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Gazeta em forma de e-meio Vol. 2 (2008)

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Gazeta em forma de e-meio 74 (10/12/2008)

Dia curto

Não sei se o leitor tem a mesma impressão, mas no fim do ano os dias parecem que vão se encurtando, sem que a gente note ou faça caso. A impressão é a de que as pessoas, ao verem chegar o fim de mais um ano (ou “menos um”, como dizia Oswald), tentam correr atrás do prejuízo, do “deixa-para-depois”, da negligência e da preguiça em que incorreram ou pensam que incorreram no decorrer dos dias iniciais e dos meados do mesmo ano.

E haja “caixa de entrada”. Uma verdadeira chuva de demandas apressadas, de compromissos profissionais “para ontem”, de notícias muito importantes, de informações de que o mundo precisa tomar conhecimento imediatamente, de trabalhos e coisas que têm de estar prontos no depois de amanhã. Uma loucura! Há também as festinhas de chegadas de parentes que moram fora, as reuniões de bares e outros convescotes. Um ofensa não comparecer.

Ah, e as contas, sempre as contas. Essas chegam religiosamente, mês a mês, mas no fim do ano elas ficam assanhadas, e mais caras. É preciso também comprar e comprar, dar presentes; um grande tempo e esforço criativo se perde em bolar presentes para os que não podem deixar de recebê-los, sem ofender a eles e ao próprio bolso. Nos vemos igualmente envolvidos na bolação das duas grandes festanças, dos passeios e viagens, que devem ser necessariamente originais e criativos, nada deve se repetir. Esses laços pequeno-burgueses em que nos vemos amarrados desde o berço são de amargar! Especialmente quando nos apertam, num fim de ano.

E vamos todos na enxurrada, mesmo querendo ficar de fora, não tem jeito. E quando nos damos conta, o dia já era. E a Gazeta, coitada, vai ficando para depois, fazer o quê?


Uma rádio dos sonhos

Acabo de receber um e-mail de José Guilherme Castro em que me repassa um endereço realmente fantástico: www.lastfm.com.br. Genial! Você escolhe o que quer ouvir, seja pelo compositor, nome da música, gênero musical, etc, isto de qualquer origem cultural ou parte do mundo! Aí, o site faz uma programação, a começar pela dica que você deu e a ela vinculada, e põe para tocar. Uma delícia! Coloquei o índice “Glenn Gould” há cerca de quatro horas e ainda estou ouvindo uma sequência admirável dos melhores pianistas, cravistas e organistas do mundo, sem nenhuma repetição. Começou com Gould tocando Bach para órgão e, no momento, ouço Rubinstein tocando Chopin ao piano. E o site vai exibindo os dados da música, do intérprete e do compositor, a capa do CD, além de outros vínculos e alternativas que você pode escolher à vontade, se quiser mudar de rumo a sua audição. Não tem propaganda nem chateações de intervalos e locuções. É como acionar uma vitrola infinita e muito bem afinada com o próprio gosto musical ou com o que se deseja ouvir naquele momento. Experimente!


Oba Oba Obama

A moda é não cair no oba oba obama, mas que foi bom, foi. Ninguém aguentava mais os George, os Bill, os Dick, os Jim e outros apelidinhos de gringos bichos-de-goiaba. Um Barack Hussein soa um barato para a ocasião, independente dos maus trocadilhos. Não há como contestar, o Império não é mais o mesmo. Agora tem lá um neguinho (não me venham com essa de que é "termo racista", please) com cara de gente boa e esperto como só ele. Se não fosse, não tinha chegado lá. É tão malandro que a esquerda e a direita desconfiam dele, acham que ele mente pros dois lados. E mente mesmo – queriam o quê? Que ele falasse “a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade”, jurando sobre a Bíblia? O Império pode até continuar Império, se bem que sempre mais decadente, mas vai ficar menos chato e menos burro. Já é um adianto, na opinião deste semiólogo gazeteiro.


Só danço samba

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Cidade Jardim recupera a sua quadra e forma nova diretoria. Muita notícia boa promete nos dar. A Gazeta, sempre de olho. Para o dia 12 agora tem festa de arromba no Conjunto Santa Maria, se possível no próprio barracão recuperado. Senão, vai ser na rua mesmo, isso é com a prefeitura. Se ela libera ou não essas chaves logo. Libera, prefeito, libera, não seja bush, ou melhor, burro.


Duas fantasmagorias

Os srs Mario Vargas Llosa e Francisco Weffort já morreram mas não foram avisados. Ambos são do tipo que ainda acha que o diploma universitário tem algum valor para legitimá-los como analistas sociais acreditáveis. Tiveram uma coceira “de esquerda” na juventude mas, como dizia Machado de Assis, “coçaram, e a coceira passou”. A palavra “populismo” está presente repetitivamente em todas as suas “doutas análises”, é uma verdadeira obsessão. Para eles, qualquer líder progressista que goza de popularidade é “populista”. Há quem diga que foi o udenista Pedro Aleixo que cunhou a palavra. É possível. Tal como este o fizera, os dois velhinhos intelectuais latino-americanos satelitizam os poderes mais reacionários da América Latina, aceitam serem usados por eles à la carte e poderiam assinar embaixo do célebre testamento atribuído ao criador da palavra-chave de suas “análises”: “Nada fiz, nada deixo. Assinado: Pedro Aleixo”. Falam, escrevem e subscrevem o que lhes mandam (e lhes pagam, claro, apesar de pagarem mal), mas são um zero à esquerda. Não convencem nem aos seus patrões, nenhum os cita ou demonstra ter lido ou levado a sério o que dizem ou escrevem, mesmo com a boa reserva de espaço de que gozam na mídia pré-paga (e muito bem paga). Não há leitor que sobreviva sem dois bocejos graves e longos a um primeiro parágrafo do que é publicado por eles. Nem escritor que se anime a escrever-lhes o epitáfio. Vagam os dois por aí, como fantasmagorias sem sombra. Você “olha e passa”, nem susto toma.


Sinto, mas o dia está curto mesmo, o gazeteiro tem pouco tempo para gazetear. A cidade, agitada no frenesi do fim de ano, o exige. Por agora, ficamos aqui.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico O Apito no endereço http://www.thetweet.blogspot.com.

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