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Gazeta em forma de e-meio 23 (20/2/2008)

Urso de Lata (ou Urso que late)

O Festival de Cinema de Berlim, que, em décadas passadas, chegou a ser um painel de cinema e cultura de resistência, hoje não passa de mais uma instituição a serviço de políticas, interesses e estratégias neoliberais. Entre tais estratégias está aquela que se vale de signos tradicionalmente revolucionários ou de resistência para sustentar e relevar valores opostos, usurpando cinicamente todo um passado de lutas e de duras conquistas progressistas. São muitos os exemplos. Entre os mais notórios estão os “movimentos estudantis burgueses” que a CIA patrocina em vários países (por seus tentáculos em ONGs, empresas e escolas privadas) para “contestar” governos nacionalistas e progressistas, numa tática institucional e midiática que o Pentágono apelidou de “revolução laranja”.

O certame fílmico de Berlim, tal como diversos outros eventos culturais originalmente concebidos como de protesto e resistência contra o stabilishment - alguns, inclusive, no Brasil -, parece ter se tornado mais um evento “laranja” desde a década passada, ao premiar filmes ideologicamente duvidosos como o brasileiro Central do Brasil, rompendo assim com a radicalidade que predominava no espírito do evento desde os anos 50.

Repete agora a dose com o nosso “polêmico” Tropa de Elite. Presidindo a comissão julgadora que premiou mais este híbrido cinematográfico nascido em berço esplêndido, ninguém menos que Costa-Gravas, um cineasta que enganou muita gente bem intencionada nos anos 70 com umas realizações acadêmicas e insossas que eram muito bem patrocinadas e vendidas como “de esquerda”, “de denúncia”, ou “de protesto” contra ditaduras militares em países de terceiro mundo. Eram travestis ideológicos que denunciavam os métodos – a tortura, os militares, a boçalidade, etc -, mas preservavam as verdadeiras causas e até as justificava subrepticiamente (ou subliminarmente). Historicamente, os filmes daquele cineasta podem ser considerados parte ou cabeça-de-ponte da estratégia “laranja”, destinada a enfraquecer as forças armadas e os redutos nacionalistas dos países-alvo para a aventura neoliberal que então se premeditava nos laboratórios gringos do Dr. Sartana. Os filmes de Costa-Gravas não só são precursores como também foram tão meticulosamente pré-fabricados (para a “revolução laranja”) como Central do Brasil e Tropa de Elite.

Nenhum dos dois “Ursos de Ouro” contribui para a glória do nosso cinema, que não é pequena nem desprezível. Pelo contrário, tratam de confundi-la, de dividi-la, subtraí-la, por triunfos que, em verdade, não são nossos nem da nossa cultura e muito menos do nosso espírito libertário e criador. Não são mais que concessões táticas de primeiro mundo para fomentar o falso orgulho “patriótico” da cachorrada manipulada e seus “movimentos estudantis burgueses”. Aos quais já vão sendo abertos espaços midiáticos plenos para que possam uivar e latir à vontade em comemoração ao triunfo de Berlim, mais ou menos como fazem nas Copas do Mundo, quando ganhamos (só que, no futebol, merecemos).


Amazônia, amazônia – que será de nós?

A Gazeta recebeu e-mail do escritor Rui Nogueira com um texto de autoria de Gélio Fregapani intitulado A Ilha do Amapá, que repasso na íntegra:

“Foi anunciada hoje a contrução de uma ponte sobre o rio Oiapoque, unindo o Amapá à Guiana Francesa. Já está em construção outra ponte, sobre o rio Tacutu, unindo Roraima à República da Guiana (ex-inglesa). Isto faz parte de uma decisão erroneamente adotada pelo governo, de ligar por estrada as capitais dos dois estados mais pressionados pelo estrangeiro às possessões (ostensivas ou disfarçadas) dos países que mais pressionam o Brasil sobre a Amazônia.

“O fato é que o Amapá para nós é uma ilha. Chegar lá, só de barco ou avião, pois é impossível fazer uma ponte na foz do Amazonas. Com essa ponte para a Guiana Francesa, o Estado deixa de ser uma ilha; localizar-se-á em outro continente. Europeu, no caso.
Roraima tem ligação rodoviária com Manaus, mas a ponte no rio Tacutu abrirá mais uma frente de atração para o estrangeiro, anglo-saxão, no caso.

“No tempo do governo militar se ensaiou unir o Amapá a Roraima (Perimetral Norte), que povoaria a fronteira e permitiria o acesso às incríveis jazidas minerais dos campos e serras de Tumucumaque, inacessíveis sem essa estrada. Agora, com uma ligação passando pelo exterior, podemos ter certeza de que a "perimetral norte" jamais será construida. As jazidas continuarão intocadas (exceto as de bauxita que descem pelo rio Trombetas).
Para impedir definitivamente a construção da perimetral norte estão sendo colocadas no caminho duas reservas indigenas; a Wai-Wai e a Tiriós, de índios trazidos da Guiana, pela FAB, a pedido dos Estados Unidos.

“Só para deixar claro: Wai-Wai não é escola de samba, mesmo que o nome pareça. Aliás, pronuncia-se Uai-Uai, pois a Funai teima em usar a pronúncia inglesa. Escreve também Ianomami com Y para que os gringos não leiam como Aianomani.

“Admito que o presidente possa não ter percebido a extensão do "grande jogo" internacional, com sua visão romântica de que as fronteiras seriam para unir e não para separar, mas os assessores precisariam tê-lo alertado. Se não o fizeram, são incapazes ou traidores.

“Se alguém puder fazer algo para evitar esse erro estratégico, é a hora.”



Zeitgeist (com legenda em português)

Vale reservar duas horas para ver:

http://video.google.com/videoplay?docid=-1437724226641382024



Abraços

Mario Drumond


Revisão: Frederico de Oliveira (para quem curte textos bons e bem escritos, recomendo o blog de Frederico – O Apito - no endereço http://www.thetweet.blogspot.com)

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