Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio 15 - Extra 2 (14/11/2007)

É indispensável um curso de educação sobre os media

Michel Collon (1) entrevistado por Grégoire Lalieu (2)


Seria necessário ministrar nas escolas um curso de educação sobre os media?

Acho indispensável, pois os media nos manipulam todos os dias. Eles omitem uma grande parte da realidade. Cada guerra é econômica. Quando se ataca o Afeganistão ou o Iraque é para que as multinacionais se apossem das riquezas e das posições estratégicas daqueles países. E a guerra é acompanhada de uma guerra de informação que manipula a opinião pública com o que chamo de "media-mentiras". É preciso, portanto, que os jovens sejam vacinados contra este gênero de práticas, que eles pudessem compreender por que e como a informação é manipulada.

Como as multinacionais exercem pressão sobre os media?

Os grandes media têm orçamentos comerciais que garantem suas empresas. Eles não podem ir contra os interesses de multinacionais que sustentam-lhes tais orçamentos através de publicidade paga, como, por exemplo, as empresas petrolíferas ou automobilísticas. Estas multinacionais dão golpes sujos no Terceiro Mundo, mas, um media não pode denunciá-las, sob pena de perder boa parte das receitas geradas pela publicidade. A maior parte dos media pertence a grandes grupos financeiros.

Isso tem influência sobre a liberdade de expressão?

Evidentemente. Para possuir uma cadeia de televisão privada é preciso ser multi-milionário. Pense em Berlusconi ou em Rupert Murdoch. Será que um multi-milionário vai informar os pobres de modo objetivo? Nada menos certo! Quando uma multinacional quer meter a mão nas riquezas minerais do Congo ou no petróleo do Oriente Médio, ou da Venezuela, ela entra em conflito de interesses com a população destes países que, se for bem informada, impediria que o dinheiro de tais riquezas partisse para o estrangeiro, e ficasse em seus países para assegurar cuidados de saúde e educação a toda a gente. Portanto, quando deparamos com um conflito, é preciso verificar se nos apresentam as versões das duas partes. E, quase sempre, não temos senão o ponto de vista das multinacionais possuidoras dos media, ou que fazem os media existirem graças ao orçamento publicitário.

Concretamente, como poderia ser um curso de educação sobre os media?

É preciso distinguir entre um verdadeiro curso de educação sobre os media e o que se faz agora, que tem mais a ver mais com campanhas comerciais para que os jovens se tornem consumidores perpétuos de tal ou qual media. Este curso deveria ensinar a analisar as imagens, criticar a informação e ir procurar alhures o que não é dito. Em geral, os media não dizem senão uma parte da realidade e escondem elementos essenciais. Deveria ser um curso interativo e provocador à participação dos jovens, que seriam levados a reagir e a refletir sobre as imagens, a perguntar-se se são elas verdadeiras ou falsas, quem poderia manipulá-las e por que... Uma atividade divertida, que experimentei, consiste em dividir a turma em dois países inimigos. O Iraque e os Estados Unidos, por exemplo. Cada grupo, então, deverá fazer um telejornal destinado a servir a seus próprios interesses. É uma maneira lúdica de apreender as engrenagens de manipulação da informação.

Os media exercem real influência sobre os jovens?

Certamente, ainda que os jovens não sigam forçosamente os jornais televisivos. Os media hoje fazem tudo para investir na Internet e recapturar este público jovem. Por outro lado, a manipulação mediática não se faz unicamente através de telejornais e jornais diários. É preciso saber que, após os atentados do 11 de Setembro, reuniram-se a Casa Branca, o Pentágono e as grandes companhias de Hollywood. Estava em causa a comunicação do governo George W. Bush e a definição dos países inimigos que fariam os papéis de vilões nas grandes produções cinematográficas. As idéias e os interesses das multinacionais e do governo dos EUA são veiculadas em filmes e novelas que condicionam a opinião pública. Neles, o terrorista nunca é estadunidense, quando na verdade são os Estados Unidos que cometem mais atos de terror e crimes de guerra por todo o mundo. Os filmes, as novelas de TV e mesmo a publicidade comercial veiculam toda uma série de valores que condicionam o pensamento. E são ainda mais perniciosos do que um jornal de informação, na medida em que são feitos com muito mais recursos de manipulação audiovisual. A série 24 heures chrono, por exemplo, muito bem feita e palpitante, é produzida para justificar a tortura praticada pelos serviços de espionagem e pela polícia estadunidenses.

Hoje, concretamente, o que um jovem pode fazer para se informar bem?

A Internet oferece numerosas possibilidades para escapar ao monopólio dos grandes media. De início, eu aconselho a olhar, num mesmo dia, os telejornais das diferentes cadeias a fim de constatar que todos eles dizem as mesmas coisas e que escondem as mesmas coisas. É preciso, pois, procurar alhures aquilo que não se encontra nos grandes media. É o que procuro fazer no meu site na Internet, no qual divulgo artigos independentes do mundo inteiro. É preciso estimular os jovens a buscarem a informação independente e não manipulada. Há vários anos que o governo da comunidade francesa (da Bélgica) fala de um curso de educação sobre os media, mas, este projecto ainda não viu a luz.

Sabe por que?

Não. Em todo o caso, um jornal de televisão não se avalia como uma pizza, é preciso refletir no que ele tem por detrás. As autoridades não querem entrar em conflito com as multinacionais. Mas se não se fizer a educação sobre os media de maneira crítica, dando a palavra àqueles que não estão sob o domínio das multinacionais, então não será realmente possível falar de educação. Será apenas formatação.

Que interesse vê no encontro com jovens?

Já encontrei todas as espécies de público, especialmente nas escolas, e os jovens são mais abertos, mais curiosos, mais indignados, quando constatam mentiras e injustiças. Escrevi um livro de educação sobre os media, Attention, médias!, publicado em 1991. Preparo agora uma nova obra, um manual sobre os media, que será mais concreto e mais prático. O objetivo é que possa ser utilizado por professores, jovens, animadores, para desenvolver um sentido crítico sobre os media. Para mim, o público jovem é o público prioritário.

(1) Autor de Monopoly, l'OTAN à la conquête du monde e de Bush: Le cyclone(2) Do Centre des Jeunes Indigo de La Louvière (Bélgica) Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info/ .

Revisão do texto em português: Mario Drumond