Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio 30 (6/4/2008)

Do debate que é bom

Quanto à matéria divulgada na última Gazeta sobre o nosso tesouro lingüístico e seus guardiães, um deles, entre os mais radicais que conheço, de pronto manifestou seu protesto, que vai aqui na íntegra (na forma e estilo originais, sem revisão), seguido da resposta da Gazeta, sua réplica (idem) e um comentário deste gazeteiro


Caro Mario _ compreendo. Mas acho que o Nhennhengatú seria muito melhor para o brasil que o portugues e nos uniria muito mais aos paises espanhois pois eles todos falam mais de uma lingua alem do espanhol e so o brasil nao fala _ esta é uma constituiçao direitista do brasil _ porque vc sabe o brasil é um pais nitidamete de direita _ o Nhengatu foi proibido por um demente diretista chamado Pombal, que configorou a face do pais atual _ até hoje . Era uma das bestas da direita portuguesa. Gostaria de enfforcar-lhe ex-corpore pelo que fez com os indios brasileiros todos, e com o pais. E com o pais todo _ . Para vc ter ideia as constituiçoes como as do Paraguai e Bolivia determinam MAIS DE UM IDIOMA OFICIAL FALADO_ e isto é ser mesmo aberto para as populaçoes e para a diversidade linguistica dos homens _ o portugues é uma lingua limitada e formal. Menos, o espanhol, mais livre e aberto aos sentimentos humanos._ é uma lingua nao falada no mundo exterior O PORTUGUES _ nao ha interesse, ao contrario do espanhol._ nao ha cursos, o tupi guarani e os seus diversos ramos enriqueceriam muito este pais e suas linguas - atraves de seus vocabulos tonais e muito mais sinceros. O imperio desta lingua mais gramatical e léxica que expressiva nao foi feito pelo genial Nobrega, ele mesmo um liberal, mas pela tirania de extrema direita de Pombal _ uma besta. Nao ha a menor importancia em unidade linguistica quando ela nao assume as linguas originais, como no Paraguai, o guarani, e é imposta pela extrema direita de lisboa. _ pelo contrario _ temos que mudar isso _ tirar a lingua unica da nossa constituiçao _ no brasil segundo a funai ha mais de 120 linguas faladas e vivas no pais_ e nada se sabe e a consituiçao, nada menos _ isto é uma especie de "calar os nao falantes", "silencia-los" _ tipico da direita de vasta extensao na formaçao do brasil colonial_ . Nao ha "unidade" liguistica no brasil, mas "imposiçao direitista" linguistica de cima para baixo_ com fins politicos _ saiba vc . Alem dos idiomas africanos. Sou contra a "unidade lingusitica" e a favor da "diversidade linguistica" _ assim como os paises hispanicos sao _ . esta pretensa "unidade" é para fins politicos e nao foi estabelecida por nenhum liberal conhecido, nem progressita _ e alem do mais esta Besta nunca esteve no brasil para ver do que se tratava isso aqui. como todas as Bestas Portuguesas _ de maneira que quero ele levado das brecas da nossa historia o mais rapido possivel_ quero a volta da LINGUA GERAL BRASILEIRA_ uma reflexao _ de quem conviveu com a diversidade das linguas indigenas _ e um abraço do _ guilherme vaz .///.[Admiro IMENSAMENTE a tv-sur, quero te dizer isso - e concordo plenamento com vc_ imensamente.][È o canal que nao tem "cicuta" e nem comerciais de cicuta dentro].

