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Gazeta em forma de e-meio 34 (25/4/2008)

Caro Beto Almeida,

Mais uma vez, agradeço-lhe por suas remessas, sempre relevantes e oportunas. Esta resposta se refere àquela em que você envia a Declaração de Caracas (Manifesto dos Artistas e Intelectuais), faz observações críticas a um de seus parágrafos a respeito dos chamados biocombustíveis (e portanto, do Brasil) e propõe que a Gazeta também participe das reflexões sobre o tema.

Não é que eu seja avesso ao tema; pelo contrário, tenho me coçado por dar uns tecos na questão que, você sabe, me interessa muito, e não é de hoje. Antes, porém, quero que saiba que acompanhei de perto, graças à TeleSur, os dois encontros históricos que se deram recentemente em Caracas, um em seguida ao outro: o de jornalistas da resistência “contra o terrorismo midiático” e o de artistas e intelectuais “Armados de Idéias”.

No primeiro, com a presença de mais de trezentos jornalistas do mundo inteiro, você era o único brasileiro (e reparei no espaço que lhe foi dado, no próprio encontro e fora dele, nos programas de opinião da VTV e outras). Do segundo - que gerou o Manifesto de Caracas, assinado por 82 intelectuais e artistas de quase todos os países latino-americanos e vários países europeus e norte-americanos, EUA inclusive -, nenhum brasileiro participou?!

Então eu pergunto, Beto, pois sei que não foi por falta de convite: o que está havendo com os jornalistas, intelectuais e artistas brasileiros? Por que não estávamos lá, em uma boa delegação que você poderia liderar no primeiro evento e que, no segundo, entre outros aportes prováveis, poderia alterar a redação daquele parágrafo que você, com razão, criticou? O qual eu redigiria assim:

“Repudiamos a manipulacão ecológica, comandada pelo governo George W. Bush e difundida pelos veículos de mídia que lhe servem, para transformar nossos territórios em provedores de agro-combustíveis com a finalidade de sustentar a suficiência energética dos Estados Unidos” (o grifo é o meu acréscimo).

Os dois eventos significaram passos fundamentais para a “Batalha das Idéias” que o governo Chávez está impulsionando mundialmente, e que a Venezuela e Cuba já travam em combate aberto contra o histérico e asqueroso complô do terrorismo midiático global. Bolívia, com Evo Morales; Equador, com Rafael Correa; Nicarágua, com Daniel Ortega; e, agora, Paraguai, com a eleição de Fernando Lugo, marcam posições firmes nas fileiras revolucionárias da Batalha, que crescem a olhos vistos, incluindo as participações nada desprezíveis da resistência no México (Lopes Obrador), Peru (Ollanta Umalla) e em muitos países europeus, africanos, orientais e até nos EUA, além de governos como os da Argentina, da Guatemala e outros países do Caribe e América Central. O muro está ficando a cada dia mais estreito para Lula, Tabaré Vasquez (Uruguai) e Michele Bachelet (Chile). A Colômbia é um território ocupado por EUA, Inglaterra e Israel, e que precisa ser libertado.

É de estarrecer a indiferença brasileira em relação ao que está acontecendo neste momento na Bolívia, a partir do movimento secessionista – tipo Kosovo – que o Império patrocina para derrubar Evo Morales e se apossar das imensas reservas de gás do subsolo daquele país. Somos, depois da Bolívia, o país mais ameaçado; a verdade é que, se não fosse por Evo Morales e sua política integracionista, o Brasil estaria imerso num apagão desastroso, pois é o gás que a Bolívia nos fornece que supre a nossa atual carência de geração de energia elétrica motivada pelos descalabros da política neoliberal de que ainda somos vítimas ingênuas. Já deveríamos estar mobilizando tropas para a fronteira da Bolívia a fim de ajudar Morales a defender os acordos que nos vem honrando, apesar de firmados por governos anteriores ao dele e em claro prejuízo aos interesses do seu país. Se as reservas de gás da Bolívia caem nas mãos dos gringos e seus lacaios, o Brasil estará imediatamente sob chantagem mafiosa e vampiresca: ou ficamos no escuro ou nos submetemos à extorsão que nos será imposta. E quem nos defende? A mídia de resistência na Venezuela, em Cuba e no resto da AL e do mundo! E o faz com tal poder de fogo que a mídia hegemônica em língua espanhola não teve outra saída senão levar a questão às suas primeiras páginas, do contrário não teria leitores nem espectadores. Só no Brasil é que estamos atentos ao caso Izabella...

A equação energética no Brasil só não está resolvida porque todas as políticas dos últimos trinta anos foram conduzidas para não resolvê-la. E segue sendo assim. A questão do álcool e outros combustíveis de origem vegetal e renovável, nem se fala. Por que não dão a palavra e o poder a Bautista Vidal, Marcello Guimarães, Adriano Benayon, Gilberto Vasconcelos, a você mesmo e muitos outros do Instituto do Sol ou da mesma linha de pensamento, que são os que sabem o que fazer?

