Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio 66 (8/10/2008)

“Estão acabando com a nossa alegria.”

É verso da sambista Dona Elisa, de um novo samba que ela compôs em protesto contra o despejo da Escola de Samba Cidade Jardim. É, porém, um protesto que pode ir muito mais além. Desde há muito tempo, os nossos sucessivos governos subalternos às carrancas sofridas do Império vão, aos poucos, desmontando as bases culturais que faziam a alegria do povo brasileiro.

Uma das primeiras vítimas foi o futebol, aquele do saudoso Garrincha, a alegria do povo. Outra foi o Carnaval, hoje reduzido a evento turístico e a macumba pra turista rico; o povo fica vendo pela TV, que tristeza que dá na gente... Parece uma perseguição; na verdade é uma perseguição mesmo: perseguem o cigarro de palha, o caporal honesto, a cachacinha da boa, o samba e até a cervejota no boteco da esquina, na fim da tardinha preguiçosa. Aliás, cadê o boteco da esquina, com a cerveja gelada e o PF no jeito? Acabaram, viraram self-service, fast-food, barzinhos chiques e outras chateações mórbidas e barulhentas.

Em compensação, ninguém liga pras baforadas pretas dos ônibus, dos caminhões, dos automóveis, das 4x4 e das motos estridentes, verdadeiros peidos urbanos metralhados nas narinas indefesas dos pedestres em toda parte o tempo todo. Tudo bem, é puro CO2, veneno de primeira e que mata de verdade, fora o banho de óleo diesel queimado e de graça na nossa pele morena e bronzeada. Liberadíssimas também são as drogas “legais”, desde as mais baratas até as mais caras, vendidas com ou sem receita médica nas boas farmácias e cadeias de drogarias. Os flagelos do crack e da cocaína ficam para a “Seção de Polícia”, coisa de gentinha, drogas de cadeias, não devem nos preocupar e nem são problemas de gente civilizada.

Agora, vão pondo fim na chamada “Festa da Democracia”. Interrompida nos tempos da ditadura, voltou com força total na “anistia” e balançou as roseiras na década de 80. Depois foi murchando, murchando... até o enterro que vimos no domingo passado. Eleitores indo para as urnas como se tivessem indo a um cartório fazer uma cópia autenticada ou reconhecer a firma. Iam, votavam, pegavam o papelinho e voltavam pra casa jururus e de cabeça baixa. Pobre brasileiro, triste Brasil.

Se o leitor acha que é saudosismo, acertou. A alegria dá uma saudade danada na gente.


Edis de quarta geração

Preto do Sacolão, Ratinho da Prefeitura, Cheta da Bicicletaria, Zeca da Locadora, Zézé (com dois acentos mesmo) Secretária do Dr. Boaventura, Guinho, Marcos da Santa Casa, “O Vibrante”, Edinho do Açougue, Paulinho Motorista, Bispo Chambarelle, Balbino da Ambulância, “Sapão”, Itamar do Sindibel, Adão do Samu, Roney da Casa de Apoio, Tôcha, Pracatá da Cemig, Aninha de Fizica, Groselha, Domingos do Inss, Binga, Egnaldinho do Restôrante, Prego, João da Madalena, Roberto Cínico, Zé do Chefe, Ferruge, Tulio Pára Bala, Edinho do Som, Zé Rulinha, Chapisco, Helena da Copasa, Maninho de Dó, Varmi, Doce Veneno, Ana do Padre Frederico, etc e tal, são os nomes de alguns vereadores eleitos colhidos aleatoriamente no site do TRE-MG pela Gazeta. Nada contra esses legítimos representantes do povo nem contra o uso do apelido ou do “nome de guerra” na batalha das urnas (ou da grana pública). Mas, como diz o meu amigo Elyseu Visconti: “Vamos com calma! Vamos com calma!”


