Coleção completa por Volume (anual)

Gazeta em forma de e-meio 12 (25/10/2007)

Mad Man

É visível a preocupação dos mais próximos quanto à saúde mental de George Bush. A boataria corre solta. Dizem que em Camp Davi ele anda pelo campo de golfe, com as mãos para trás e falando sozinho, à Napoleão. Quem o ouviu nesses momentos disse que são falas ininteligíveis entremeadas de especulações quanto a nomes de condes e barões que pretende nomear para os reinos de Cuba, Venezuela e Bolívia. Assessores ficam assustados ao ouvi-lo sobre as belezas da reconstrução do Iraque e as virtudes da democracia que lá foi implantada. Agora cismou com a “reconstrução de Cuba”. Teria sido Cuba, destruída? Para ele isso não importa, se não foi, ele manda destruir, pois o que importa “é a reconstrução e a democracia”. Anda fazendo coisas que nunca fez, pegou mania de pôr a mão nas coxas do interlocutor (homem ou mulher) e sussurrar-lhe elogios picantes aos perfumes que usam, ao corte do cabelo, detalhes de roupas, etc. Há rumores de que um antiquário de Washington foi consultado por um funcionário da Casa Branca a respeito de uma lira, do tipo da que Peter Ustinov usou em Quo Vadis, no papel de Nero. Bush está ensaiando seu gran finale, quando incendiará o mundo e tomará o veneno: “- Que grande artista morre comigo!” – dirá, tragicômico, seguindo o velho script. A família tenta disfarçar mas já procura pelo manicômio em que se dará a estréia. Amigos e aliados preparam-se para pular do barco.


Ainda no cinema

Meu filho disse-me que muitos bateram palmas para cenas de tortura na sessão de um filme da moda, que ele foi ver... Que o cineasta irresponsável não pense que as palmas foram para sua “obra”. Eram para os torturadores. Um boçal que aplaude tais coisas nem sabe que é só um filme, ele acha que o que vê na tela aconteceu mesmo. Faz tempo que não vejo filme comercial, devem ter colocado mesinhas nas costas das poltronas, como nos aviões, senão, onde puseram o saco de pipocas e o balde de coca-cola para poderem aplaudir?

“- O mundo é dos boçais!” - dizia, sem parar, ao invadir a Terra, o comandante dos extra-terrestres (Wilson Grey) de um filme do meu saudoso amigo Rogério Sganzerla.

Deu muita discussão minhas últimas notas sobre cinema brasileiro e acho que preciso esclarecer uma coisa. O vocábulo cinema tem hoje um significado diferente daquele a que me acostumei, daí, talvez, a dissintonia. Na minha juventude, o cinema era visto e discutido como obra de arte. Para nós, o “cinemão”, o filme industrial/comercial, de consumo e entretenimento, tinha a mesma importância de uma roda gigante de parque de diversões. Gostava-se na infância e até na adolescência. Na juventude, aguentava-se, pela chance de dar um sarro na namorada durante a sessão (ou giro). Não tenho mais idade para isso.

Mas, não me venham com a lenga-lenga de que o “povão” precisa entender os filmes, que o cinema de autor é coisa de elites intelectuais, e outros clichês que volta e meia retornam a esse papo bizantino. Aqui em BH, junto com o tal “povão”, já enfrentei filas longas, memoráveis, de dobrar quarteirões, para entrar em sala de dois mil lugares (cinco sessões por dia, todos os dias, e os filmes ficavam meses em cartaz em três ou quatro grandes salas) para ver Antonioni, Glauber, Pasolini, Sganzerla, Godard, Cony Campos, Resnais, Walter Lima, Hitchcok, Mauro, Kubrick, Cavalcanti e outros mestres da melhor arte cinematográfica, nacional e importada. Quem nunca entendia o cinema dos mestres eram os babacas das classes altas que estudavam em colégio de padre porque tomavam bomba nos colégios públicos. Parece que agora fazem o que chamam “cinema”.


Os dissociados

Outra das tipologias sociais que agora se destacam na revolução bolivariana da Venezuela, em processo de radicalização, é a dos que eles chamam disociados (de la realidad). Como observei na última gazeta, sobre os “esquálidos”, não são tipologias típicas daquele país. Existem em todos os países da AL, só que dissolvidos no todo social. Porém, o fenômeno venezuelano fez com que se isolassem e se agrupassem em conjuntos bem nítidos, portanto, mais fáceis de serem observados e estudados. O que faz esse gazeteiro é observá-los e sugerir aos competentes a estudá-los, não porque sejam interessantes em si mesmos, mas porque, numa revolução libertária, eles parecem se tornar uma espécie em extinção. E é no “como” isto se dá que este gazeteiro intui o interesse e a substância da matéria do estudo.

Bem diferentes dos esquálidos, em que quase todos pertencem a uma só geração (a minha geração), possuem um tipo físico predominante e são bem preparados intelectualmente, os dissociados fazem uma fauna mais rica, onde, com clareza, se distinguem tipos diversos de gerações distintas, entre os quais se destacam jovens estudantes de escolas particulares (colégios e universidades), solteironas de meia-idade e velhos aposentados. Em geral são feios e emburrados. O que, em princípio, parece comum a todos, é o fato de não precisarem trabalhar, terem as manhãs e/ou as tardes livres, e serem frutos bem acabados da ideologia da mídia hegemônica (o pensamento único ou o não-pensamento).

