. Dinheiro, muito dinheiro: real, digital, virtual e imaginário. Armados com os canhões de roliúde, da mídia, do urânio empobrecido, do enriquecido, das bombas de rácimo e tudo o mais que o capeta do dinheiro e a tecnologia do capeta poderiam conceber e fornecer, inauguraram a saga da Nova Inquisição. E uma religião pop: o Fundamentalismo Megalômano. Novos cruzados, cristãos novíssimos e gângsteres de quarta geração, assessorados por histriões midiáticos e iupes idióticos, em ritmo de ação alusionada no comando de exércitos de cucarachas, pobres coitados e buchas de canhão. Não queimaram bruxas em fogueiras, queimaram populações com bombardeios de alta resolução. Molloch em escala planetária: extermínio em massa; milhares, milhões de corpos de homens, mulheres, velhos e crianças despedaçados entre ruínas fumegantes e rios de sangue. A orgia do capital. Tudo conforme o roteiro e o trailler de abertura. Em nome da “liberdade” e da “democracia”, abriram rotas de “destruição total” nas oito direções cardeais, ostentando a bandeira listrada, cantando o God Save the Queen, “iluminados” e “escolhidos” pela estrela de Davi. Nos quatro cantos do mundo, por menor que fosse uma aldeia ou uma cooperativa de camponeses que desejasse fazer uma horta ou uma obra comunitária, não davam paz nem trégua: massacravam. Produziram estragos gigantescos, causaram enormes dores e sofrimentos, cultivaram um ódio jamais conhecido. Mas não foram muito longe. Conteve-os a força e a fraternidade dos povos – que, à revelia do roteiro, fizeram despertar -, liderados pela lucidez e a coragem de alguns justos. Acabaram ontem, 29/9/2008, com as bolsas derrubadas e vazias e os castelos de areia que erigiram sobre os latifúndios do nada levados ao vento. Fim da História... deles.

Isto não quer dizer que a guerra acabou. Os de sempre continuam lá.


A descidadanização do cidadão brasileiro

Pedro Porfírio publicou ontem um artigo brilhante na Tribuna da Imprensa. Vale conferir: http://www.tribunadaimprensa.com.br/porfirio.asp. É um quadro em traços fortes, seguros e precisos do que estamos vivendo neste processo eleitoral. Uma campanha brocha, o eleitorado sem tesão, é o que temos hoje, ao que parece, por todo o país.

“Estamos a menos de uma semana do dia em que as cidades conhecerão os titulares dos poderes locais - novos ou não -, e não se pode dizer que a cidadania está ocupada na tarefa de estudar criteriosamente os valores que presidirão o seu direito de escolha, prerrogativa tida e havida como a certeza de que desfrutamos da mais frutífera relação entre governantes e governados. A forja da manipulação é quem dá as cartas, determinando o que cada um deverá fazer na hora da verdade nada verdadeira.” – escreve, com sabedoria, o colunista.

E, num outro trecho: “Mirem os aspirantes a timoneiros de nossas urbes e pouco de conteúdo se perceberá em seus discursos. Parece um castigo de Deus: esses pretensos próceres não são líderes, não têm rastros na história e se pintam como os preferidos, o são em função dos truques e de uma terrível ditadura instalada em nosso universo, aquela que foi inoculada em nosso próprio sangue.”

Que diferença negativa para nós, se comparamos este quadro com o que está ocorrendo em países vizinhos como a Bolívia, o Equador, o Paraguai, a Argentina e a Venezuela!

Se o leitor dispuser de banda larga, visitar sites como os da TeleSur (http://www.telesurtv.net/ ) e da VTV - Venezolana de Televisión (http://www.vtv.gob.ve/) e assistir a alguns de seus programas noticiários e de opinião, através do señal en vivo, sentirá a pulsação e o tesão de uma cidadania sendo construída pela consciência vibrante das massas, em pleno e fascinante processo verdadeiramente democrático e participativo. Um processo onde o cidadão não se permite ser representado por quem quer que seja, ele reivindica o direito de ele mesmo participar ativamente de todas as decisões.

