Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de carta 1

Caro José,

Inauguro hoje minha “Gazeta em forma de carta”, seguindo os passos do seu “Folhetim”, não enquanto publicação sequenciada de obra de ficção mas, como veículo de opinião, que, para mim, têm sido o aspecto mais atraente de suas sequências folhetinescas. É verdade que sou suspeito nessa opinião por conhecer de antemão os roteiros que você tem publicado. Por outro lado, assim como o Folhetim, a Gazeta em forma de carta é expressão antiga de imprensa e ambas têm em comum o fato de serem obras de um só autor. A Gazeta é ainda mais antiga e pode-se dizer que é o jornalismo em sua mais primitiva manifestação. Eram escritas por pessoas próximas às cortes européias que tinham acesso a fatos e informações de dentro dos palácios e os descreviam “em forma de carta” expedida em tantas cópias quantos fossem os interessados (assinantes) que as encomendavam. No início essas cópias eram feitas à mão, mas o sucesso dessa “mídia” foi se consolidando e logo eram impressas em tipografias, dado o grande o número de assinantes. Assim começou o jornal. O costume veio para as Américas e, no Brasil, as Gazetas em forma de carta começaram a surgir nos fins do Século XVII. Eram escritas à mão pelo menos até 1808, quando enfim, com 350 anos de atraso, tivemos liberdade para estabelecer tipografias.

Em nosso atual ciclo histórico e internético, achei muito boa a sua idéia de retomar um velho formato de comunicação que se extinguiu porque a imprensa tornou-se empresa e a publicação individual, sequencial ou periódica, inviabilizou-se. A internet restaura essa possibilidade e, a meu ver, é uma das características mais revolucionárias que trás no bojo de suas intenções originais capitalistas e reacionárias. Os atuais “blogs” são de certa forma isso também, mas creio que o seu “Folhetim” tem sido mais eficiente como meio de comunicação de fato revolucionário, além de mais direto e mais charmoso. Certos achados do passado não raro funcionam melhor que muitas inovações que, de novo mesmo, só apresentam truques de tecnologia. Além disso, em qualquer forma de comunicação o que mais importa é o núcleo dela, isto é, o pensamento que a produz.

Ainda seguindo uma idéia sua, meu propósito com a Gazeta é o de furar o bloqueio da mídia brasileira e trazer à minha lista de “assinantes” (e às listas destes) alguma informação útil do panorama latino-americano que vêm se transformando no foco mais dedicado de minhas pesquisas pela internet, por onde logrei acesso a meios de comunicação que só por ela podem nos alcançar, mesmo assim com exigências de aparatos de informática, de algum conhecimento da língua de Cervantes e de muita paciência que nem todos podemos ter.

Começo:

CIA tenta magnicídio e golpe de estado na Bolívia

Ontem (sábado, 8/9/2007), a CIA e as oligarquias bolivianas tentaram assassinar Evo Morales e derrubar o governo progressista que vem comandando em favor da imensa maioria que o elegeu presidente do país no final de 2005 (90% da população da Bolívia é indígena e pobre). Só não deu certo porque a inteligência militar boliviana, assessorada pela venezuelana, descobriu a tempo o plano que tinha o nome de “Plan para tumbar el índio de mierda”. Mesmo assim, a coisa ficou preta e parece que só agora (domingo) o país andino retornou à normalidade. Diante do risco que corria Morales, Hugo Chávez teve de levá-lo às pressas para Venezuela, com a desculpa de uns acordos comerciais. O plano previa também a eliminação de outras autoridades e parlamentares ligados a Morales, inclusive o vice-presidente Álvaro Garcia, que tiveram de se esconder e emitir informes de que estavam atuando na clandestinidade.

Os golpistas, disfarçados de “estudantes (de escolas privadas) em manifestação” atacaram com coquetéis molotov e dinamite o prédio da Assembléia Constituinte, que se desenvolve na cidade de Sucre. Uma van carregada com dinamite foi encontrada na rota por onde passaria o carro de Evo Morales, que iria fazer um pronunciamento na Assembléia. Os trabalhos constituintes foram suspensos por um mês. Mercenários e paramilitares foram detidos, junto a policiais golpistas, com armas de grosso calibre e com as instruções do “Plan”.

Sábado à noite, ao receber Evo Morales numa base militar da Venezuela, Hugo Chávez proferiu um violento discurso em cadeia nacional e com transmissão internacional pela TeleSur. Passou um boa descompustura nas elites e oligarquias latino-americanas, “lacaios e cachorros do império”, e acusou a CIA e George Bush como autores do “Plan”.

Hoje, antes de voltar à Bolívia, Morales participou do programa Alô Presidente, que Hugo Chávez protagoniza quase todos os domingos pela TV venezuelana estatal e é o de maior audiência no país, além de invejável audiência por satélite, cabo e internet no mundo inteiro. Dali, os dois presidentes comunicaram às elites e “ao império” que, apesar de serem ambos índios, Evo descendente de Tupac Catari e Hugo de Guaicaipuro, também tinham um “Plan”, só que não iriam revelá-lo.

A presença da CIA na Bolívia e na Venezuela foram denunciadas com fartura de documentos pela advogada norte-americana Eva Golinger. Com intenções descaradamente golpistas e desestabilizadoras, a CIA e o Departamento de Estado dos EUA agem através das embaixadas dos EUA, da tristemente célebre USAID, diversas ONGs, meios de comunicação, partidos de direita e agentes infiltrados. O governo de Hugo Chávez detém uma larga e vitoriosa experiência em neutralizar as perturbações que provocam e tem sabido inclusive utilizá-las no fortalecimento de sua Revolução Bolivariana. Atualmente está transferindo essa “tecnologia” ao pueblo hermano da Bolívia.


Como essa notícia nem triscou na mídia hegemônica nacional (nem na alternativa ou de resistência) achei que era boa para começar e nela me alonguei um pouco mais. Nos próximos números pretendo trabalhar com mais informações e mais concisão.

Abraços

Mario Drumond