Querido Gulherme (q bom "ver" você de novo!),

A Gazeta não pode ser extensa e - vc tem toda razão - ficou faltando o barato principal na matéria, que são as línguas indígenas as quais, aliás, Nóbrega jamais menosprezou, pelo contrário: ele foi o primeiro a conhecê-las em toda a diversidade que lhe estava ao alcance e a dar ênfase à importância que tinham para o processo de colonização que, para ele, haveria de ser pacífico e harmônico com os autóctones e a natureza. Disso, ele deixou material incrível em suas obras e cuidou inclusive de dicionarizar - ele mesmo - o tupi-guarani, fazendo questão de frisar sua admiração pelo idioma nativo e as riquezas que contêm. Sua resposta foi ótima, e peço para publicá-la na próxima Gazeta a fim de suprir essa lacuna indispensável ao melhor entendimento da matéria. Que defende, antes de tudo, a unidade cultural de uma língua atualizada (citei Noel, lembra-se?) em relação ao português de Portugal e que se tornou nossa justamente pela diversidade de sua miscigenação com as autóctones e, como dizia Oswald, pela "contribuição milionária de todos os erros". A Revolução Bolivariana liderada por Chávez não só as reconhece como línguas oficiais como garante a preservação e a legalidade do uso de todas as línguas autóctones e, na Venezuela, obriga-se o Estado a dar alfabetização e educação bilíngüe para os povos originários e o absoluto respeito às suas culturas e costumes (até a medicina indígena é reconhecida oficialmente na Venezuela, e o Estado é obrigado a bancar a preservação e a até a restauração daqueles conhecimentos ancestrais como também o tratamento de pacientes que optarem por suas terapias). Nóbrega estaria de acordo com tudo isso, e os que o sucederam como "guardiães da língua" também. Quem impôs e mantém essa estupidez monolingüística conservadora, acadêmica e arcaica no Brasil são as oligarquias, os "herdeiros de Pombal", por burrice e por obediência automática ao Império. O povo brasileiro fala brasileiro, já passou de português. Graças a Deus e ao nhengatú! Depois, chegou-nos o valioso aporte africano. Muito obrigado pelo toque "de pronto", e a Gazeta não só assume tudo o que você acrescenta como confessa a grave falha de conteúdo que você apontou. E pede desculpas aos leitores. Abração, com saudades, do Mario Drumond.


Caro Mario _ Pode publicar o Pensamento sobre a Lingua Geral Brasileira _ como eu a chamo, é claro . Os brasileiros formados pela direita para desrespeitar os seus irmaos de Lingua Geral Americana de TRADIÇAO ESPANHOLA nada entendem do seu passado e do que se passa neste momento na america espanhola, um pouco por inveja porque estao neste momento por baixo no noticiario mundial, outro pouco porque a modernidade deles neste momento é maior_ estao inseridos na discussao de que "raios que o partam" é esta tal nova ordem e nao vao se inserir de graça. aqui não _ politicos acham algo de "chique" falar de "primeiro mundo", NENHUM DELES NUNCA COMPROU UMA PASSAGEM PARA A BOLIVIA EQUADOR PARAGUAI COLOMBIA E VENEZUELA _ nenhum deles! - e se dao aos direitos de "cagar regra " SOBRE QUALQUER ASSUNTO DA AMERICA ESPANHOLA CONFIADOS BESTAMENTE NO "PIB" BRASILEIRO, isto nao pode dar certo com o tempo e nao vai dar_ [UM DELES, CONHECIDO BANDOLEIRO SOCIAL CHEGOU A PEDIR QUE O PRESIDENTE CHAVEZ SE "RETRATE-SE" AO CONGRESSO BRASILEIRO PARA VC VER ATÉ ONDE VAI A IGNORANCIA E A ARROGANCIA DESTES "ANOES DO MUNDO"] _ o brasil é um pais muito mais atrasado do ponto de vista de uma "intelequia do autóctone" do que qualquer pais da america hispanica, desde muito _ é uma cultura de tradiçao "rendida", de "direita", desde que se extraiu a LINGUA GERAL da perspectiva dos nativos _ é neo-global, o que é pior que ser global, hoje, e antes neo-colonial, suas elites e mesmo o seu povo desprezavam silenciosamente os povos vizinhos _ este é um "ovo de serpente" para o futuro _ qualquer proximo governo conservador vai colhe-lo _ e ai sera péssimo _ um senador da republica ja faz uma "cruzada" nacionalista e neo imperialista contra a venezuela e os seus primos ao lado. o povo de lá nao vai entender isso _ mesmo porque o senador é paranoico e ja mandou comissao ao oriente medio quando foi presidente para conseguir "a paz" como se pudesse _ sic _ a escola superior de guerra precisa entender que nao existe segurança se nao for continental _ e isto significa todos os da america do sul _ porque os hispanicos ja entenderam _. a colombia é um pais invadido desde a construçao do canal do panamá, é estrategico, como o canal, o Panama é uma republica falsa_ bionica_ porque era um estado colombiano do norte_ uma "provincia" tornado um estado nacional bionico desde a construçao do canal, com ajuda das "elites" colombianas _ é um pais que taticamente tem "tres mares"_ o atlantico, o pacifico e o amazonas, alem da passagem do atlantico para o pacifico, o canal do panamá _. isto em ESTRATEGIA é "cabal" é "nuclear" _ seu nome portanto conhecido mesmo lá é "Colombia dos Tres Mares" _ ta fudido, ta invadido é claro_ é um pais de importancia critica devido a sua posiçao territorial continental_ nao vao largar mão desta posiçao é claro, nao sao bestas_ botaram soldados colombianos e civis na guerra da coreia pra seu governo, é inacreditavel mas é assim_ nao é "um pais propriamente" mas uma colonia com a "pax americana dentro" ha muitos anos, sua elite mora em miami _ o garcia marquez conta alguma coisa no seu libro "escribir " _ é o pais mais invadido da américa e todos os governos sao titeres sem expressao nenhuma a exceçao talvez do Gaviria, se nao sao nao duram _ e é tao critico de que ha uma teoria que por isso mesmo por ser tao critico o que teria derrubado os planos do proprio Bolivar ja seria uma açao de interesse dessa ordem, desde lá, do sec dezenove, comprando os seus generais, para vc ver _ da pra ver alguma coisa do que esta acontecendo por lá _ abs _ a direita é o mal do mundo meu amigo _ guilherme ///.