Tudo sob um fogo cerrado e contínuo de todos os poderes imperiais e midiáticos que tentam derrubar seus líderes e suas revoluções por todos os meios possíveis, inclusive os mais violentos, do genocídio ao magnicídio, abertamente e sem pudores.

Bem, é verdade que aqui não temos tais problemas. Estamos sendo lentamente descidadanizados... e, ao que parece, estamos gostando disso, não?

Mas eles são mais felizes e alegres. Eles fazem a revolução; nós, a entregação.


Meu voto (entusiasmado)

Prefeito: Sérgio Miranda (12)

Vereador: Yé Borges (12321)



Abraços

Mario Drumond

Em tempo: Ontem, a única Bolsa de Valores do mundo que obteve resultados positivos foi a de Caracas. Nestes dez anos, o governo Chávez tratou de desvincular a economia venezuelana de Wall Street. Se deu bem! Nenhuma “mídia especializada” publicou o fenômeno.


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com/).


Copyleft e copyright totalmente liberados. “Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado em todas as línguas.”

Gazeta em forma de e-meio 64 (24/9/2008)

Os “11 princípios da propaganda moderna”

Os enunciados dos “11 princípios da propaganda moderna”, até hoje rigorosa e integralmente praticados, são atribuídos a Joseph Goebbels pelo Wikipédia (em espanhol). Tal atribuição é suspeita, e não só em relação ao nome do citado prócer nazista. Não há referências bibliográficas que apontem para a autoria deles e nem enlaces históricos sólidos o suficiente para afirmá-la em quem quer que seja.

Além do mais, os enunciados não representam necessariamente verdade ou sabedoria que se possa levar a sério só porque se apresentam, se pretendem e sejam utilizados como tais. Pelo contrário, não resistem ao menor aprofundamento analítico ou crítico.

Não passam de táticas chinfrins de guerra suja e não têm nada de moderno nem de novo. Não faltam - na história toda! - expedientes como os que enunciam, em particular quando a humanidade se conduziu para o equívoco, o retrocesso, a perda, o reacionarismo e o despotismo, senão ao abismo mesmo, da estupidez e da insensatez.

Pelo corte do texto, nos seria mais crível se viesse associado ao sionismo, gueto obscuro do pensamento onde se congregam e se cultivam mentes dedicadas a gerar esse tipo de bobagens. Há nos enunciados parentescos visíveis de linguagem e conteúdo com coisas como os “Protocolos dos Sábios de Sion”, “Holocausto” de judeus, ademais da maior parte de conteúdos racistas, homofóbicos, sectários e preconceituosos que proliferam em todas as mídias, agora e sempre. Wikipédia, inclusive, vem sendo bombardeada por invasões sionistas destinadas a gerar caos e descrédito nos conteúdos que lá iam, até então, sendo incluídos com os louváveis propósitos de compartilhamento e colaboração mundial em prol do conhecimento. O site Rebelión tem denunciado tais sabotagens.

Ao tocar o tema “Holocausto”, este gazeteiro sabe, de antemão, transgredir recente resolução da ONU a respeito. Porém, tal resolução não tem efeito aqui. A Gazeta não reconhece autoridade ou jurisdição, sobre o pensamento de seu gazeteiro e de seus leitores, da ONU ou de nenhuma pessoa física ou jurídica de qualquer nacionalidade ou internacionalidade, classe social ou nível hierárquico, credo religioso ou político, profissão ou especialidade, filiação partidária, raça, idade, estado civil ou militar.

Como os “11 princípios” têm sido alardeados com certa admiração até por gente boa que pensa ter descoberto a pólvora logo ao conhecê-los, a Gazeta os expõe aqui seguidos de comentários que talvez ajudem a desmistificá-los e devolvê-los ao rodapé da produção intelectual histórica, sem, contudo, poder evitar que lá permaneçam à disposição dos roedores ou publicitários que deles se servem à bastança.

1. Princípio da simplificação e do inimigo único. Adotar uma única idéia, um único símbolo. Individualizar o adversário num só inimigo.

