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Gazeta em forma de e-meio 51 (28/7/2008)

Eles não sabem o que inventaram, a tremenda ferramenta que nos deram. Se Lenin com um jornal e um Partido fez a grande Revolução Russa, - o que não poderemos fazer com a Internet? (Fidel Castro, 2001)


Metamorfose

Um fenômeno em processo acelerado se verifica no comportamento geral do público em relação ao acesso à informação e ao cultivo de opinião: a mídia hegemônica está se tornando, rapidamente, coisa do passado; seus veículos estão ficando obsoletos numa velocidade que ultrapassa todos os prognósticos.

Desesperados, os poderes do estabilishment tentam de tudo para tornar a Internet um meio de comunicação semelhante aos que já domina, e assim poder controlá-la. Mas é outra vez a sapiência do estadista mais experiente do mundo, Fidel Castro, que os desorienta: a Internet “é o infinito”; não se pode controlar o infinito.

Os limites do espectro radiolétrico de emissões de rádio e televisão são passíveis de controle, assim como as bobinas de papel dos periódicos impressos. Mas os bytes, megabytes, gigabytes, terabytes e googlebytes (google é o nome do número que corresponde ao 1 seguido de 100 zeros) que compõem virtualmente os conteúdos publicados na Internet são ilimitados, infinitos. É impossível o controle total de todas as informações que cada usuário pode publicar e acessar na rede.

Além do mais, o usuário, num mesmo equipamento (inclusive, de bolso), quando quer e em tempo real, pode ter acesso simultâneo, instantâneo e quase gratuito a todas as naturezas de publicação - textual, gráfica, sonora, audiovisual e multimídia – produzida em qualquer parte do planeta.

Documentos desta nova realidade inundam diversos sites da web, em especial, nos últimos trinta dias – isto é impressionante: no público infantil, como no juvenil e no de adultos, até os mais maduros, já se tornam manifestos e claros novos comportamentos, independente de posições de classe ou ideológicas, pelo menos no que diz respeito às necessidades de cada um para suprir-se de informação e cultivar opinião, lazer e entretenimento.

À velha mídia só lhe resta o público na faixa dos cinqüentões para cima, mesmo assim só a parte menos influente dele. Todos os demais começam a livrar-se da condição de insetos grudados às grades e horários dos veículos da mídia hegemônica para exercitarem as asas que ganharam da Internet. Se serão asas de barata, de formiga ou de borboleta, é outra questão.

Não vamos nos estender aqui na análise do fenômeno em si. Nos interessa mais, agora, como agir nessa janela revolucionária que a história nos oferece, quase de surpresa.


A campanha eleitoral de 2008

O fenômeno acima noticiado poderá exercer radical influência positiva nesta campanha eleitoral, com boas chances de ser decisiva, se nele estivermos atentos e dele soubermos nos valer, principalmente na estratégia de propaganda.

Poderemos, já nesta próxima eleição, começar a quebrar hegemonia da mídia e o poder econômico do capital sobre os resultados das urnas.

A propaganda audiovisual já terá de ser feita visando não somente a veiculação televisiva e radiofônica mas, também e especialmente, a veiculação por Internet, a qual será de crescente influência nas faixas mais jovens do eleitorado. Criatividade, ousadia e domínio da linguagem serão fatores mais importantes do que recursos financeiros e técnicos de produção. Creio mesmo que uma produção alternativa e barata, exclusiva para a Internet e em paralelo à produção televisiva, obterá resultados surpreendentes.

Quanto às mensagens textuais e gráficas, já não há dúvidas de que terão a Internet como principal veículo, e deverão ser elaboradas para provocar a interatividade e a participação da militância e do eleitorado nos andamentos e na estratégia da campanha. Quanto a esta última, precisará contemplar e saber lidar com a propaganda espontânea, contra e a favor, que, sem dúvida, vai surgir e tentar interferir.

Formadores de opinião, intelectuais e artistas, querendo ou não participar, vão ser demandados e não mais terão a desculpa de se ausentarem do debate por não terem como se expressar. O surrado argumento de que a política é coisa reles e afeita a corruptos e estúpidos apaniguados dos donos do dinheiro ficará neutralizado na perspectiva que a rede web abre à participação efetiva de todos os que podemos contribuir para a qualidade geral da política e individual dos políticos. Omitirmo-nos seria compactuar com a atual situação e acabarmos responsáveis por ela.

A nova realidade é extremamente favorável às correntes progressistas e muito desfavorável às reacionárias. Estas estão vinculadas e comprometidas com a mídia hegemônica, ultrapassada e em franco e rápido processo de obsolecência, e aquelas só podem ter chance se souberem se valer do novo poder de fogo que lhes caiu nas mãos para travarem, ainda de forma guerrilheira e assimétrica, aquela que Fidel Castro denominou “a batalha das idéias”.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com)

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