Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio 69 (20/10/2008)

O deplorável “deploma”

Temos acompanhado, pelos emeios de Heitor Reis (Elucubrações Dialéticas), essa velha polêmica que por acá vem novamente nos amolando, em torno da obrigatoriedade do diploma de jornalista. Pensava este gazeteiro que era um equívoco já ultrapassado, mas, não, ele anda por aí: é um fantasma que se disfarça de jovens estudantes de comunicação.

Outro dia vimos um; Heitor e eu estávamos tomando umas num boteco lá pelas bandas do Maleta, e ele apareceu. É pegajoso, insiste, pentelha, chateia, não é fácil de descartar, ainda mais quando difarçado de moça comunicóloga, como foi o caso.

Nossa tática foi a de falar só o mínimo, dentro dos limites da cordialidade, senão estaríamos condenando o nosso papo que ia cabeça e bem levado, já na terceira ou quarta cerveja, quando ele(a) apareceu. Se a nossa paciência estivesse num momento mais flexível, como às vezes fica ou tem de ficar, por exemplo, numa sala de espera de aeroporto, seria o caso de dizermos à moça que o jornalismo, enquanto exercício legítimo de informar e opinar através de veículos de comunicação, antes de ser uma profissão ou um ofício, é um direito, e, em certos casos, até um dever de qualquer cidadão. Nos casos mais bem sucedidos, é, antes, uma vocação.

Vocação de observador com interesse analítico ou crítico, associada à capacidade de transmissão escrita, oral, fotográfica ou audiovisual do que observa, analisa ou critica. Nem todos a possuem, a desejam ou a obtêm. O fato de tê-la não aumenta nem diminui a ninguém, é só tê-la. O mais é consequência, pode ser uma questão de grana ou de caráter, depende de cada um.

Não é como a Medicina, a Engenharia, o Direito, a Aeronáutica e outras profissões e ofícios que, antes de tudo, até da vocação, são ciências e práticas precisas, necessitam conhecimento ministrado e experiência atestada. O sujeito tem de ser certificado como capaz de exercê-las, seja para fazer cirurgia, ponte, julgamento, pilotar um Boeing ou o que mais há. É o do outro que está na reta em primeiro lugar, entendeu, moça? Há uma responsabilidade legal sobre o que se vai fazer no outro, com o outro ou pelo outro. O jornalismo, não. Em primeiro lugar, é o seu próprio que fica na reta. A informação e a opinião não ferem, não maltratam, não prejudicam, não matam por si mesmas. Isto quem pode fazer são as empresas de comunicação, por manhas e malas-artes dos poderes que detêm ou a que servem, não o jornalista nem o jornalismo. Quando o jornalista aceita participar do jogo de interesses dos patrões, ele deixa de ser jornalista e o que está fazendo não é jornalismo.

O jornalista é o que assina embaixo da matéria publicada e, se for mal informado, incompetente, de má fé ou não tiver talento para comunicação, perde a credibilidade, se ferra, se dá mal. Perde o público e o espaço, mas não machuca ninguém. É como o samba; “não se aprende no colégio” (Noel). Ou como a poesia. Pode haver nela até ciência (arte) e ofício (engenho), mas isto vem depois.

Nem todos são poetas; nem todos são jornalistas; os que são mesmo e de verdade primeiro são vocacionados, e, em geral, são autodidatas. Exigir diploma a alguém para ser jornalista é como exigir diploma a um poeta (ou sambista).

É isto aí, menina, sacou? Faça o seu jornalismo, se é capaz, e não amole.


O avesso do tropeço

O artista plástico Gilberto de Abreu está lançando um livro com este nome e não contou pra ninguém. Mas a Gazeta furou o segredo. O livro está rodado e pronto, e o autor anda lá por Montes Claros. Por isso não deu pra saber onde e quando vai batizar a obra. Mas estamos de olho neles (no livro e no autor).


60 cordas em movimento

Viva Viola – 60 cordas em movimento, no Teatro Alterosa, 24, 25 e 26 de outubro, 21h (domingo, 19h). Joaci Ornelas, Chico Lobo, Pereira da Viola, Wilson Dias, Gustavo Guimarães e Bilora. Tudo violeiro da pesada e gente boa. Música da terra! Vou lá.
A Gazeta agradece a Frei Gilvander pelo toque via web.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com).

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