É a surrada idéia do diabo em cada esquina; mais velha que a serra. O “mal absoluto” deve ser sempre combatido para a salvação do “bem absoluto”. Nem Pilatos caiu nessa; lavou as mãos.

2. Princípio do método de contágio. Reunir diversos adversários numa só categoria ou indivíduo. Os adversários hão de constituir uma soma individualizada.

Mais do mesmo em relação ao primeiro “princípio”. O “terrorismo” cristão, o “terrorista” Jesus. Se veste bata e usa barba, há que crucificá-lo. Aos “hereges” de Torquemada, há que queimá-los e purificá-los. Aos “terroristas” de Bush, há que pulverizá-los com urânio empobrecido. Viva a tecnologia de ponta radioativa (é “método de contágio”, ou não é?). Pensamento no nível de um tenente de cavalaria: Custer e os Cruzados. E a Santa Inquisição, por certo.

3. Princípio da transposição. Atribuir ao adversário os próprios erros ou defeitos, respondendo ao ataque com o ataque. “Se não pode negar as más notícias, inventam-se outras que as dispersem”.

Começa a dar as caras a confiança que os propagandistas de ofício possuem na estupidez das massas. Na verdade, tal estupidez não existe em estado natural. Para existir é preciso que seja devidamente propagada (vide “método de contágio”, no segundo “princípio”), isto é, ela começa, necessariamente, na estupidez dos próprios propagandistas. O estado natural das massas é o da sabedoria.

4. Princípio da exageração e desfiguração. Converter qualquer caso, por mais insignificante que seja, em ameaça grave.

Outra vez, mais do mesmo do “princípio” anterior. Aqui, acrescem-no o mau gosto, a ansiedade dos entediados e a necessidade (quase histérica) de autovalorização dos publicitários e os novos ricos que os pagam. É o princípio dos problemas para divãs (luxuosos) de psicanalistas.

5. Princípio da vulgarização. Toda propaganda deve ser vulgar, adaptando seu nível ao menos inteligente dos indivíduos a que se dirige. Quanto maior for a população a convencer, menor há de ser o esforço mental a realizar. A capacidade receptiva das massas é limitada e sua compreensão escassa; ademais, têm grande facilidade para olvidar.

“Princípio” por demais óbvio: a propaganda só é propaganda se for vulgar e adaptada ao menos inteligente dos indivíduos a que se dirige, sendo os primeiros deles os próprios “criadores”, ou seja, os propagandistas de ofício. E os que lhes pagam, logo a seguir, claro; do contrário, não vão querer pagar. Dá pra perceber que esses caras não entendem nada sobre a capacidade receptiva das massas e outros babados; quem entende? Mas quem acha que entende... esse, coitado! É o caso de Bush, sob os apupos dos povos do mundo inteiro: “- Por que nos odeiam?” – perguntou o imbecil a Condolezza Rice.

6. Princípio da orquestração. A propaganda deve limitar-se a um número pequeno de idéias e repeti-las incansavelmente, apresentá-las uma e outra vez em diferentes perspectivas, porém sempre convergindo para o mesmo conceito. Sem fissuras nem dúvidas. Daqui vem a famosa frase: “Se uma mentira é repetida suficientemente, acaba por converter-se em verdade”.

Outra obviedade. É claro que a propaganda está limitada a um número pequeno de idéias. Ela só pode estar limitada às idéias de quem as “criam”, não? Quanto à repetição, diz respeito a técnicas de hipnose, autismo e outras subliminaridades mecânicas das funções cerebrais sobre as quais Pavlov e outros estudiosos trabalharam, demonstrando-as como prejudiciais à saúde física e mental das pessoas atingidas. Recomendaram, inclusive, a proibição de tais técnicas e as compararam às de tortura.

A “famosa frase” (a original, encontrada nos “Protocolos” é: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade” – nota do revisor) é uma mentira que vem sendo repetida, pelos próprios publicitários, ad infinitum, mas não convence a ninguém a não ser como frase de efeito, com defeito. E o que isso tem a ver com a palavra “orquestração”, só eles sabem, se é que sabem lá o que seja orquestração.