Porque o “etanol” que Bush veio impor ao Brasil, quando aqui esteve com Lula, ano passado, é o maior dos desastres já provocados por esse nefasto imperador. A própria palavra, “etanol”, veio com ele. Aqui, falávamos “álcool”, palavra nossa, de origem árabe. O povo brasileiro não faz a menor idéia desse tal “etanol”, em que farmácia ou casa de comércio se vende, mas esta era a idéia de Bush, isto é, alienar o povo do debate.

Fidel Castro foi o primeiro a denunciar o que daria a política de Bush para o “etanol”, no dia exato do encontro de Bush com Lula: mais três bilhões de pessoas condenadas à fome no mundo, em menos de três anos. Ontem, a ONU estimou que 800 milhões delas já foram atiradas a tal situação, desde aquele infeliz encontro em São Paulo.

E nós aqui a linchar o pai de Izabella, um pobre pai condenado pela mídia a assassino da própria filha, por antecipação, sem provas, sem direito a defesa nem a julgamento justo.

Continuaremos, Beto. E felicitações pela sua participação no encontro dos jornalistas em Caracas. Ainda bem que tínhamos você por lá.


Abraços

Mario Drumond

PS – Beto Almeida é jornalista, moderador do programa Brasil Nação, na TVE-PR, e diretor da TeleSur no Brasil.

PS2 – abaixo, a Declaração de Caracas, na íntegra, no original em espanhol.


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com)

