Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio 62 (12/9/2008)

"Aquí hay un pueblo digno, yanquis de mierda. Váyanse al carajo 100 veces" (Hugo Chávez, em comício eleitoral no estado de Carabobo, ao expulsar o embaixador dos EUA na Venezuela, em solidariedade à Bolívia, 11/9/2008)


Bolívia resiste

A Gazeta 34 (25/4/2008) publicou o seguinte comentário:

“É de estarrecer a indiferença brasileira em relação ao que está acontecendo neste momento na Bolívia, a partir do movimento secessionista – tipo Kosovo – que o Império patrocina para derrubar Evo Morales e se apossar das imensas reservas de gás do subsolo daquele país. Somos, depois da Bolívia, o país mais ameaçado; a verdade é que, se não fosse por Evo Morales e sua política integracionista, o Brasil estaria imerso num apagão desastroso, pois é o gás que a Bolívia nos fornece que supre a nossa atual carência de geração de energia elétrica motivada pelos descalabros da política neoliberal de que ainda somos vítimas ingênuas. Já deveríamos estar mobilizando tropas para a fronteira da Bolívia a fim de ajudar Morales a defender os acordos que nos vem honrando, apesar de firmados por governos anteriores ao dele e em claro prejuízo aos interesses do seu país. Se as reservas de gás da Bolívia caem nas mãos dos gringos e seus lacaios, o Brasil estará imediatamente sob chantagem mafiosa e vampiresca: ou ficamos no escuro ou nos submetemos à extorsão que nos será imposta. E quem nos defende?”

Pois é, hoje, menos de cinco meses depois, quando os gasodutos da Bolívia estão sob grave ameaça por bandos de baderneiros incendiários pagos pela embaixada dos EUA, que já explodiram um e fecharam as torneiras de outro, o Itamaraty emite uma nota de apoio a Evo Morales!?

Nota de apoio... os delinqüentes chantagistas que querem se apoderar das riquezas do nosso vizinho (e as nossas também) não estão nem aí para as notas do Itamaraty. Já avisaram que se tomarem os gasodutos vão fechar as torneiras e só as vão abrir se o Brasil pagar-lhes o dobro do que paga hoje ao governo boliviano. Isto só para começar.

E volto a perguntar: quem nos defende?

Resposta: o bravo povo boliviano, explorado, pauperizado, quase desarmado, suas forças armadas são impotentes para um enfrentamento com esses paramilitares bem pagos e bem armados pelo Pentágono. Mas Evo Morales a cada dia fortalece sua liderança e a sua revolução indígena e, respaldado por 70% dos eleitores em recente referendo, já é forte o suficiente para escorraçar de lá o embaixador dos EUA, como fez ontem com o Míster especialista em separatismo e fragmentação de nações (Yugoslávia e depois, a Sérvia despojada de Kosovo) que o Pentágono colocou lá para destruir o seu país. Um índio chutando a bunda de um gringo, esta é a Nossa América!

Outra resposta: o bravo povo bolivariano da Venezuela, fortalecido por quase uma década de vitoriosa revolução popular e liderado por Hugo Chávez, até ontem o único presidente do mundo capaz de peitar de frente o Império, respaldado pelo apoio maciço do seu povo e por forças armadas dignas, já bem armadas e patriotas. Os EUA acabam de tentar novo golpe de estado contra ele, incluindo o seu assassinato, que a Inteligência venezuelana soube neutralizar. Já anunciou que a Venezuela não permitirá que se derrube o governo democrático da Bolívia e, em apoio a Evo Morales, também expulsou de lá o embaixador dos EUA.

Enquanto isso, a gente fica aqui assistindo o passeio da Quarta Frota na Bacia de Santos (sem que a mídia brasileira publique uma palavra) e o Itamaraty emitindo notas.


O que é uma revolução

Em apenas 15 dias, Cuba, as ilhas do Caribe e a costa sul dos EUA sofreram três ataques seguidos dos mais violentos furacões. Porém, nenhum dos países da região foi tão atingido pelos três monstros meteorológicos como Cuba. O primeiro deles, o Gustav, cortou a ilha de sul para norte com força de ventos semelhantes às das explosões nucleares, ao ponto de destruir uma estação meteorológica e de observação de furacões quando seus instrumentos marcavam a velocidade do vento a 340 km/hora. Nada pára em pé sob a força de um vento desses, nada! As fotos de uma das cidades que vitimou nos remetem imediatamente às fotos de Hiroshima depois da bomba. O segundo, o Hanna, violenta tempestade tropical, entre as maiores registradas, varreu a ilha toda. E o terceiro, o Ike, assolou-a de ponta a ponta, de leste para oeste, provocando ondas do tamanho de edifícios, invasão dos mares e mais destruição. E agora segue pelo Golfo do México em direção ao sul dos EUA.

Ainda contam-se as vítimas fatais dos três monstros em vários países, inclusive os EUA, às dezenas, às centenas e aos milhares. Em Cuba, foram sete mortos, os primeiros por furacões em toda a história da ilha, depois de quase meio século da Revolução. É um recorde mundial de sobrevivência populacional perante catástrofes naturais em todo o mundo. Como consegue Cuba tal proeza?

Em primeiro lugar, a prioridade revolucionária pelo valor da vida humana, além da educação, o preparo e a disciplina do povo. Nos EUA, por exemplo, a preocupação maior das autoridades é com as plataformas de petróleo que possuem no Golfo. Enquanto tentavam protegê-las, o célebre Katrina matou cerca de 1.800 pessoas em Louisiana. Desta vez, a população amedrontada se refugiou como pôde e o Gustav matou umas 200 pessoas; só não matou mais porque chegou lá enfraquecido, na categoria 2. No Haiti, país completamente dominado e escravizado pelos EUA, cada um desses três últimos meteoros matou em média 500 pessoas e deixou praticamente toda a população pobre desabrigada, incluindo 300 mil crianças sem ter o que comer.

Em segundo lugar, a invenção e a inteligência revolucionárias. Cuba é o único entre todos os países sujeitos a tais catástrofes que possui uma bem bolada rede de 235 barragens estrategicamente posicionadas cujas comportas são acionadas para recolher e represar as águas que os furacões despejam sobre a ilha, e impedi-las de provocarem inundações catástróficas. Além do mais, a água fica em reserva para o uso emergencial das populações atingidas e para o uso posterior na agricultura e no abastecimento das cidades. Segundo o jornal Granma, só o Gustav deixou nas barragens por onde passou cerca de 230 milhões de metros cúbicos de água. Ainda não publicou as cifras referentes ao Hanna e ao Ike, mas, ao que parece, ambos quase esgotaram a capacidade total das 235 barragens, que é de 9 bilhões de metros cúbicos. Das 31 represas da província de Pinar del Rio, que sofreu a passagem dos três meteoros em suas máximas intensidades, 18 transbordaram pela primeira vez e as demais ultrapassaram 80% de suas capacidades.

Deve ter sido por isto que foram registradas enchentes em Cuba na passagem do Ike, poucas e não muito dramáticas, apenas danos materiais Mas o precioso líquido que caiu do céu vomitado pelos três monstros permanece lá. Para os trabalhos de reconstrução, ele lhes valerá muito mais que ouro.

Isto é uma Revolução: humanismo e sabedoria nas relações com a natureza.


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com).

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