O debate prossegue II
De Sergio Santeiro (em resposta à última Gazeta):
Para prosseguir melhor, dispenso minhas divergências com o modelo condottieri, prefiro a mais extraordinária experiencia contemporanea da humanidade que é a construção moderna da republica aymara na Bolívia, um povo precolombiano ressurge com moderação ensaiando uma revisão da socialismo guarani, será? mas sim podemos todos ser parceiros na empreitada que descreves. Reza a lenda que um dia o Glauber configurou a "solução" para o gigante adormecido. Entendam com atenção. É uma fraude o unicismo e o federalismo da grande pátria.
Melhor seria: "O Norte, a floresta amazônica e arredores, extrativista, só dá pra ser encarada nos moldes de um coletivismo chinês. Já o Nordeste, fazendas, gado e agricultura, pelo coletivismo soviético. A Bahia, não tem jeito, é um reinado nagô. O Rio, tambem não tem jeito, é uma espécie de Hong Kong, jogatina, prostituição, hedonismo e tal. E o Sul, já que tanto querem e tanto gostam seria mesmo capitalista". Uns ajustes aqui e ali, os naturais de cada terra optariam neste novo mapa, mas só não pode ficar trocando. Quem optar por um, que encare. Não sei se estropiei a lenda do profeta, como o chamou Paulo Emílio, adendando: o papel do profeta não é acertar, é profetizar. Segue a roda. Abs. E estou esperando a visita com farnel e tudo. S.
Caro Sergio Santeiro,
A revolução aymara e a revolução bolivariana são a mesma revolução. Assim como a revolução gaúcha, a guarani, a quechua, a maia, a asteca e a cubana. E a nossa Revolução Caraíba, claro, que, como disse o profeta Glauber de Andrade, envolve desde o reinado nagô até o coletivismo chinês, passando pelo capitalismo temporão que, mais cedo ou mais tarde, também vai acabar deglutido na raiz forte, única e voraz do nosso avô Cunhambebe.
Essa coisa de condottieri é de formato midiático e muitos já caímos nessa. É uma velha história, um velho conto do vigário. Eu mesmo caí, em relação à Lula, lembra-se? Você até ficou “de mal” comigo. Mas esse formato está se dissolvendo como papel de seda na água. A revolução não é Chávez, não é Lula, não é Evo, não é Rafael, não é Daniel, não é Fidel.
De jeito nenhum! Estes são líderes que alguns de nós, os povos latinoamericanos, cada qual em seu país, encontraram para bater de frente com a mídia no velho “formato império”. Na maioria, muito bem escolhidos, diga-se. Infelizmente o nosso Lula fica muito fraquinho perto deles, mas é o que nos sobrou e ainda é melhor que um tucano cara-de-xuxu, um serra cara-de-pau ou um uribizinho à mineira, incluindo a cocaína, de sobremesa.
Não, meu caro, a revolução é cultural, é dos povos latinoamericanos e, sem ser profeta, eu profetizo que, num futuro muito próximo, a chegada de Colombo, Vespúcio e Cabral até o fim do formato “império”, para breve, muito breve, ainda em nossos dias – se Deus quiser, oh, bom Deus! –, se tornará apenas o penúltimo capítulo de uma longa, muito longa e revolucionária história. Cujo início, se não se perdeu de todo na noite dos tempos, nós haveremos de encontrá-lo em épocas, senão mais remotas, tão remotas quanto àquelas que deram início às civilizações asiáticas, indianas e africanas.
O nosso papel, que no formato “império” é o de intelectuais marginais, assume importância capital nesta revolução. Já está em processo na Venezuela, em Cuba, na Bolívia, no Equador, na Nicarágua, na Argentina, com maior ou menor avanço, só no Brasil é que não avança. Naqueles países os marginais contribuem inegavelmente para abrir os olhos e as mentes da mulher e do homem do povo. Estes, ao conhecerem o formato “verdade”, se assustam menos com o formato “império” em si, pois passam a entender a sua existência e a serviço de quê e quem está, do que com o fato de terem acreditado nele alguma vez.
Não somos muitos, mas, como a nossa munição é melhor, mais poderosa e muito mais perene que a do inimigo, acho que somos bastante para por abaixo o velho formato e introduzir um novo, completamente novo processo de informação e conhecimento para o povo brasileiro, que já clama por ele e, mesmo sem ele, avança de qualquer jeito. É por isso que, apesar do monopólio absoluto do formato “império” no Brasil, Lula continua forte até que apareça coisa melhor. Para pior, não, de modo algum! O povo não quer dar um passo atrás, somos nós é que temos de dar pelo menos dois passos à frente, isto sim! E é prá já!
Sinto que está chegando o momento de, enfim, degustarmos juntos o almejado farnel: branquinha de primeira, queijo de Minas integral e íntegro e um goiano legítimo, daquele que, bem enrolado e bem tragado, leva longe o pensamento.
Abraços
Mario Drumond
Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com)
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