Guilherme Vaz é músico e compositor, e a estes há que reconhecer uma grande autoridade para o trato dos assuntos da língua, pois a língua é um fenômeno, antes de tudo, sonoro. Além disso, a obra de Guilherme é visceralmente enraizada no mais profundo e vanguardista latinoamericanismo, na “Pátria Grande” de Nóbrega, Bolivar e todos nós, pátria que ele conhece nas entranhas mais selváticas e ancestrais, e que a sua música reflete com incrível e inusitada beleza. Uma vez que os neoliberais tentaram tirar a palavra “pátria” dos dicionários, me gusta mucho utilizá-la, e o que falta na nossa hoje pequena e amesquinhada pátria brasileira são debates assim, onde se discute o poder real, o poder cultural dos povos e a realidade infinitamente rica dos nossos legados históricos, todos ainda vivos e pulsantes por mais atentados de que tenham sido vítimas nestes cinco séculos de estupidez e boçalidade colonial e neocolonial.

Outro reparo a Gazeta precisa fazer quanto à matéria em exame. Desde o seu mocó de BH, este gazeteiro vai ficando prensado de província e volta e meia se esquece de coisas que viveu para muito além dela. Citar nomes em jornalismo de opinião é sempre perigoso, por causa da memória que arranha e que falha na hora que tem de trazer e falar. Faltou um nome por demais importante para mim naquela pequena relação que acabou ficando presa a Minas Gerais, por causa do diabo da memória: entre os que já se foram, o de Antonio Houaiss, duas vezes meu mestre e uma vez meu professor. Dos que aqui estão, eu digo que, tal como seus antecessores, são todos músicos, poetas, artistas, cientistas e pensadores que se dedicam a “construir pátria” (segurem mais esta, neocons), como dizem na Venezuela.

Esta é a primeira vez que a Gazeta responde a uma resposta. Nada contra as tantas e inúmeras respostas anteriores, muitas muito boas, mas este gazeteiro é gazeteiro mesmo, em todas as acepções da palavra. Quando está fazendo a Gazeta, ele está também “fazendo gazeta”, isto é, deixando de fazer aquilo que lhe dá o pão para fazer o que lhe dá confusão e muita alegria. Pena que a disponibilidade de tempo para gazetear não seja maior. Já houve quem dissesse que a Gazeta “é uma ilha” e até um que escreveu várias vezes para dizer que aqui só se escreve besteira. Paciência. Gostei da “ilha”; só que vejo coisa mais complicada: somos todos ilhas, ou, pior ainda, náufragos à deriva neste oceano comunicacional-global onde ninguém se comunica com ninguém – nossas mensagens são na verdade pedidos de socorro, complexos e tecnológicos SOS com a mesma “força de comunicação” de uma mensagem colocada dentro de uma garrafa e jogada no meio do oceano Pacífico.

Mas aquele que tem a garrafa, o papel, a pena, a tinta e a rolha, se não escreve a mensagem e não a joga no mar é porque já entregou os pontos e naufragou.


Abraços

Mario Drumond

PS – depois de revisar esta Gazeta, Frederico de Oliveira, que também é músico e compositor da nossa Pátria Grande, enviou-nos o seguinte comentário:
“Vai a 30 revisada, cujo final, depois de uma louquíssima e fecundíssima viagem pela fala do Guilherme e pelo diálogo entre vocês, é uma lição de lucidez com um belo verniz poético. A metáfora da garrafa é uma lição que os caretas - este é o problema: globalizar impõe, antes de tudo, encaretar geral - já não alcançam, desça até o Redentor aqui para nos socorrer DE NOVO. Fantástico, irmão.” A Gazeta agradece, Fredera.


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com)

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