Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio 45 (27/6/2008)

Esclarecimento

Alguns leitores manifestaram dúvidas sobre a autoria e a natureza do primeiro texto da última Gazeta (44). A autoria é deste gazeteiro e o texto é de ficção. É de uma série em preparo intitulada Contos anti-imperialistas: qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.


Óleo de pedra

De tudo já se falou a respeito dos preços do petra oleum, o infecto combustível que na antiguidade era usado para iluminar catacumbas e hoje corre nas veias viciadas do mundo em desengano, mas duas coisas ninguém fala:

- no Brasil “auto-suficiente”, faz mais de quatro anos que estamos pagando a gasolina mais cara do planeta: cerca de US$ 6 o galão (3,8 litros); hoje os EUA, de longe o maior importador de petróleo do mundo, vivem um deus nos acuda porque o galão passou dos US$ 4 - girava em torno de US$ 1 há uns dois ou três anos;

- se os EUA pusessem fim às suas guerras “preventivas” e possibilitassem um pouco de paz ao planeta, é possível que os preços do petróleo caíssem imediatamente para a metade dos de hoje.


“O índio é que era são,
O índio é que é o nosso modelo”

Ontem, os indígenas de Chapare e de outras cidades do departamento de Cochabamba, na Bolívia, expulsaram a USAID e todas as ONGs a ela ligadas. E declararam Cochabamba “livre da injerência dos EUA”. As notícias mencionam um corre-corre, com os gringos tendo de abandonar às pressas as instalações da USAID e das ONGs, e os indígenas ocupando seus imóveis e retirando placas, cartazes e letreiros das fachadas.

Como dizia Oswald de Andrade, “Não provoquem a paciência do índio!”.

Aqui no Brasil, no estado de Roraima e suas vizinhanças amazônicas, a questão indígena permanece sob o bombardeio da desinformação midiática e governamental, além do tiroteio de opiniões na Internet. Há poucos dias, a FUNAI distribuiu ao mundo umas fotos, tiradas em helicópteros, de uma tribo que se mantêm isolada na Amazônia, perto da fronteira com o Peru, com o seguinte argumento - que foi publicado nos principais veículos da mídia hegemônica mundial -, emitido pelo coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental da Fundação Nacional do Índio, José Carlos dos Reis Meirelles Júnior:

"Resolvi fazer a divulgação porque os mecanismos (para proteger essas populações) não têm servido. Ou a opinião pública entra nisso ou eles vão dançar".

Não sendo o bastante, a respeito da tribo em questão, o burocrata dessa repartição pública de nome grande e complicado, e que ele mesmo já diz que não serve para nada, acrescenta:

"Não sei nada deles, e a idéia é continuar não sabendo". (!!!???)

Além de se pronunciar (para o mundo) em primeira pessoa, em nome da FUNAI, o burocrata (ir)responsável, que deveria ser, pelo menos, um (mau) especialista no assunto, fala tais banalidades numa linguagem vulgar, mais própria à de ecologistas de butique, sobre um tema que deveria ser considerado da mais alta relevância pelo órgão público que representa.

Então ficamos assim: a sobrevivência de nossas tribos indígenas, coitadas, depende da opinião pública. A opinião pública, segundo Bolívar, deveria ser o maior dos poderes. Mas, enquanto não nos chega a revolução bolivariana, pobre daquele que depender dela. Ela, por exemplo, acredita-se, é contra a guerra do Iraque e contra o governo dos EUA. Aliás, de qual opinião pública estamos falando? A da Fox News-BBC-CNN-Globo-etc, a que a FUNAI pensa que pode substituí-la, a da Internet? Anglo-saxônica, escandinava, latino-americana, africana, asiática, muçulmana? Que diabos será essa “opinião pública” que o cara pensa que vai garantir as populações indígenas da Amazônia? A mesma que garante suas florestas?

E como é que a tal “opinião pública”, qualquer que seja a possível ou a escolhida, vai defender algo que a própria entidade que tem por dever defender diz que nada sabe a respeito, nem quer saber?


Abraços

Mario Drumond


Em tempo: este gazeteiro foi convidado a participar do programa Brasil Nação, da TVE do Paraná, moderado por Beto Almeida. O programa será transmitido, ao vivo, no proximo domingo, 29 de junho, às 21:30h. Para quem não está no Paraná e não tem antena parabólica, poderá ser visto pela internet no site http://www.pr.gov.br/rtve. O assunto é Raposa Serra do Sol. Este gazeteiro pretende usar o espaço para denunciar esse estado de desinformação e irresponsabilidade geral que, como já denunciou em Gazeta anterior, o coloca, tal como à opinião pública (todas!), na condição de “cego no meio do tiroteio”. E vai procurar colher, na opinião dos demais participantes do debate, alguma informação que possa de fato nos orientar para sairmos dessa desagradável (e perigosa) situação.


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com)

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