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Gazeta em forma de e-meio 50 (19/7/2008)

Acorda, BH!

A boa nova da candidatura de Sérgio Miranda a prefeito de Belo Horizonte soou como um alarme de despertar para a população da cidade, até então pateticamente entregue à sonolência da mesmice que vinha se impondo a todos nós como um beco sem saída para as perspectivas de vivermos um futuro melhor em nossa capital, e - por que não dizer? -, em Minas Gerais e em todo o país.

A equação política nacional sempre foi, historicamente, marcada pela presença de grandes nomes de Minas nas raízes das soluções decisivas, a partir do apoio e do poder que lhes alçava a tal condição a maioria do povo mineiro. Apesar de ser um estado que nas últimas décadas do século passado levava fama (injusta) de conservador, o povo e o eleitorado mineiro jamais negaram documentos à História da natureza progressista e libertária de seus anseios.

Foi assim, desde Tiradentes, que ameaçou o império português principalmente pelo carisma e popularidade de que gozava em todas as extensões das então populosas trilhas do Ciclo do Ouro, que ligavam as cidades de Minas ao Rio de Janeiro. O mesmo espírito rebelde vamos encontrar na Revolução de 1842, na saga heróica impulsionada pela liderança de Teófilo Otoni, “o senador do povo”, que conquistou a admiração nacional por sua bravura revolucionária, a ponto de enfrentar e fazer recuar Caxias e o exército imperial na memorável batalha de Santa Luzia.

Ao lado dos exemplos de carisma e rebeldia, os políticos aclamados pelo povo e o eleitorado mineiros foram exemplos também de argúcia e genialidade, como nos demonstram os papéis de nossos próceres da República Velha nas célebres disputas com São Paulo, conhecidas como a “política do café-com-leite”, e, em especial, o de Antonio Carlos Andrada nas complexas articulações que levaram a Revolução de Outubro de 1930 e Getúlio Vargas ao poder inaugural e revolucionário da Nova República.

A chamada “Era Vargas” (1930 – 1954) foi marcada por destaques progressistas apoiados pela imensa maioria de eleitores mineiros e gaúchos, e não seria outro o motivo de a herança varguista ter concorrido particularmente nos mineiros Juscelino Kubistchek e Tancredo Neves e nos gaúchos João Goulart e Leonel Brizola.

É certo que a diversidade do espírito de Minas revelou também notáveis lideranças conservadoras como as de Benedito Valadares, Milton Campos e Magalhães Pinto, sempre na linhagem do astuto Antonio Carlos Andrada; e que tal ambigüidade acabou por revelar-se, nítida e deletéria, nas urnas de 1960, quando, aqui em Minas, João Goulart derrotou Milton Campos na disputa para a vice-presidência e, no plano estadual, para o cargo de governador, Tancredo Neves foi derrotado por Magalhães Pinto.

Este infeliz dilema do eleitorado mineiro que ali se pronunciou, contundente, resultou, historicamente, como o prenúncio da noite ditadorial e entreguista, lesiva a toda a nacionalidade, a qual ainda não nos deixou de todo. Mas uma espécie grave de maldição recaiu, junto ao golpe de Estado de 1964, particularmente sobre as montanhas de Minas.

Quando acreditávamos ter passado a tormenta, com a eleição de Tancredo Neves para governador de Minas e, logo depois, para presidente da República, veio-nos a tragédia do líder mineiro, que acabou falecendo em 21 de abril de 1985, no mesmo dia que, em 1792, fora enforcado Tiradentes.

Pela primeira vez, desde o Ciclo do Ouro, Minas deixava de estar presente na equação do poder nacional. A maldição ainda nos atingiu quando, ao despontar nacionalmente um nome político do naipe de um Célio de Castro, eleito (1997) e reeleito (2000) prefeito de Belo Horizonte com alto e crescente respaldo popular, um acidente de saúde o pôs fora de combate, frustrando-nos outra vez a perspectiva de retornarmos ao nosso papel histórico no contexto maior da nacionalidade.

Desde aí, Minas vive soterrada nas baixezas da mediocridade e do provincianismo, privada quase completamente de lideranças reais e mergulhada nas falácias do jogo midiático que alimenta nomes ocos, sem carisma e sem alma política, nos desperdícios e descalabros da publicidade paga e suas manipulações marqueteiras e em arrogante indiferença à história e à sabedoria do entusiasmo popular.

Mais de um pensador já diagnosticou tal penoso e paralítico estado de coisas como antecedente de radicais mudanças de Eras. O triste fenômeno mineiro aqui denunciado parece encontrar similitude por toda a América Latina em passado recente, onde agora observa-se o redespertar de importantes países, estados e regiões que viveram suplício igual, em fatos tais que levaram o presidente do Equador, Rafael Correa, a assim identificar a atual quadra política em nosso continente: “Não vivemos uma época de mudanças; vivemos uma mudança de época”.

Para quem está atento a tudo isto, a candidatura de Sérgio Miranda a prefeito de Belo Horizonte ganha um significado muito especial e pode estar nos assinalando a almejada e mais que necessária mudança de época em Minas Gerais, ainda que tardia como nos sói normalmente acontecer, mas efetiva e duradoura quando de fato ocorre.

Dentre os que postulam o mesmo cargo, é ele o único que nos apresenta um nome de alcance nacional, qualificação que reputo fundamental para se ser prefeito de uma capital como Belo Horizonte, e credenciais firmes de liderança real, carismática, progressita e rebelde, com um conhecido e admirável passado de resistência e de lutas políticas, além de impecável currículo eleitoral abrangendo, à contra-corrente, duras contendas, difíceis legislaturas e muitos bem cumpridos mandatos populares.

É hora de nós, mineiros da capital, rompermos o maldito dilema histórico que nos divide, nos atormenta e nos vem golpeando a cada passo desde os anos 1960, e deixarmos de lado os sectarismos, provincianismos, bairrismos, correntes de ideologia, partidos políticos, e esse papo furado de “esquerda” e “direita” que hoje só confunde e dificulta a relação dos valores progressistas com as camadas populares, para apostar no pleno de uma nova, digna e saudável época da história de Minas Gerais.

Que pode perfeitamente ser iniciada com a prefeitura da capital nas mãos de um político da magnitude de um Sérgio Miranda. Tal como outros que não nasceram em Minas (Sérgio é paraense de nascimento) mas para cá vieram e engrandeceram a nossa vida pública, ele tornou-se mineiro por vocação e de coração e já obteve do nosso povo a consagração de duas vereanças em Belo Horizonte e quatro mandatos de deputado por Minas Gerais na Câmara Federal.

A eleição dele poderá significar um marco de ressurgimento de novas e verdadeiras lideranças políticas, umas já sendo cultivadas em paralelo ou às luzes de sua própria e exemplar trajetória política, outras a alvorecer na que haverá de ser a sua revolucionária administração da nossa capital - lideranças tais que Minas tanto reivindica quanto necessita para introduzir-se nesta nova era de afluxo libertário na América Latina, e que voltarão a honrar e a dignificar o povo mineiro perante a nação e a História.

Acorda, BH!

Desperta, Minas!

A hora é agora!

Sérgio Miranda, prefeito da capital!


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com/)

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