7. Princípio da renovação. Há que emitir constantemente informações e argumentos novos a um ritmo tal que, quando o adversário responda, o público já está interessado em outra coisa. As respostas do adversário nunca hão de poder contrapor o nível crescente das acusações.

Este princípio de renovação não renova nada. Deveria se chamar tática da balbúrdia. É o caso do sujeito que não tem argumentos e fica vomitando sandices para não ouvir a argumentação dos demais de uma roda. Esse tipo enche o saco de qualquer um. É tal e qual a propaganda, ninguém agüenta ficar por perto. Acaba falando sozinho, diante do espelho, num manicômio qualquer. Lembra muito aquele embaixador dos EUA, na ONU, advertindo aos dos demais países do mundo: “-Vocês acabam ficando isolados!”

8. Princípio da verossimilhança. Construir argumentos a partir de fontes diversas, através das chamadas pesquisas de opinião ou de informações fragmentárias.

Este é o “princípio” do “me engana que eu gosto”. Aplicável, em primeiro lugar, claro, aos próprios publicitários, a seus patrões e aos clientes dos patrões. E, depois, aos otários de plantão (sempre estão lá). Andou dando certo há uns tempos, mas, agora, deu para trás na Venezuela, na Bolívia, no Equador, na Nicarágua, no Paraguai, na Argentina, em Honduras, na Guatemala, e por aí vai. Nunca deu certo em Cuba, nem nos países do “eixo do mal”. Funciona bem só nos EUA, dizem que também na Europa. No Brasil já está rateando. Não dura muito. É que ele não tem nada de verossímil!

9. Princípio do silêncio. Calar sobre questões sobre que não se tem argumentos e dissimular as notícias que favorecem ao adversário, também contraprogramando com a ajuda de meios de comunicação afins.

Finalmente, um princípio que é princípio mesmo. Em boca fechada não entra mosca, diz o ditado. Na falta de meios... boca de siri. E nunca faltarão empresas de comunicação “a fins” de uma grana gorda para “contraprogramar”.

10. Princípio da transfusão. Por regra geral, a propaganda opera sempre a partir de um substrato pré-existente, seja uma mitologia nacional ou um complexo de ódios e problemas tradicionais. Trata-se de difundir argumentos que possam fixar-se em atitudes primitivas.

Rapaz, este é cabeça! Transfusão!? Será alguma confusão de tradução? Seja lá, é assim que nos chegou em espanhol. Substrato, mitologia nacional, complexo de ódios, problemas tradicionais... é fogo na cumbuca essa tal de propaganda. Não é mole, não! Quer nos pegar pelo pé justamente em nossas atitudes primitivas. Quê que é isso!? Eu, heim! Barbárie? Bem dizia Rosa Luxemburgo: ou socialismo, ou barbárie.

11. Princípio da unanimidade. Chegar a convencer a muita gente de que pensa “como todo mundo”, criando uma falsa impressão de unanimidade.

Ufa! Chegamos ao último. “Toda unanimidade é burra”, disse Nelson Rodrigues. Acho que o dito resume bem o undécimo “princípio” e resume também todo o conteúdo undecalógico deste publicitês barato e sem princípios e que vem recebendo a adoração unânime de publicitários, seus patrões e clientes, além dos otários de sempre.

Goebbels trabalhou com gênios como Leni Riefenstahl, Kurt Joss, Rudolf Laban e Mary Wigman, entre outros. Não podia ser tão burro assim.


Abraços

Mario Drumond

Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com).

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Gazeta em forma de e-meio 63 (14/9/2008)

Uma vergonha

Lula disse que só vai à reunião da Unasul, na segunda, 15/9/2008, que foi convocada pelo presidente Rafael Correa, do Equador, para apoiar e dar respaldo continental ao governo democrático da Bolívia, “se Evo Morales e a oposição na Bolívia pedirem”; senão, disse Lula, “será uma ingerência em outro país, e isto o Brasil não admite”.