Coluna Social (ou de interesse próprio)

Nos jornais a tal “Coluna Social” nunca teve nada a ver com os “movimentos sociais” ou com os interesses da sociedade. O que eles chamam de “sociedade” são os amigo$ do colunista que pagam para divulgar o que lhes é de interesse próprio. A Gazeta é completamente diferente: apesar de manter a tradicional retranca (Coluna Social), nela não há a pecúnia, e a coluna só publica o que é de interesse do próprio gazeteiro. Seguem-se duas notas, para exemplo:

Dia 25 de outubro tem o lançamento do livro Biologia da Libertação: ciência, diversidade e responsabilidade (Organizador: Beto Vianna; Mazza Edições, BH, 2008), no Café da Travessa Livraria (Rua Pernambuco, 1.286, Savassi, BH). O livro reúne 19 autores - biólogos, antropólogos, psicólogos, lingüistas, filósofos, jornalistas, estudantes e artistas - de sete países, discutindo as muitas faces do universo biológico-político. O evento começa às 10h da manhã. Apareça, coma uns quitutes e leve sua Libertação para casa. (A Gazeta informa: um dos 19 autores é o próprio gazeteiro).

Rodrigo Leste está em Caracas para contatos com editores, políticos, artistas e quem mais que tenha a ver com a Revolução Bolivariana. A idéia é fazer uma ponte cultural entre a turma da pesada de lá e a turma da pesada daqui. Vai muito bem indicado pelo escritor e tradutor Eliseo Escobar (venezuelano que mora no Rio e é amigo do nosso querido companheiro Gilberto Felisberto Vasconcellos), que passou a ele dicas e orientações da melhor qualidade. Leva o seu premiado poema A Infernização do Paraíso (divulgado em primeira mão pela Gazeta) para ser traduzido e, se der tudo certo, publicá-lo lá. Com os mesmos objetivos, Rodrigo leva também o inédito Gloria al Bravo Pueblo – A Guerra Midiática na Venezuela, de autoria deste gazeteiro.


Não perdi meu voto

Este gazeteiro ficou muito orgulhoso com os 2.821 votos obtidos por Yé Borges nesta eleição, numa campanha zero-oitocentos de boca-a-boca. É muito voto dado numa boa, por pura fé no candidato e sem interesse pessoal nenhum. Igualmente, o orgulharam os 42.812 votos dados a Sérgio Miranda, apesar da campanha equivocada em que o candidato se meteu. A Gazeta cumpriu o seu papel: criticou e malhou o programa logo no comecinho, e disse na lata o que poderia ser feito. Mas quem seguiu o conselho (tendo ou não lido a Gazeta) foi o candidato Leonardo Quintão. No meio da campanha, ele dispensou o marqueteiro e as mentiradas de vender sabonete, e tratou de falar a verdade de frente e no olho do eleitor. Se deu bem e foi para o segundo turno, coisa que nem ele esperava. Imaginem se fosse o Sérgio Miranda que tivesse feito isso?! Estaria lá, pois tem discurso pra dar com pau três vezes nesse Quintão, que, se ficasse no quintão lugar, para ele ainda seria lucro. O que sobrou de positivo é que o resultado pegou no pé dos caciques locais, Aecinho Cunha e Pimentel, que jogaram todas as fichas na vitória no primeiro turno do candidato que escolheram para enfiar goela abaixo do eleitorado. Assim, este gazeteiro considera que não perdeu seu voto por ter votado em Sérgio Miranda e Yé Borges; quem perdeu foi Belo Horizonte.


Meu voto no segundo turno

Contra Aécio Cunha; contra Pimentel; contra Carlos Lacerda; contra Marcio Lacerda; contra o caciquismo; contra o neocoronelismo de município (nem de província é); contra os pseudo-esquerdismos, os petucanismos e todos os udenismos, os velhos e os neos. E não é branco nem nulo, é Leonardo Quintão! Que se há de fazer?


Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com).

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