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DECLARACION DE CARACAS Los participantes en el Encuentro "Armados de Ideas", Intelectuales y Artistas por la Paz y la Soberania de America Latina y el Caribe, reunidos en Caracas, Venezuela, el 12 y 13 de abril de 2008, conmemorando la gesta del pueblo venezolano en defensa de la Revolucion Bolivariana y contra el golpe de estado fascista del 11 de abril de 2002, M A N I F E S T A M O S : Nuestra mas firme solidaridad con la Republica Bolivariana de Venezuela y con su pueblo en el proceso revolucionario que vive este pais en el pleno ejercicio de su legitimo derecho a la autodeterminacion. Apoyamos decididamente al Presidente Hugo Chavez Frias y a los procesos organizativos populares que fortalecen dia a dia su marcha hacia un Socialismo que se construye con imaginacion, humanismo y creatividad. Respaldamos, asimismo, al gobierno del Presidente Evo Morales Ayma, a sus politicas de cambio y al proceso constituyente soberano del pueblo boliviano. Condenamos el injerencismo del gobierno de Estados Unidos en los asuntos internos de Bolivia y denunciamos las acciones divisionistas y discriminatorias de los grupos oligarquicos de ese pais contra los pueblos originarios y el ejercicio de sus autonomias. Rechazamos el Estatuto autonomico de Santa Cruz, declarado unilateralmente, por ser inconstitucional y por ir en contra de la unidad de la nacion multietnica boliviana. Expresamos nuestra solidaridad con la digna posicion de defensa de la soberania del gobierno ecuatoriano de Rafael Correa ante la violacion de su territorio perpetrada por el gobierno de Colombia, con el apoyo de armamento, logistica e inteligencia de Estados Unidos y como parte de la estrategia de dominacion imperialista en la region. Expresamos nuestra indignacion por la masacre de ciudadanos ecuatorianos, colombianos y mexicanos, y rechazamos cualquier tipo de intervencionismo guerrerista contra nuestros pueblos. Externamos nuestra profunda preocupacion por la crisis historica que atraviesa Colombia, y manifestamos nuestra firme solidaridad con la lucha valerosa de su pueblo por una verdadera democracia que respete los derechos humanos, por la realizacion de un acuerdo humanitario y la busqueda de una solucion politica negociada que ponga punto final a la guerra prolongada que ha dejado cientos de miles de muertos, heridos, desplazados y desaparecidos. Urgimos a todos los gobiernos que forman parte de la llamada Mision de Estabilizacion de Naciones Unidas en Haiti (MINUSTAH), y en particular a los de America Latina, para que retiren inmediatamente sus tropas y contribuyan asi al restablecimiento de la democracia con total respeto a la autodeterminacion del pueblo haitiano. Condenamos energicamente las reiteradas agresiones del gobierno de Estados Unidos a nuestros pueblos bajo el pretexto de la lucha contra el terrorismo y el narcotrafico, y demandamos la extradicion del terrorista confeso Luis Posada Carriles a Venezuela, encausado por el homicidio calificado de 73 personas a bordo de un avion de pasajeros. Exigimos la inmediata liberacion de los cinco cubanos presos injustamente en carceles estadounidenses por combatir el terrorismo de Estado dirigido contra el pueblo cubano. Denunciamos el injusto, cruel e ilegal bloqueo que por casi medio siglo, Estados Unidos mantiene contra Cuba. Rechazamos la adopcion indirecta del plan Colombia por parte del gobierno mexicano, el avance de la Iniciativa Merida en ese pais y la Alianza para la Prosperidad y Seguridad de America del Norte, como mecanismos de expansion de la intervencion militar de Estados Unidos en America Latina. Consideramos inadmisible que el gobierno de Felipe Calderon no condenara la masacre realizada en territorio ecuatoriano en la que perdieron la vida cuatro estudiantes de la Universidad Nacional Autonoma de Mexico, coadyuvando en la criminalizacion de las victimas y los sobrevivientes de ese asesinato, mientras protestaba por la nacionalizacion legitima del gobierno de Venezuela de la compannia CEMEX de capital mexicano. Nos pronunciamos por el fin de la dominacion colonialista y neocolonialista en Nuestra America y exigimos la independencia de Puerto Rico y de todas las colonias que subsisten en el Caribe. Convocamos a la movilizacion por el cierre y retiro de las bases militares extranjeras en los paises de America Latina y del Caribe. Rechazamos la manipulacion ecologica para transformar nuestro territorio en proveedores de agro-combustibles con el fin de sustentar la suficiencia energetica de Estados Unidos. Denunciamos el despojo de los conocimientos ancestrales de los pueblos indigenas de Nuestra America y su comercializacion por corporaciones medicas capitalistas, asi como el saqueo realizado por museos y coleccionistas de Estados Unidos que exhiben y mantienen en su poder cientos de miles de piezas de nuestros patrimonios historicos y culturales. Los participantes en este encuentro nos comprometemos a continuar, ampliar y profundizar la participacion de intelectuales y artistas -comprometidos con la lucha de los pueblos de Nuestra America- en la batalla de las ideas, reconociendo las ricas experiencias que estamos viviendo en la construccion del poder popular desde abajo, desde los ciudadanos, desde los procesos de lucha de los pueblos indigenas. Como declaro en esta reunion el Presidente Chavez, "solo el pueblo salva al pueblo". Caracas, Venezuela, 14 de abril de 2008. Suscribimos:Jorge Enrique Adoum (Ecuador)Lisette Adoum (Ecuador)Felix Julio Alfonso (Cuba)Martin Almada (Paraguay)Blanca Arredondo (Venezuela)Sergio Arria (Venezuela)Fernando Baez (Venezuela)Tristan Bauer (Argentina) Carmen Bohorquez (Venezuela)Matias Bosch (Republica Dominicana)Fernando Buen Abad (Mexico)Manuel Cabieses (Chile)Stella Calloni (Argentina)Hernando Calvo Ospina (Colombia)Alba Caroccio (Venezuela)Felisa Casal (Venezuela)Ana Esther Cecenna (Mexico)Ender Cepeda (Venezuela)Emma Elinor Cesin (Venezuela)Ramon Chao (Espanna)Yamila Cohen (Cuba)Michel Collon (Belgica)Luis Alberto Crespo (Venezuela)Antonieta Di Stefano (Venezuela)Nora Delgado (Venezuela)Hector Diaz Polanco (Mexico)James Early (Estados Unidos)Blanca Eekhout (Venezuela)Victor Ego (Argentina)Jose Carlos Fazio (Mexico)Jorge Fornet (Cuba)Eusebio Gironda (Bolivia)Eva Golinger (Venezuela)Reinaldo Gonzalez (Cuba)Ismael Gonzalez (Cuba)Belen Gopegui (Espanna)Marisela Guevara (Venezuela)Amarilis Hernandez (Cuba)Daniel Hernandez (Venezuela)Roberto Hernandez Montoya (Venezuela)François Houtart (Belgica)Jose Huerta (Venezuela)Andres Izarra (Venezuela)Gloria La Riva (Estados Unidos)Cesar Lopez (Cuba)Gilberto Lopez y Rivas (Mexico) Miguel Marquez (Venezuela)Fernando Martinez Heredia (Cuba)Humberto Mata (Venezuela)Aristides Medina Rubio (Venezuela)Juan Carlos Monedero (Espanna)Roberto Montoya (Espanna)Pedro Monzon (Cuba) Luis Morlote (Cuba)Carlos Noguera (Venezuela)William Osuna (Venezuela)Ivan Padilla (Venezuela)Edgar Paez (Venezuela)Senel Paz (Cuba)Ana Maria Pellon (Cuba)Regulo Perez (Venezuela)Raul Perez Torres (Ecuador)Jose Pertierra (Estados Unidos)Abel Prieto (Cuba)Jose Vicente Rangel (Venezuela)Fernando Rendon (Colombia)Maria Elena Salgado (Cuba)Roberto Sanchez (Espanna)Mario Sanoja (Venezuela)John Saxe Fernandez (Mexico)Hector Seijas (Venezuela)Pascual Serrano (Espanna)Francisco Sesto (Venezuela)Hector Soto (Venezuela)Jose Steinsleger (Mexico)Cesar Trompiz (Venezuela)Romulo Ulloa (Venezuela)Iraida Vargas (Venezuela)Vicioso Luisa "Chiqui" (Republica Dominicana) Daniel Viglietti (Uruguay)Antonio Vulcano (Argentina)Margarita Zapata (Mexico)

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