Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio 22 (30/1/2008)

Bufões togados

A Justiça brasileira, apesar de seu triste histórico, sempre reivindicou para si (ao menos) uma fachada de Poder (e uma fatiazinha dele também, de vez em quando). Agora, nem isso. Aceitam-se os juízes formados em escolas particulares, às escâncaras, sob a vil condição de bufões do poder midiático. A Justiça deixa de ser um poder para ser servil. Ou um ser vil. Às favas o direito positivo, o direito romano, as letras sagradas das leis e da Constituição, as fundamentações lógicas, o contraditório e as razões da ciência. A antes solene e vetusta magistratura agora rebola no picadeiro dos déspotas mas não faz rir a ninguém.

Exemplos? Essa palhaçada que estão fazendo com o governador Roberto Requião, do Paraná. Nem se pode chamar aquilo de censura à liberdade de expressão. Isso foi na época da ditadura, e era coisa séria, eles acreditavam mesmo nela. Agora é só palhaçada de juízes e desembargadores tentando justificar o despotismo imperial. É que Requião ameaça o Império até quando dá receitas de ovo frito na TVE-PR, para nos lembrar (e nos alertar) daqueles tristes tempos das receitas de bolo nas primeiras páginas. E os “cachorros do Império” da mídia atiçam os bufões togados a mostrarem seus serviços pit yankees.

Outro que deve estar ameaçando muito o Império é o combativo jornalista e vereador do Rio de Janeiro Pedro Porfírio. Os “juízes” não deixam seu mandato em paz. Processos na justiça comum, sem nenhum fundamento, conseguem liminar para tirá-lo temporariamente da Câmara, e já é a segunda vez que isto acontece. A mídia finge ignorar.

É um atestado de incompetência total da nossa magistratura o fato de não se declarar incompetente em processos claramente atribuíveis à competência da Justiça Eleitoral, onde, em ambos os casos, eles não teriam sequer um provimento de primeira instância. E a Justiça Eleitoral existe para quê? Para também rebolar no picadeiro? Não tem graça nenhuma.


ALBA – já ouviram falar nela?

Alternativa Bolivariana para as Américas, ALBA. Reuniu-se em Caracas, neste último fim de semana, a VI Cúpula da ALBA. Venezuela, Bolívia, Cuba, Nicarágua, representantes de quase todos os países latino-americanos e dos principais movimentos sociais do continente (inclusive dos EUA e Canadá) formam este bloco econômico-cultural alternativo, que cresce a olhos vistos. Fundaram o Banco ALBA, onde vão ficar boa parte das reservas financeiras dos países membros (atualmente depositadas no Banco Mundial, nos EUA) e impulsionaram a Petrocaribe. Para se ter uma idéia, sem a Petrocaribe todos os pequenos países caribenhos e da América Central (incluindo Nicarágua, Guatemala e Honduras) estariam falidos ou à beira da falência com os preços do petróleo nas alturas em que se encontram. A Petrocaribe foi criada para permitir que o petróleo venezuelano seja permutado por bananas, tomates, açúcar, vacas, porcos e o que mais aqueles países possam dar de serviços e mercadorias em troca da preciosa matriz energética, que, nessas transações, é cotada a preços fixos, muito abaixo dos “de mercado”.

São itens que fazem uma falta danada na Venezuela com a explosão do consumo de alimentos causada pela revolucionária distribuição de renda (os venezuelanos comem hoje quatro vezes mais do que comiam há dez anos, por causa da introdução das camadas “D” e “E” da população nos hábitos alimentares antes só possíveis às classes média e alta) e da sua incipiente agroindústria. Que só agora começa a ser impulsionada, em bases socialistas, não capitalistas, portanto sujeitas a um processo mais longo em seu desenvolvimento, por ser também um processo social, cultural e ideológico e não apenas econômico-industrial. Somente em 2015 a Revolução espera conquistar a auto-suficiência alimentar para o país. Há dez anos, a Venezuela importava até alface dos EUA, e os tomates vinham embalados um a um em papel celofane, como se fossem bombons.

A ALBA é o proscênio do século 21, e vários países da África, Ásia, Oriente Médio e Oceania estão enviando observadores para conhecê-la de perto. Os que estão de fora ainda estão no século passado. Infelizmente, o Brasil está de fora – porque quer, só por isso!


AWOL – conhecem?

American way of life, AWOL. Casas e apartamentos são abandonados pelos infelizes ex-proprietários devedores de hipotecas que não podem pagar, e que deixam as chaves nas respectivas caixas de correio para facilitar o trabalho dos oficiais de justiça. De dentro, levam tudo o que possa valer alguma coisa nos mercados de segunda mão: louças, ferragens, portas internas, utensílios de eletricidade e até vidros, fios e canos de água arrancam, quando não levam paredes inteiras, se feitas de madeira. Mas abandonam lá, solitários, seus animais de estimação. Os outrora felizardos freqüentadores de pet shops, pet clínicas e pet spas ficam ali, à míngua de água e comida, na agonia lenta e dolorosa da sede e da fome, se não tiverem a sorte de os homens da saúde pública os encontrarem para lhes dar a injeção de misericórdia e encaminhar seus cadáveres a incineradores.

As entidades dedicadas ao problema já estimam em dois milhões o número de residências que se encontram em tal estado em todo os EUA, e algumas, como a OMS, alertam que é só o começo, pois o número aumenta vertiginosamente a cada dia que passa.

A grande maioria dos ex-proprietários, sem outra saída, concorrem a aglomerados nas periferias das grandes cidades, onde habitam uma nova espécie de favela; um caos anti-estético de materiais plásticos e caixotes coloridos no entorno dos megalixões de onde tentam reciclar coisas que possam trocar pelo pão de cada dia na informalidade da vida econômica e na marginalidade da vida social. Porém, longe do inferno das hipotecas.

O dinheiro que falta para causar a lenta destruição de bairros inteiros de cidades dos EUA é o mesmo que sobra para alimentar de bombas os aviões dos EUA e Israel na rápida destruição de bairros inteiros de cidades do Iraque, Afeganistão, Líbano e Palestina.

AWOL é o cenário tenebroso e macabro do fim de um século que já passou mas ainda não terminou de infernizar a Humanidade.


A Gazeta, de leve

A Gazeta começou este ano meio de leve, um tanto devagar. Alguns leitores já se manifestam. Mas foi um janeiro atípico e mais atribulado que o normal para este gazeteiro, além do que certas coisas estão por acontecer, e ele espera um desfecho para depois dar o recado, em novos furos de reportagem. Aguardem!


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com)

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