O que ele chama de “oposição na Bolívia” é um exército paramilitar armado até os dentes pela embaixada dos EUA, incluindo muitos integrantes que só falam inglês, que comandam bandos de baderneiros, arruaceiros e delinqüentes de toda espécie, igualmente pagos e municiados pela mesma embaixada, e que, nos últimos dias, promoveram um massacre a bala contra camponeses desarmados (18 mortos e mais de 70 feridos), invadiram e depredaram patrimônios e repartições públicas federais, associações de bairros, sindicatos operários e camponeses, jornais, rádios e televisões, empresas públicas de telefonia, de águas e de eletricidade, e tudo mais que porventura apóia ou diz respeito ao governo de Evo Morales (que acabou de receber um maciço apoio popular de 70% do eleitorado com toda a mídia hegemônica nacional e internacional contra ele), em eventos de grotescas boçalidades, de aberta violência e exacerbados vandalismos, incêndios criminosos de refinarias, empresas públicas e sedes de sindicatos e associações, além de atos verdadeiramente terroristas como a explosão de oleodutos e gasodutos, tudo isso em quatro grandes estados do país e de forma sincronizada, coordenada e sob a orientação direta de Washington.

As Forças Armadas bolivianas, cujo comandante-em-chefe não é o presidente da República, mas um títere dos interesses alienígenas, assistiram a tudo de braços cruzados.

Porém, militares leais a Evo Morales flagraram toda a conspiração que foi coordenada de dentro da própria embaixada dos EUA em conexão com Washington, mas isto Lula não chama de “ingerência”, e o Brasil admite, sim, em covarde silêncio.

Todos os governos latino-americanos tomaram conhecimento e manifestaram os mais contundentes protestos. Evo Morales, em ato corajoso e soberano, expulsou da Bolívia o embaixador dos EUA. Em solidariedade a ele e por ser vítima de semelhante conspiração em seu país, incluindo até o magnicídio, Hugo Chávez também expulsou da Venezuela o embaixador dos EUA. Em Honduras, o recém eleito presidente Manuel Zelaya adiou o recebimento das credenciais do novo embaixador dos EUA por tempo indeterminado e até que a situação da Bolívia se normalize, e se dê por encerrada a ingerência espúria no seu processo democrático. Rafael Correa, presidente do Equador, também em contundente manifestação de apoio a Morales, pediu a convocação de emergência da Unasul para impedir que os desejos do povo boliviano expresso nas urnas não seja usurpado por bandos de vândalos, facínoras e terroristas que o ameaçam. Argentina, Paraguai, Chile, Nicarágua, Cuba, Uruguai, Peru e até a Colômbia, do narcoparapresidente Álvaro Uribe, manifestaram inequívoco apoio a Morales e confirmaram presença na reunião da Unasul. Somente o presidente do Brasil não se pronunciou, foi o Itamaraty que emitiu umas notas, com certa veemência mas também com suficiente vaselina para escorregarem legal nas gargantas profundas do Pentágono.

Agora, não tendo outra saída, Lula se pronuncia e dá legitimidade à “oposição” na Bolívia para convocar uma reunião da Unasul. Além disso, Morales tem de “pedir” a reunião. Ou seja, antes de dar o apoio a uma democracia violentamente ameaçada como a da Bolívia, inclusive com graves ameaças aos próprios interesses brasileiros, é preciso que o presidente Morales se ajoelhe na humilhante posição de pedinte. E a “oposição” a ele terá também de consentir na humilhação. Senão, é “ingerência”!?

Ao dizer o que disse, Lula conta com o bloqueio da mídia brasileira sobre a verdade na Bolívia. Mas hoje temos a internet, que sempre escapa a censuras. A Gazeta, por exemplo, conserva em seus favoritos quase uma centena de sites de opinião, jornalismo, rádio e televisão da melhor qualidade, com quadros de jornalistas de verdade, que pesquisam, confirmam informações, sabem escrever e não são paus-mandados de ninguém. Além disso, temos conexões com jornalistas e profissionais bem informados que nos passam ou repassam informações importantes e consistentes Assim, não adianta para nada a baboseira publicada pelos jornalistinhas pré-pagos da imprensa brasileira copidescando material de “agências de notícias” européias e norte-americanas.