São incapazes de pronunciar um só parágrafo inteligível, de improviso e com correção gramatical mínima, e, em bando, comportam-se como gado, sem saberem sequer, numa passeata transmitida ao vivo por todos os canais de TV, para onde estão indo e o que vão fazer lá. Não estou fazendo figura de retórica, é famoso na Venezuela o caso de uma jovem que, durante a passeata, foi entrevistada por um repórter. Ao ser perguntada para onde se dirigiam e o que iriam fazer, ela respondeu que não sabia e, sem saber também o que mais dizer, começou a repetir como papagaio a palavra-de-ordem da libertad de expressión.

Os dissociados vem se manifestando isoladamente desde o início do atual governo revolucionário, época em que ganharam este apelido, mas apareceram pela primeira vez, como grupo, em amostra visível, substancial e bem definida, no processo recente do célebre caso RCTV (que era a Globo de lá), em maio passado, no qual a revolução não renovou a concessão daquela rede televisiva para emissão em canal aberto. Chegaram a reunir, então, cerca de 30 mil deles numa passeata contra-revolucionária, na maior amostra até hoje verificada. São organizados e dirigidos por agências de publicidade contratadas pelo Departamento de Estado dos EUA, através de ONGs e veículos de comunicação privados que financiam na Venezuela.

Com a saída de RCTV do sinal aberto, não logram mais reunir, em uma manifestação, nem 1% (um por cento) do maior agrupamento já conseguido de dissociados, o que ficou demonstrado em recente convocação, por parte de 22 organizações de oposição, envolvendo ONGs, veículos privados impressos e eletrônicos e diversos partidos políticos, que, para surpresa das autoridades que destacaram 1.200 policiais para a proteção dos manifestantes, só reuniu cerca de 300 dissociados.

Na terça-feira passada, dia 23, promoveram uma “grande marcha” até a Assembléia Nacional convocada com antecedência de mais de 15 dias, “em protesto contra a atual reforma constitucional em direção ao socialismo”, que lá se debate. A concentração, numa praça de Caracas, foi um fracasso tal que os partidos políticos, as ONGs e até os veículos privados tiveram de levar contingentes próprios ao local, além de baderneiros profissionais contratados às pressas, para que a passeata enfim se realizasse com cerca de duas mil pessoas. Foi liderada por John Goycochea e Stalin (que ironia!) Gonzalez, dois “líderes” estudantis que, durante as férias, fizeram curso intensivo na CIA de Miami e voltaram ambos vinte quilos mais gordos. Durante a “marcha”, eram os únicos que podiam falar, e mantinham seus celulares permanentemente no ouvido para receber o roteiro e as instruções do “comando central”, isto é, a Agência ARS de Publicidade. Espernearam, chutaram os polícias, berraram e estertoraram sandices pelos microfones dos canais privados e públicos. Foi ridículo. São eles os inimigos que toda revolução pede a Deus.


Bandido errado

As tevês nacionais e as polícias estaduais estão procurando o bandido errado no lugar errado, e metralham favelas de helicópteros. Aqui em Minas, todos conhecemos os três maiores bandidos do estado, e todos sabemos que eles moram em palácios, mansões e condomínios fechados, cercados de guardas armados de metralhadora. Quando não estão em helicópteros ou aviões, transitam em comboios de carros blindados, cheios de seguranças de terno preto e óculos escuros, armados até os dentes.

Seus nomes são Aécio Neves, Eduardo Azeredo e Marcos Valério. O primeiro é governador do Estado, o segundo foi governador e o terceiro quer ser o próximo, se possível. São crias do bandido maior e velho chefe de gang (capo), forjado nas mais célebres escolas de máfias do “milagre” da década de 70, chamado Walfrido dos Mares Guia, atual coordenador político do governo federal e, segundo Adriano Benayon, vínculo principal (testa de ferro) das máfias internacionais e multinacionais atuantes no país.

As organizações que chefiam assaltam, diuturna e sistematicamente, todos os cidadãos do estado e do país, em particular os das faixas mais pobres da população, através de um sem número de tarifas, taxas, impostos abertos ou embutidos e outras cobranças várias (aqui em Minas, além de pagarmos as contas de luz e de água mais altas do mundo, cobra-se até pelo direito a presença de Corpo de Bombeiros em caso de incêndio na residência, e não estou me referindo à já conhecida “taxa de incêndio”), a maioria sem nenhum respaldo legal nem constitucional, uma delas, inclusive, de nome CPMF, consiste num imposto que todo cidadão é obrigado a pagar sempre quando paga qualquer coisa através de conta bancária, até mesmo quando paga outros impostos.

Bem, a dica está dada, é só ir lá, pegar e prender, já que vocês da polícia-TV são fodões, mais que os rambos e chuasnéguers de cinemão, tal como nos demonstraram outro dia ao metralhar pobres e crianças numa favela do Rio. Desta vez, nem haverá necessidade de levar helicóptero e metralhadora, eles não vão resistir à bala mas, à advogado.

Se virem, mexam-se, queremos ver tudo pela televisão.


Abraços

Mario Drumond

P.S. – Frederico de Oliveira, o revisor da Gazeta, está fora do ar (está uma arara, a Cemig, “a melhor energia do Brasil”, queimou seus dois computadores e ainda lhe mandou uma banana quando reclamou). Peço desculpas ao leitor pelos trancos.