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Gazeta em forma de e-meio 64 (24/9/2008)

Os “11 princípios da propaganda moderna”

Os enunciados dos “11 princípios da propaganda moderna”, até hoje rigorosa e integralmente praticados, são atribuídos a Joseph Goebbels pelo Wikipédia (em espanhol). Tal atribuição é suspeita, e não só em relação ao nome do citado prócer nazista. Não há referências bibliográficas que apontem para a autoria deles e nem enlaces históricos sólidos o suficiente para afirmá-la em quem quer que seja.

Além do mais, os enunciados não representam necessariamente verdade ou sabedoria que se possa levar a sério só porque se apresentam, se pretendem e sejam utilizados como tais. Pelo contrário, não resistem ao menor aprofundamento analítico ou crítico.

Não passam de táticas chinfrins de guerra suja e não têm nada de moderno nem de novo. Não faltam - na história toda! - expedientes como os que enunciam, em particular quando a humanidade se conduziu para o equívoco, o retrocesso, a perda, o reacionarismo e o despotismo, senão ao abismo mesmo, da estupidez e da insensatez.

Pelo corte do texto, nos seria mais crível se viesse associado ao sionismo, gueto obscuro do pensamento onde se congregam e se cultivam mentes dedicadas a gerar esse tipo de bobagens. Há nos enunciados parentescos visíveis de linguagem e conteúdo com coisas como os “Protocolos dos Sábios de Sion”, “Holocausto” de judeus, ademais da maior parte de conteúdos racistas, homofóbicos, sectários e preconceituosos que proliferam em todas as mídias, agora e sempre. Wikipédia, inclusive, vem sendo bombardeada por invasões sionistas destinadas a gerar caos e descrédito nos conteúdos que lá iam, até então, sendo incluídos com os louváveis propósitos de compartilhamento e colaboração mundial em prol do conhecimento. O site Rebelión tem denunciado tais sabotagens.

Ao tocar o tema “Holocausto”, este gazeteiro sabe, de antemão, transgredir recente resolução da ONU a respeito. Porém, tal resolução não tem efeito aqui. A Gazeta não reconhece autoridade ou jurisdição, sobre o pensamento de seu gazeteiro e de seus leitores, da ONU ou de nenhuma pessoa física ou jurídica de qualquer nacionalidade ou internacionalidade, classe social ou nível hierárquico, credo religioso ou político, profissão ou especialidade, filiação partidária, raça, idade, estado civil ou militar.

Como os “11 princípios” têm sido alardeados com certa admiração até por gente boa que pensa ter descoberto a pólvora logo ao conhecê-los, a Gazeta os expõe aqui seguidos de comentários que talvez ajudem a desmistificá-los e devolvê-los ao rodapé da produção intelectual histórica, sem, contudo, poder evitar que lá permaneçam à disposição dos roedores ou publicitários que deles se servem à bastança.

1. Princípio da simplificação e do inimigo único. Adotar uma única idéia, um único símbolo. Individualizar o adversário num só inimigo.

É a surrada idéia do diabo em cada esquina; mais velha que a serra. O “mal absoluto” deve ser sempre combatido para a salvação do “bem absoluto”. Nem Pilatos caiu nessa; lavou as mãos.

2. Princípio do método de contágio. Reunir diversos adversários numa só categoria ou indivíduo. Os adversários hão de constituir uma soma individualizada.

Mais do mesmo em relação ao primeiro “princípio”. O “terrorismo” cristão, o “terrorista” Jesus. Se veste bata e usa barba, há que crucificá-lo. Aos “hereges” de Torquemada, há que queimá-los e purificá-los. Aos “terroristas” de Bush, há que pulverizá-los com urânio empobrecido. Viva a tecnologia de ponta radioativa (é “método de contágio”, ou não é?). Pensamento no nível de um tenente de cavalaria: Custer e os Cruzados. E a Santa Inquisição, por certo.

3. Princípio da transposição. Atribuir ao adversário os próprios erros ou defeitos, respondendo ao ataque com o ataque. “Se não pode negar as más notícias, inventam-se outras que as dispersem”.

Começa a dar as caras a confiança que os propagandistas de ofício possuem na estupidez das massas. Na verdade, tal estupidez não existe em estado natural. Para existir é preciso que seja devidamente propagada (vide “método de contágio”, no segundo “princípio”), isto é, ela começa, necessariamente, na estupidez dos próprios propagandistas. O estado natural das massas é o da sabedoria.

4. Princípio da exageração e desfiguração. Converter qualquer caso, por mais insignificante que seja, em ameaça grave.

Outra vez, mais do mesmo do “princípio” anterior. Aqui, acrescem-no o mau gosto, a ansiedade dos entediados e a necessidade (quase histérica) de autovalorização dos publicitários e os novos ricos que os pagam. É o princípio dos problemas para divãs (luxuosos) de psicanalistas.

5. Princípio da vulgarização. Toda propaganda deve ser vulgar, adaptando seu nível ao menos inteligente dos indivíduos a que se dirige. Quanto maior for a população a convencer, menor há de ser o esforço mental a realizar. A capacidade receptiva das massas é limitada e sua compreensão escassa; ademais, têm grande facilidade para olvidar.

