Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio 21 (14/1/2008)

Depois de breve recesso a Gazeta retorna com os votos de boas entradas a todos os leitores e brinda-os com um arquivo do seu Volume 1 (2007), contendo as Gazetas de números 1 a 20, que segue anexo em duas versões digitais (word e pdf) para que o leitor escolha a que melhor convém ao seu arquivo digital.


O Senhor da Paz

Finalmente o mundo tem um que os senhores da guerra não podem facilmente pisotear, esmagar e crucificar. Admiramos os que no passado enfrentaram os senhores da guerra despojados de qualquer outro meio que não fosse o amor à Humanidade, o coração aberto, o espírito generoso, a volição desinteressada e tantos outros atributos essencialmente humanos e elevados. Mas este possui, além desses atributos, o poder do seu bravo povo e o poder material dos helicópteros, dos Sukoys, dos exércitos, da marinha e do dinheiro, poderes que usa em favor da paz, da igualdade e da justiça social e para neutralizar os planos genocidas dos senhores da guerra. Temos de tirar o chapéu para um líder como Hugo Chavez, que é capaz de arriscar todo um cacife político pela liberdade de duas mulheres e uma criança, apostando nelas como símbolo e marco de um processo de paz que haverá de mudar o mundo. Sim, pois o mundo é o planeta, e o planeta é a Terra. No século 21 não há mais tempo nem espaço para a guerra, a Terra não pode se dar ao desperdício de forças, energia, natureza e vida. Os senhores da guerra vão perder o emprego. O problema é que já não se usa mais chapéu. Não por falta de chapéus mas, com certeza, por falta de cabeças. Então, a exemplo de Hugo Chávez, temos de seguir fazendo cabeças.


Do teatro que é bom

Hélio Zolini é daqueles atores que, se quisesse, poderia ter sido um desses sucessos globais de telenovelas. Mas, não. Preferiu o caminho espinhoso da resistência cultural e da dramaturgia de vanguarda, ligando-se, desde cedo, a José Celso Martinez e ao Teatro Oficina. Lá encontrou-se com a atriz Soraya de Borba, outra que abriu mão das facilidades globais, e com ela embrenhou-se nas aventuras amazônicas pelas sendas poéticas de Souzândrade, a épica do Guesa, de onde pariram o Tatuturema, peça teatral na qual, num olhar histórico de uma crítica mais refinada, podem-se reconhecer importantes antecedentes da atual experiência de José Celso com Euclides da Cunha.

Desde aí, Hélio e Soraya formam uma dupla de atores que vem construindo uma obra dramática marcada pelo envolvimento com a poesia de vanguarda e revolucionária, como é o caso de Lâmina e Fragmentos, duas sofisticadas dramaturgias de câmara, e, nesse processo, Hélio Zolini desenvolveu também suas potencialidades de autor, diretor e produtor teatral. Foi nessas últimas condições que logrou, enfim, ao final do ano passado, romper a maldição dos editais públicos contra as vanguardas e viabilizar dois projetos importantes:

- como produtor, já pôs em andamento uma nova montagem de O Arquiteto e o Imperador da Assíria, de Fernando Arrabal, sob a direção do ator e diretor Ronaldo Brandão. A montagem gera grande expectativa, uma vez que conhecemos bem Ronaldo e sua predileção por autores como Genet, Strindberg e Nelson Rodrigues, entre outros “malditos” da dramaturgia do século 20. Ele domina bem a linguagem lúdica, rebelde e boêmia que caracterizam os escritos do prolífico autor castelhano. Já no elenco, Ronaldo inova com as atrizes Soraya de Borba e Guga Barros nos dois papéis masculinos do texto original. Na equipe, estão confirmados Eri Gomes (cenários), Luis Otávio Brandão (figurinos), Izabel Costa (preparação corporal) e Marcos Kacoff (produção musical).

- como autor e diretor, teve aprovada pela Lei Estadual, para captação, a turnê da peça Gilka e Eros, com Soraya fazendo Gilka e a bailarina Izabel Costa interpretando Eros, peça que pré-estreou no Café Novo Mundo – Movimento de Artistas Não Alinhados, no seu segundo evento realizado em dezembro de 2006, em BH. A montagem adapta a obra poética de Gilka Machado e coreografias e memórias da famosa bailarina Eros Volúsia, criando um diálogo ao mesmo tempo dramático e poético entre estas duas artistas (que foram também mãe e filha) e as linguagens do teatro e da dança.

A Gazeta vai acompanhar de perto as duas produções, e este gazeteiro foi convidado por Hélio Zolini a participar de Gilka e Eros. O Arquiteto deverá estrear em abril deste ano e Gilka e Eros, se bem sucedida a captação de recursos, está prometida para o segundo semestre.


Pedro do Rio

O incoformista e jornalista Pedro Porfírio comunica-nos o seu propósito de se candidatar a prefeito do Rio de Janeiro. Como legítimo descendente da tribo dos cariocas, este gazeteiro conclama toda a tribo a unir-se em torno da candidatura desse cearense que haverá de tornar o Rio de Janeiro mais carioca do que nunca. Se Deus quiser (e já quis, pois Porfírio quis), o PDT vai lançá-lo candidato nas próximas eleições. Brizola, nos ajude aí de cima!

Porfírio fez a gentileza de presentear este gazeteiro, na passagem de ano, com o seu livro Confissões de um Inconformista, um volumaço de 300 e tantas páginas que já foi devorado a mais da metade quase numa só sentada (na próxima já termino o banquete). É material indispensável: pela primeira vez temos uma leitura do processo histórico-político dos anos 60/70 que não provém de filiações ideológicas, curriolas partidárias ou das chatices dos jornalistas “imparciais” e das “teses” de amestrados acadêmicos. É, sob o todos os aspectos, e literalmente, uma visão de um independente (a nossa visão), com a agudeza e a legitimidade de quem perspassou por quase todos os canais importantes daquele labirinto histórico-político-midiático que se revelou decisivo para a história contemporânea. Para quem viveu a época é tônico de memória, bem escrito e gratificante, que nos leva a uma viagem no tempo e recupera verdades que vêm sendo muito maltratadas. Para quem não viveu, é uma aula, a melhor aula, pois, além da riqueza de detalhes, os fatos são tratados sem preconceitos e sem a presunção das verdades absolutas.

O livro só tem um problema: é edição independente e parece que está esgotado. Portanto, só nos resta rezar para, num milagre, uma editora dessas “das grandes” se interessar por publicar e distribuir livros como este.


Mudanças no comportamento de Lula

No princípio de dezembro passado, Lula estava na Venezuela com uns duzentos empresários nacionais para tratar de acordos bilaterais e a atender um chamado de Chávez à integração regional. Requião estava com ele, e foi saudado destacadamente por Chávez. Acho que o Beto Almeida sabe o que Requião fazia lá, porque a imprensa brasileira toda não deu uma linha sequer. De lá pra cá, ainda que quase imperceptivelmente, verifica-se uma mudança (progressista, será?) no comportamento de Lula e de seu governo, especialmente o Itamaraty. Alô, Beto Almeida, nos dá uma luz dessa parada.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com)

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