Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio 27 (17/3/2008)

Terrorismo x humanismo

3. A Guerra de 4ª Geração

"Mas educação aqui no Brasil para que serve? Porque o que é incontestável é que o curso primário não desanalfabetiza, o curso secundário não humaniza – e o curso superior nem faz profissionais, nem faz sábios, nem faz pesquisadores. Que resta então desta educação? Nada. Porque precisamente nada, zero vezes zero, é a cultura de toda a gente. Que ignora por completo os problemas ou os conhece tão mal como um repórter apressado. A prova? Temo-la todos os dias nas discussões dos diários, nos pareceres dos 'entendidos', nos despautérios dos alvitres e soluções apresentadas quotidianamente." (Oswald de Andrade, O Homem do Povo, 1931)

Este diagnóstico de Oswald publicado no seu meteórico jornal O Homem do Povo, há exatos 77 anos, por sua incrível atualidade nos leva a pensar se o problema diagnosticado ali, de maneira tão precisa, concisa e incisiva, é um problema brasileiro crônico e insolúvel.

Mas o retrospecto histórico da educação no Brasil, em especial a educação pública, informa-nos que não. Que aquele foi um diagnóstico que se referia à situação do ensino deixada pela Velha República. E que a Revolução de 30, sob o comando de Getúlio Vargas, o teria resolvido satisfatoriamente até o início da década de 1950 (o que foi reconhecido pelo próprio Oswald), através de um longo e difícil processo político nacionalista, ao dotar o país de um ensino primário que de fato alfabetizava, de um secundário que humanizava e que tal política fora continuada no governo Juscelino Kubistchek, acrescentando-a de universidades que, pelo menos até o início da década de 1970, deram ao país verdadeiros profissionais, sábios e pesquisadores, muitos de renome mundial, alguns deles ainda mantendo heroicamente o que resta de vida inteligente em nossos meios acadêmicos.

O que teria então ocorrido com a educação no Brasil do início dos anos 70 para cá? Qual fenômeno a teria feito retroceder a uma situação igual (ou pior) àquela de quase um século passado? Que processo de destruição teríamos sofrido para que o ensino público de que dispúnhamos, tão bem consolidado e satisfatório há quatro décadas, esteja agora em ruínas (físicas e estruturais), e que o ensino privado tenha se tornado um reles comércio de diplomas dentro de uma indústria de produtos e serviços inúteis?

E se pensarmos que semelhante catástrofe teria ocorrido também no Brasil com a saúde pública e as infra-estruturas viárias (ferroviária, aeronáutica, rodoviária, navegação fluvial e de cabotagem)? Que o Estado tenha perdido a propriedade e o controle da quase totalidade dos serviços públicos (eletricidade, telefonia, água e esgoto, gás, etc), agora em mãos de transnacionais que prestam serviços piores e muito mais caros? Que perdemos as grandes estatais estratégicas, entre elas as históricas Vale do Rio Doce e a Petrobrás, e a soberania em importantes regiões da Amazônia e do Pantanal, hoje ocupadas por tropas que hasteiam bandeiras estrangeiras e impedem-nos o acesso a nossos próprios territórios? Que nossos recursos financeiros (divisas) sejam guardados em bancos dos EUA (FMI e Banco Mundial) e mais da metade do nosso PIB, como informa o economista Adriano Benayon, esteja nas mãos de cerca de 500 empresas e bancos transnacionais que operam no país? E a nossa população, quase toda prostrada em condições miseráveis e sub humanas, e que só 20% dela aufere renda familiar suficiente para uma vida modestíssima ou remediada ao lado de uns 5% que se podem dizer de classe média (renda familiar de mais de 10 salários mínimos mensais, isto é, uma micharia de R$ 3.800,00/mês)?

Este é um cenário semelhante ao de um país que foi terrivelmente derrotado numa guerra, e perdeu quase tudo o que tinha para o inimigo, restando-lhe as ruínas de um esplendor que almejava e nunca aconteceu. Mas, neste caso, que guerra? Que inimigo?

A mídia hegemônica nada fala sobre essa guerra. Seus veículos dizem que o Brasil é uma “potência econômica mundial”, um dos países “mais ricos do mundo”. Que está tudo bem por aqui, o país está em paz, está crescendo, devagar e sempre, e, no futuro, será um dos países líderes do planeta Terra. Já fomos “o país do futuro” no passado, e parece que voltamos a sê-lo agora. Outro retrocesso? Não importa! Como diz aquela mídia, “pelos parâmetros macro-econômicos, a economia vai muito bem”. E as “exportações” também. Tudo bem, leitor, sente-se tranqüilo diante da TV e não perca o próximo capítulo da novela. Mas não deixe de pagar as contas em dia, pense na sua segurança. Com as contas em dia, sua vida estará sempre em boas mãos, descanse em paz.