Não sei o que está havendo com o nosso governo, ou com o nosso país. Dizem os jornais e as pesquisas da mídia hegemônica que a popularidade de Lula é a maior já registrada. A mesma notícia vem sendo repetida sistematicamente há anos, creio que desde a primeira eleição dele. E vem sendo confirmada nas urnas eletrônicas, que não confirmam o voto por escrito ao eleitor. Temos também de considerar que às massas não é dada outra alternativa. Ou é Lula, ou é quem?

Mas a questão aqui é a seguinte: não tínhamos tradição de governos populares pusilânimes e entreguistas no Brasil; este é o primeiro, infelizmente.

E a Quarta Frota cercando os novos poços da Petrobrás na Bacia de Santos. Se isto não é ingerência, o que é então, presidente? Ajuda militar?


Abraços

Mario Drumond

Em tempo: a presidenta do Chile, Michele Bachelet, que, na qualidade de presidenta de turno da Unasul e convocadora oficial da reunião, telefonou para Lula e o intimou a participar, independente de pedidos de Morales ou da “oposição na Bolívia”. Lula vai.


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com).

Copyleft e copyright totalmente liberados. “Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado em todas as línguas.”

Gazeta em forma de e-meio 62 - Extra (12/9/2008)

O povo belorizontino está em luta mas ainda não está de luto: quer devolver a escola de samba mais antiga e vitoriosa de seus carnavais, o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Cidade Jardim, ao tradicional barracão que ela construiu com os próprios recursos e ocupou durante mais de 30 anos no Conjunto Santa Maria, na zona sudoeste da cidade.

Em 19 de agosto passado, a Prefeitura, de surpresa e rompendo acordo feito 15 dias antes, executou o despejo do G.R.E.S. Cidade Jardim, por ordem judicial e com força policial.

O despejo, disfarçado de propósitos sociais, na verdade atende a interesses das oligarquias municipais e foi imediatamente repudiado pela comunidade do Conjunto Santa Maria, em manifestação por escrito chancelada pela associação do bairro.

Hoje, 9 de setembro de 2008, as lideranças populares e políticas descontentes com mais este ato de despotismo e de insensibilidade das autoridades diante dos valores culturais e históricos da cidade, se reuniram para debater o tema e redigiram o seguinte Manifesto.


Manifesto Cidade Jardim
Em defesa de uma das maiores riquezas nacionais: o samba.


O carnaval ainda é a maior manifestação da cultura popular brasileira.

Feito de alegria e liberdade, duas forças irmãs que não podem ser separadas, tem por alimento o samba, uma das maiores riquezas nacionais.

Os barracões das escolas de samba são as usinas de criação e produção dessa riqueza, única no mundo e genuinamente brasileira.

Nas últimas décadas observou-se o desmonte paulatino e sistemático das estruturas sociais e históricas que deram berço, vida, crescimento, exuberância e transcendência mundial ao carnaval brasileiro, no decorrer de quase todo o século passado.

O despejo da Escola de Samba Cidade Jardim de seu barracão é parte dessa estratégia, e não atinge somente uma propriedade social de tradição, o que por si já o torna um ato despótico uma vez que as comunidades atingidas não foram consultadas.

Deve ser visto como um atentado aos interesses nacionais e populares, e como tal deve ser encarado por todos os brasileiros que amam o samba e o Brasil.

Se concretizada a perda de seu barracão, será o fim da Escola de Samba Cidade Jardim.

E – por que não? - o precedente aberto para o fim das escolas de samba em todo o país, cujos barracões ocupem terrenos cobiçados pelas oligarquias locais.

O carnaval de Belo Horizonte já foi o segundo maior carnaval brasileiro. Nele brilharam músicos, passistas, bailarinas e artistas do samba que encheram de orgulho histórico e artístico não só a nossa cidade, mas, também, o nosso estado e todo o país.

Hoje, depauparado pela incúria e o descaso das administrações municipais, estaduais e federais, em particular as dos últimos dez anos, é um carnaval moribundo e não pode sequer reivindicar sua colocação entre os dez maiores. O fim da nossa principal e mais tradicional escola de samba (quase meio século de glórias carnavalescas!) poderá significar o golpe de misericórdia no nosso carnaval.

