É incompreensível a expressão paradoxal “politicamente correto”. (Guilherme Vaz)
Caso Fredera e caso Requião
Entre os maiores problemas históricos dos povos está o de ter acesso à informação “veraz e oportuna”, como diz o dístico da mídia revolucionária venezuelana. O controle da informação pela mídia privada e pelos poderes capitalistas que a mantêm visa o controle absoluto da opinião pública (pensamento único), isto é, torná-los, além de proprietários exclusivos dos meios, os “donos da opinião pública” (John Reed).
Esse controle não pode ser encarado só pela faceta de uma obsessão monopolista - ele está na raiz da própria sobrevivência do sistema que os sustenta. É-lhes fatal o acesso da opinião pública à verdade que escondem. Por isso, não vacilam em atacar, em todos os níveis e por todas as armas que possuem, qualquer manifestação que possa ameaçá-los.
Quando não podem fazê-lo com os próprios recursos midiáticos, cujo monopólio está sendo quebrado por iniciativas estatais e pela internet, valem-se dos tentáculos de seus poderes e influência nas instâncias judiciárias, tal como as máfias. E ainda, tal como as máfias, quando estas não logram os resultados almejados, valem-se das metralhadoras.
O caso do governador Requião e o caso Fredera são dois extremos de uma realidade que assola o país em todos os níveis de poder da informação.
O governador, ao criar veículos de informação “veraz e oportuna” em seu estado, e por isso conquistar adesão e audiência significativas nas camadas populares do povo paranaense, enfrenta um poder muito maior que o do seu estado – a Rede Globo –, o qual não pode permitir que prospere tamanha ameaça a seu monopólio. Não podendo combatê-la por seus próprios meios, pois sabe-se de antemão derrotada, vale-se de “seus” juízes e magistrados para amordaçar e fazer calar o próprio governador.
No extremo inferior, ninguém é suficientemente otário para crer que um juiz de Direito, só por altruísmo e espírito comunitário, resolva fazer “benfeitorias” públicas com recursos próprios e ao atropelo dos direitos da vizinhança e da lei orgânica de um município. E era justamente na verdade que se esconde por detrás da “iniciativa” do juiz que Fredera estava chegando em suas investigações, e que publicava em seu blog. Sabendo que o uso do direito de resposta - que é o direito democrático vigente de qualquer cidadão, entidade ou instituição para rebater eventuais denúncias que contra si sejam publicadas em meios de comunicação - só facilitaria o acesso da opinião pública àquela verdade que possivelmente ele (e os interesses que estarão por detrás de tudo) quer a todo custo esconder, não teve outra saída senão abusar dos poderes que lhe são legalmente outorgados para promover Justiça, para calar e amordaçar o jornalista.
Daí a semelhança das peças judiciais produzidas para os dois casos, em especial no que concerne às decisões sentenciadas sem nenhum fundamento jurídico legal, e que passam a valer liminar e arbitrariamente como “legítimos” instrumentos legais, à ausência (decretada em sentença) de qualquer chance de defesa e sob a omissão conivente da mídia privada e das instâncias superiores do próprio Judiciário.
Assim como o governador Requião, Fredera foi julgado e condenado a pagar multas elevadas, aleatoriamente arbitradas, e à sujeição de prisão, numa sentença redigida sem fundamentação tecno-jurídica e à revelia das regras impostas à magistratura, e sem que pudesse esboçar um mínimo direito de defesa - num processo que está sendo conduzido em total desrespeito ao rito legal e às normas vigentes para a solução de pugnas e desavenças pelas vias da Justiça.
É preciso lutarmos para que ambos revertam os processos com que estão sendo atacados, pois, em todos os casos do tipo, de um extremo ao outro, os maiores perdedores são a verdade e o povo brasileiro. Liberdade de imprensa e direitos de cidadania são valores tão fundamentais a uma sociedade justa como o ar que respiramos. Depois, preparemos-nos, porque se vierem as metralhadoras teremos de lutar contra elas também.
É isto ou aceitarmos passivamente os grilhões.
A Gazeta errou
José Sette passou um pito no gazeteiro pela publicação da Gazeta 52 Especial Musical. No início discordei, mas, revendo-a, tive de concordar – apesar de bem intencionada, foi um equívoco. A Gazeta errou como erra todo aquele que, ao criar, tenta satisfazer a outrem antes de si mesmo. Para remissão da Gazeta, só uma frase que ouvi num filme do próprio Sette (Natureza Torta), saindo da boca do povo: “Todo sincero humano erra.”
Abraços
Mario Drumond
Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com)
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