Mas, eis que a verdade é muito outra: estamos em guerra, sim! A maior de todas as guerras da história da civilização! E estamos perdendo a guerra, só não a perdemos toda porque ainda temos muito a perder. E nela não tem civis, somos todos soldados. Querendo ou não, sabendo disso ou não, leitor, você é um soldado dessa guerra. E se não é da resistência, você é do inimigo, ou seja, você é um inimigo de si mesmo e, se deixar o barco correr, será, com certeza, o maior inimigo de si mesmo. Não tarda muito e você estará aceitando (e pagando caro) o implante do Verichip em você – tudo para a sua segurança!(1)

Estamos em plena “Guerra de 4ª Geração”, uma guerra camuflada de paz, quase invisível (só é possível vê-la pela TV), discreta, mas ainda mais letal e destruidora do que todas as que o mundo já sofreu.

Por que chamam a ela “Guerra de 4ª Geração”? O termo é recente e tem sido usado por tecnocratas, analistas militares e profissionais de serviços de inteligência quando se referem à atual vigência de uma suposta “4ª Geração”, não de seres humanos, é claro, mas de tecnologia, de máquinas, máquinas “inteligentes” - dizem eles.

Deixemos falar a nossa intuição sobre o que nos diz o termo:

1 – Nesta ordem, a 1ª Geração deve ter sido a da 1ª Guerra Mundial, filha legítima e primogênita da Revolução Industrial por sua pioneira tecnologia de matança e extermínio em massa;

2 – A 2ª teria sido a dos avanços experimentados na 2ª Guerra Mundial – e que “avanços”! Nela, logrou-se a opera maestra da tecnologia: a bomba nuclear. Nela, desenvolveram-se os princípios da automação e da Cibernética e, de acordo com as lições imortais de Álvaro Vieira Pinto, as três ciências dela derivadas: Robótica, Biônica e Informática, que tornaram possível a fabricação de máquinas por outras máquinas e a expansão, em progressão geométrica e em escala mundial, das mais eficientes tecnologias de extermínio;

3 – A 3ª pode ter sido a da chamada “Guerra Fria”, uma guerra sem exércitos explícitos, travada principalmente pelos serviços de inteligência de duas potências, que bipolarizavam o poder mundial, por meios quase que puramente tecnológicos, em que se experimentavam e se testavam as mais bizarras maquinações, táticas e estratégias de “guerra total” ou de “extermínio total” (do inimigo) e na qual foi introduzida uma nova e poderosa arma: a propaganda audiovisual em broadcast (redes de rádio e TV) em escala “global”, com a qual os “aliados” enfim derrotaram a União Soviética. Poderia ser chamada também de “Geração James Bond”;

4 – E agora vivemos a “4ª Geração” deste macabro processo de desenvolvimento tecnológico. Ela parece somar as três anteriores em seus mais altos graus de “eficiência” para acrescentar-lhes as tecnologias eletrônicas de “última geração”, isto é, a tecnologia digital e uma nova doutrina estratégica. Tudo a serviço de um poder mundial, agora, unipolar: o Império, cujo cerne se situa no eixo EUA-Inglaterra- Israel.

A estratégia de dominação e conquista com tecnologia de “4ª Geração” tem por objetivo converter em soldados e agentes do Império os próprios cidadãos dos países alvo, para depois exterminá-los ou escravizá-los, a fim de que as reservas de matérias primas (riquezas) dos territórios ocupados se tornem de domínio exclusivo do Império.

As táticas de natureza psicológica dessa guerra começam por atribuir status de pessoa humana apenas àquelas que possuem bens e dinheiro em quantidades consideráveis, isto é, uma ideologia fundamentada na “economia do ter”. Como só há bens e dinheiro em quantidades consideráveis para poucos, é necessário que estes os protejam do assédio da maioria que também – e por indução – os deseja, eis que se segue a doutrina da “segurança”, atributo a cada dia mais valorizado pela indústria de “proteção” (máfias). Para se valorizar algo que, em princípio, deveria ser comum e vulgar, é mister, em primeiro lugar, torná-lo raro. Portanto, a “economia do ter” leva à doutrina do terror, e isto não é só um jogo de palavras, é mais que o capitalismo, é o terrorismo.

A resistência ao terrorismo se faz pelo humanismo que é, num sentido muito mais amplo do que o da escola filosófica de mesmo nome, a “economia do ser”, cujo paradigma é a liberdade e não a “segurança”. A “segurança” é o curral, do qual só se pode sair pela porta que leva ao matadouro. A liberdade é a selva, com todos os riscos que nela há. É o “Socialismo do Século 21”.

Estas três últimas edições da Gazeta procuram dar um breve resumo das elucubrações de que vem se ocupando este gazeteiro a partir de várias fontes de informação que serão divulgadas (as elucubrações e as fontes) em detalhes no site do Café Novo Mundo, que em breve estará no ar.


Abraços

Mario Drumond


(1) Para quem não sabe o que é o Verichip, informa-se que já está sendo comercializado no Brasil. Trata-se de um chip implantado no corpo do freguês (que paga entre 200 a 1000 dólares por mês, dependendo das especificidades do “serviço”) através do qual este passa a ser monitorado (de Miami) “24 horas por dia” por diversos satélites. O freguês poderá, assim, ser localizado, atendido, resgatado, salvo ou buscado em qualquer lugar do mundo com a máxima rapidez. O que a propaganda não diz é que por esta mesma tecnologia, e com mais rapidez ainda, ele também poderá ser descoberto, espionado, capturado, seqüestrado, preso ou... deletado.


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com)

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