Para impedir que tal atentado se concretize, conclamamos o apoio e a solidariedade:

- de todas as escolas de samba de Belo Horizonte;

- de todas as escolas de samba de Minas Gerais;

- de todas as escolas de samba do Brasil;

- de todas as entidades vivas de cultura brasileira;

- de todos os brasileiros que não abrem mão do samba como alimento da alegria e da liberdade do nosso povo.


Pelo samba e as escolas de samba!
Pela cultura popular brasileira!
Pelo renascimento do autêntico carnaval no Brasil!


Belo Horizonte, 9 de setembro de 2008.


(assinatura dos presentes)

(adesões: www.grescidadejardim.wordpress.com)

Gazeta em forma de e-meio 62 (12/9/2008)

"Aquí hay un pueblo digno, yanquis de mierda. Váyanse al carajo 100 veces" (Hugo Chávez, em comício eleitoral no estado de Carabobo, ao expulsar o embaixador dos EUA na Venezuela, em solidariedade à Bolívia, 11/9/2008)


Bolívia resiste

A Gazeta 34 (25/4/2008) publicou o seguinte comentário:

“É de estarrecer a indiferença brasileira em relação ao que está acontecendo neste momento na Bolívia, a partir do movimento secessionista – tipo Kosovo – que o Império patrocina para derrubar Evo Morales e se apossar das imensas reservas de gás do subsolo daquele país. Somos, depois da Bolívia, o país mais ameaçado; a verdade é que, se não fosse por Evo Morales e sua política integracionista, o Brasil estaria imerso num apagão desastroso, pois é o gás que a Bolívia nos fornece que supre a nossa atual carência de geração de energia elétrica motivada pelos descalabros da política neoliberal de que ainda somos vítimas ingênuas. Já deveríamos estar mobilizando tropas para a fronteira da Bolívia a fim de ajudar Morales a defender os acordos que nos vem honrando, apesar de firmados por governos anteriores ao dele e em claro prejuízo aos interesses do seu país. Se as reservas de gás da Bolívia caem nas mãos dos gringos e seus lacaios, o Brasil estará imediatamente sob chantagem mafiosa e vampiresca: ou ficamos no escuro ou nos submetemos à extorsão que nos será imposta. E quem nos defende?”

Pois é, hoje, menos de cinco meses depois, quando os gasodutos da Bolívia estão sob grave ameaça por bandos de baderneiros incendiários pagos pela embaixada dos EUA, que já explodiram um e fecharam as torneiras de outro, o Itamaraty emite uma nota de apoio a Evo Morales!?

Nota de apoio... os delinqüentes chantagistas que querem se apoderar das riquezas do nosso vizinho (e as nossas também) não estão nem aí para as notas do Itamaraty. Já avisaram que se tomarem os gasodutos vão fechar as torneiras e só as vão abrir se o Brasil pagar-lhes o dobro do que paga hoje ao governo boliviano. Isto só para começar.

E volto a perguntar: quem nos defende?

Resposta: o bravo povo boliviano, explorado, pauperizado, quase desarmado, suas forças armadas são impotentes para um enfrentamento com esses paramilitares bem pagos e bem armados pelo Pentágono. Mas Evo Morales a cada dia fortalece sua liderança e a sua revolução indígena e, respaldado por 70% dos eleitores em recente referendo, já é forte o suficiente para escorraçar de lá o embaixador dos EUA, como fez ontem com o Míster especialista em separatismo e fragmentação de nações (Yugoslávia e depois, a Sérvia despojada de Kosovo) que o Pentágono colocou lá para destruir o seu país. Um índio chutando a bunda de um gringo, esta é a Nossa América!

Outra resposta: o bravo povo bolivariano da Venezuela, fortalecido por quase uma década de vitoriosa revolução popular e liderado por Hugo Chávez, até ontem o único presidente do mundo capaz de peitar de frente o Império, respaldado pelo apoio maciço do seu povo e por forças armadas dignas, já bem armadas e patriotas. Os EUA acabam de tentar novo golpe de estado contra ele, incluindo o seu assassinato, que a Inteligência venezuelana soube neutralizar. Já anunciou que a Venezuela não permitirá que se derrube o governo democrático da Bolívia e, em apoio a Evo Morales, também expulsou de lá o embaixador dos EUA.