“Princípio” por demais óbvio: a propaganda só é propaganda se for vulgar e adaptada ao menos inteligente dos indivíduos a que se dirige, sendo os primeiros deles os próprios “criadores”, ou seja, os propagandistas de ofício. E os que lhes pagam, logo a seguir, claro; do contrário, não vão querer pagar. Dá pra perceber que esses caras não entendem nada sobre a capacidade receptiva das massas e outros babados; quem entende? Mas quem acha que entende... esse, coitado! É o caso de Bush, sob os apupos dos povos do mundo inteiro: “- Por que nos odeiam?” – perguntou o imbecil a Condolezza Rice.

6. Princípio da orquestração. A propaganda deve limitar-se a um número pequeno de idéias e repeti-las incansavelmente, apresentá-las uma e outra vez em diferentes perspectivas, porém sempre convergindo para o mesmo conceito. Sem fissuras nem dúvidas. Daqui vem a famosa frase: “Se uma mentira é repetida suficientemente, acaba por converter-se em verdade”.

Outra obviedade. É claro que a propaganda está limitada a um número pequeno de idéias. Ela só pode estar limitada às idéias de quem as “criam”, não? Quanto à repetição, diz respeito a técnicas de hipnose, autismo e outras subliminaridades mecânicas das funções cerebrais sobre as quais Pavlov e outros estudiosos trabalharam, demonstrando-as como prejudiciais à saúde física e mental das pessoas atingidas. Recomendaram, inclusive, a proibição de tais técnicas e as compararam às de tortura.

A “famosa frase” (a original, encontrada nos “Protocolos” é: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade” – nota do revisor) é uma mentira que vem sendo repetida, pelos próprios publicitários, ad infinitum, mas não convence a ninguém a não ser como frase de efeito, com defeito. E o que isso tem a ver com a palavra “orquestração”, só eles sabem, se é que sabem lá o que seja orquestração.

7. Princípio da renovação. Há que emitir constantemente informações e argumentos novos a um ritmo tal que, quando o adversário responda, o público já está interessado em outra coisa. As respostas do adversário nunca hão de poder contrapor o nível crescente das acusações.

Este princípio de renovação não renova nada. Deveria se chamar tática da balbúrdia. É o caso do sujeito que não tem argumentos e fica vomitando sandices para não ouvir a argumentação dos demais de uma roda. Esse tipo enche o saco de qualquer um. É tal e qual a propaganda, ninguém agüenta ficar por perto. Acaba falando sozinho, diante do espelho, num manicômio qualquer. Lembra muito aquele embaixador dos EUA, na ONU, advertindo aos dos demais países do mundo: “-Vocês acabam ficando isolados!”

8. Princípio da verossimilhança. Construir argumentos a partir de fontes diversas, através das chamadas pesquisas de opinião ou de informações fragmentárias.

Este é o “princípio” do “me engana que eu gosto”. Aplicável, em primeiro lugar, claro, aos próprios publicitários, a seus patrões e aos clientes dos patrões. E, depois, aos otários de plantão (sempre estão lá). Andou dando certo há uns tempos, mas, agora, deu para trás na Venezuela, na Bolívia, no Equador, na Nicarágua, no Paraguai, na Argentina, em Honduras, na Guatemala, e por aí vai. Nunca deu certo em Cuba, nem nos países do “eixo do mal”. Funciona bem só nos EUA, dizem que também na Europa. No Brasil já está rateando. Não dura muito. É que ele não tem nada de verossímil!

9. Princípio do silêncio. Calar sobre questões sobre que não se tem argumentos e dissimular as notícias que favorecem ao adversário, também contraprogramando com a ajuda de meios de comunicação afins.

Finalmente, um princípio que é princípio mesmo. Em boca fechada não entra mosca, diz o ditado. Na falta de meios... boca de siri. E nunca faltarão empresas de comunicação “a fins” de uma grana gorda para “contraprogramar”.

10. Princípio da transfusão. Por regra geral, a propaganda opera sempre a partir de um substrato pré-existente, seja uma mitologia nacional ou um complexo de ódios e problemas tradicionais. Trata-se de difundir argumentos que possam fixar-se em atitudes primitivas.

Rapaz, este é cabeça! Transfusão!? Será alguma confusão de tradução? Seja lá, é assim que nos chegou em espanhol. Substrato, mitologia nacional, complexo de ódios, problemas tradicionais... é fogo na cumbuca essa tal de propaganda. Não é mole, não! Quer nos pegar pelo pé justamente em nossas atitudes primitivas. Quê que é isso!? Eu, heim! Barbárie? Bem dizia Rosa Luxemburgo: ou socialismo, ou barbárie.

11. Princípio da unanimidade. Chegar a convencer a muita gente de que pensa “como todo mundo”, criando uma falsa impressão de unanimidade.

Ufa! Chegamos ao último. “Toda unanimidade é burra”, disse Nelson Rodrigues. Acho que o dito resume bem o undécimo “princípio” e resume também todo o conteúdo undecalógico deste publicitês barato e sem princípios e que vem recebendo a adoração unânime de publicitários, seus patrões e clientes, além dos otários de sempre.

Goebbels trabalhou com gênios como Leni Riefenstahl, Kurt Joss, Rudolf Laban e Mary Wigman, entre outros. Não podia ser tão burro assim.


Abraços

Mario Drumond

Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com).

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