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Gazeta em forma de e-meio 67 (10/10/2008)

Posição da Gazeta

Toda vez que a mídia faz coro de informação e opinião, a Gazeta, automaticamente, não aceita a informação como verdadeira e contesta a opinião enunciada.

Assim, no que diz respeito ao estardalhaço que agora se faz uníssono em todos os veículos da mídia hegemônica global sobre o terror que será a vida na Terra se os bancos e as bolsas quebrarem, opinando a favor da urgente e imediata salvação dos banqueiros em iminente bancarrota, este gazeteiro informa que está pouco se lixando para o destino dessas casas do nada, cheias de gente engravatada e de nariz empinado, gente que não faz nada e se acha merecedora de toda a fortuna do mundo.

Não sei para que servem tantas agências bancárias, repletas de mármores, tapetes espessos, vidros blindex, aço inoxidável e outros horrores de decoração que têm por primeiro critério de escolha o alto preço de “mercado”.

Ali não se cura a dor, nem de dente,
Não se planta flor, nem semente,
Não se fabrica prego ou dormente.

Ali não se faz poesia, nem fantasia,
Não se ouve música, não há alegria,
Ninguém dança, nem por nostalgia.

Ali ninguém reza, nem faz amor,
Ninguém mata a fome, não tem labor,
Ali Deus não entra, nem o favor.

O gazeteiro prefere ser mau poeta de cordel do que banqueiro bem sucedido. Que me perdoem os bancários, mas não conheço maior desdita profissional do que a de servir a um banqueiro. Prefiro o diabo a um banqueiro, foi o meu avô que me ensinou. Mais adiante, o leitor saberá a posição da Gazeta sobre o destino dos banqueiros.

Quão melhor não seria a vida se os bancos desaparecessem e as agências bancárias fossem transformadas em ambulatórios, consultórios odontológicos, bares e restaurantes populares, cinemas, casas teatrais, mercearias, escolas de música, de dança, de arte, de ofícios práticos e demais estabelecimentos úteis à vida e ao cidadão! As faraônicas sedes de bancos abrigariam estabelecimentos públicos como escolas e universidades, centros culturais ou de comércio solidário, grandes hospitais e casas de saúde.

Mas, eis que o leitor pergunta: e o dinheiro, onde guardo? Este é o menor dos problemas, leitor. Ele só existe se se tem o dinheiro. Então, é preciso primeiro que se o tenha. Tem o leitor dinheiro? Se o tem que seja só o suficiente, não mais. E o suficiente não deve nunca ser muito, pois já nos ensinava o sábio Saadi, no século XII: “o pior cheiro é o do dinheiro”. Então, para que tanto banco?

Se todo cidadão tiver dinheiro suficiente para uma vida digna, poderá guardá-lo em casa mesmo, não? A cobiça, o furto e o roubo se reduzirão a quase zero, ninguém vai precisar morar numa caixa forte para guardar a mixaria necessária, se todo mundo tiver ao menos essa mixaria. Hoje temos a internet, e uma agência modesta por bairro de um banco só e do governo, como na China, resolveria as transações mais complexas ou que necessitem contato pessoal. A existência de banqueiros é desnecessária e dispensável.

Por que tantas agências bancárias, uma ao lado da outra, disputando luxo e desperdício, se ninguém tem grana pra nada? Aí é que está o trampo, caros leitores. Ninguém tem grana, mas todos têm dívidas. Dívidas com quem? Com os banqueiros, lógico.

Hipotecas, cartões de crédito, cheque especial, seguros, planos de tudo quanto há, desde os de saúde, do celular, até os da compra da 4x4 zero, contas e mais contas, são as armadilhas que nos pegam a poder de chantagem (cortes de luz, de água, de gás, etc) ou de bobeira fútil, para estar na moda, satisfazer um desejo imbecil ou para “não sair do mercado”.

Ah, o mercado! O Deus Mercado, o novo Molloch devorador de vidas humanas, cada vez mais sedento e insaciável! Pois ofereçamos a ele todos os banqueiros do mundo para que ele morra de indigestão com sua própria merda. O fim do mercado e dos banqueiros nos será uma verdadeira benção, em escala universal. A Humanidade vai poder respirar ar puro e encontrará, enfim, a serenidade de que necessita para fazer as pazes consigo mesma e com o Planeta Terra.

Se este gazeteiro um dia alcançar a glória de ser ditador da República, será seu ministro um economista amigo que defende a seguinte tese, incontestável: “Todo aquele que possui um bilhão de dólares ou mais é, necessariamente, um predador da Humanidade. E todo predador da Humanidade deve ser imediatamente eliminado.”

O primeiro e único decreto ditadorial será: por seus crimes cometidos contra a Humanidade, todo banqueiro ou aquele que possuir (valor a ser estabelecido) em dólares ou mais, ou o correspondente em outras moedas e ativos, terá todos os bens confiscados e será fuzilado.

Depois, que venha a democracia socialista.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com).

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