Enquanto isso, a gente fica aqui assistindo o passeio da Quarta Frota na Bacia de Santos (sem que a mídia brasileira publique uma palavra) e o Itamaraty emitindo notas.


O que é uma revolução

Em apenas 15 dias, Cuba, as ilhas do Caribe e a costa sul dos EUA sofreram três ataques seguidos dos mais violentos furacões. Porém, nenhum dos países da região foi tão atingido pelos três monstros meteorológicos como Cuba. O primeiro deles, o Gustav, cortou a ilha de sul para norte com força de ventos semelhantes às das explosões nucleares, ao ponto de destruir uma estação meteorológica e de observação de furacões quando seus instrumentos marcavam a velocidade do vento a 340 km/hora. Nada pára em pé sob a força de um vento desses, nada! As fotos de uma das cidades que vitimou nos remetem imediatamente às fotos de Hiroshima depois da bomba. O segundo, o Hanna, violenta tempestade tropical, entre as maiores registradas, varreu a ilha toda. E o terceiro, o Ike, assolou-a de ponta a ponta, de leste para oeste, provocando ondas do tamanho de edifícios, invasão dos mares e mais destruição. E agora segue pelo Golfo do México em direção ao sul dos EUA.

Ainda contam-se as vítimas fatais dos três monstros em vários países, inclusive os EUA, às dezenas, às centenas e aos milhares. Em Cuba, foram sete mortos, os primeiros por furacões em toda a história da ilha, depois de quase meio século da Revolução. É um recorde mundial de sobrevivência populacional perante catástrofes naturais em todo o mundo. Como consegue Cuba tal proeza?

Em primeiro lugar, a prioridade revolucionária pelo valor da vida humana, além da educação, o preparo e a disciplina do povo. Nos EUA, por exemplo, a preocupação maior das autoridades é com as plataformas de petróleo que possuem no Golfo. Enquanto tentavam protegê-las, o célebre Katrina matou cerca de 1.800 pessoas em Louisiana. Desta vez, a população amedrontada se refugiou como pôde e o Gustav matou umas 200 pessoas; só não matou mais porque chegou lá enfraquecido, na categoria 2. No Haiti, país completamente dominado e escravizado pelos EUA, cada um desses três últimos meteoros matou em média 500 pessoas e deixou praticamente toda a população pobre desabrigada, incluindo 300 mil crianças sem ter o que comer.

Em segundo lugar, a invenção e a inteligência revolucionárias. Cuba é o único entre todos os países sujeitos a tais catástrofes que possui uma bem bolada rede de 235 barragens estrategicamente posicionadas cujas comportas são acionadas para recolher e represar as águas que os furacões despejam sobre a ilha, e impedi-las de provocarem inundações catástróficas. Além do mais, a água fica em reserva para o uso emergencial das populações atingidas e para o uso posterior na agricultura e no abastecimento das cidades. Segundo o jornal Granma, só o Gustav deixou nas barragens por onde passou cerca de 230 milhões de metros cúbicos de água. Ainda não publicou as cifras referentes ao Hanna e ao Ike, mas, ao que parece, ambos quase esgotaram a capacidade total das 235 barragens, que é de 9 bilhões de metros cúbicos. Das 31 represas da província de Pinar del Rio, que sofreu a passagem dos três meteoros em suas máximas intensidades, 18 transbordaram pela primeira vez e as demais ultrapassaram 80% de suas capacidades.

Deve ter sido por isto que foram registradas enchentes em Cuba na passagem do Ike, poucas e não muito dramáticas, apenas danos materiais Mas o precioso líquido que caiu do céu vomitado pelos três monstros permanece lá. Para os trabalhos de reconstrução, ele lhes valerá muito mais que ouro.

Isto é uma Revolução: humanismo e sabedoria nas relações com a natureza.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com).

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